sábado, 6 de dezembro de 2008

Trecho do livro Hot Kid, de Elmore Leonard

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Carlos Webster tinha quinze anos no dia em que testemunhou o assalto e assassinato na drogaria Deering's. Aconteceu no outono de 1921, em Okmulgee, Oklahoma.

Contou a Bud Maddox, o chefe de polícia de Okmulgee, que levara algumas vacas para o curral em Tulsa. Já estava escuro quando voltara. Estacionara o caminhão e o reboque das vacas na quando voltara. Estacionara o caminhão e o reboque das vacas na frente do Deering's, mas no outro lado da rua, e entrara para tomar um sorvete na casquinha. Quando identificou um dos assaltantes como Emmett Long, Maddox disse:

- Filho, Emmett Long assalta bancos. Não perde mais tempo com drogarias.

Carlos fora criado no trabalho duro e respeito pelos mais velhos. Foi por isso que disse:

Posso ter me enganado.

Mas ele tinha certeza de que não se enganara. Levaram-no para a chefatura de polícia, no prédio do tribunal, para examinar as fotos. Apontou um dedo para Emmett Long, que o fitava de um cartaz de Procura-se, com a recompensa oferecida de quinhentos dólares. Também identificou o outro, Jim Ray Monks, pelas fotos que tiravam dos criminosos quando eram fichados.

- Tem certeza absoluta, não é?

Bud Maddox também perguntou a Carlos qual dos dois atirara no índio. Referia-se a Junior Harjo, da polícia tribal, que entrara sem saber que a loja estava sendo assaltada.

- Foi Emmett Long quem atirou nele, com um Colt quarenta e cinco - informou Carlos.

- Tem certeza de que era um Colt?

- Um Colt da Marinha, como o de meu pai.

- Eu estava brincando.

Bud Maddox e o pai de Carlos, Virgil Webster, eram amigos. Haviam lutado na Guerra Hispano-Americana, e por alguns anos foram os heróis locais. Mas agora os soldados haviam voltado da França, contando histórias sobre a Grande Guerra que ocorrera ali.

- Se quer saber o que eu acho que aconteceu, Emmett Long só entrou ali para comprar um maço de cigarros - comentou Carlos.

Bud Maddox o deteve.

- Conte tudo, desde o momento em que você entrou na drogaria.

Muito bem. Carlos fora até lá com a intenção de comprar um sorvete na casquinha.

- O sr. Deering estava lá no fundo, aviando receitas. Olhou por aquela janelinha, e disse que eu podia me servir. Fui até o balcão e me servi de duas bolas de sorvete de pêssego, numa casquinha doce. Depois, fui até a charutaria, e deixei uma moeda de cinco centavos ao lado da caixa registradora. Foi quando vi os dois homens entrando, de terno e chapéu. Pensei a princípio que eram vendedores. O sr. Deering pediu que eu atendesse eles, já que conheço a loja muito bem. Emmett Long se aproximou do balcão...

- Sabia desde o início que era ele?

- Só quando chegou perto. Reconheci pelas fotos no jornal. Ele me pediu um maço de Luckies. Entreguei. Ele pegou a moeda que eu tinha deixado ao lado da caixa registradora e me deu dizendo: “Acho que isso dá para pagar o maço.”

- Você disse que o dinheiro era seu?

- Não, senhor.

- Um maço de Luckies não custa quinze centavos?

- Mas eu não disse nada. Acho que foi nesse instante que ele teve a idéia de assaltar a loja. A caixa registradora dando sopa ali, sem ninguém por perto, só eu, segurando a casquinha de sorvete. O sr. Deering não saiu lá dos fundos em momento algum. O outro homem, Jim Ray Monks, queria um tubo de Unguentine. Disse que era para uma brotoeja que o estava incomodando. Entreguei logo, e ele também não pagou. Foi o que Emmett Long disse: “Vamos ver o que tem na caixa registradora.” Expliquei que não sabia como abrir, porque não trabalhava ali. Ele se inclinou por cima do balcão e apontou uma tecla; o homem conhece caixas registradoras e disse: “Aperte este aqui, e a caixa abre.” Foi isso que eu fiz. O sr. Deering deve ter ouvido o barulho da caixa abrindo, porque gritou lá de trás: “Carlos você conseguiu atendê-los?” Emmett Long respondeu, falando alto e usando meu nome. “Carlos está se saindo muito bem.” Em voz baixa, ele mandou que eu entregasse as notas, mas deixasse as moedas.

- Quanto ele levou?

- Não devia ter mais do que trinta dólares.

Carlos pensou por um momento sobre o que acontecera em seguida, a começar por Emmett Long olhando para seu sorvete. Concluiu que era uma questão pessoal, que só interessava a ele e ao famoso assaltante de bancos. Por isso, omitiu o detalhe, e continuou a fazer o relato para Bud Maddox:

- Pus o dinheiro em cima do balcão. Quase tudo era em notas de um dólar. Levantei os olhos...

- Foi nesse momento que Junior Harjo entrou, com um assalto acontecendo - interveio Bud Maddox.

- Isso mesmo, senhor. Mas Junior sabia que era um assalto. Emmet Long estava junto do balcão, de costas para ele, enquanto Jim Ray Monks se servia de sorvete. Como nenhum dos dois havia sacado a arma, duvido muito que Junior tenha percebido que era um assalto. Mas o sr. Deering viu Junior entrar, e gritou que já havia aprontado o remédio da mãe dele. E depois ele disse, bastante alto para todo mundo ouvir: “Ela disse que você tem dado batidas nos alambiques dos índios, à procura de uísque.” E pediu que Junior guardasse uma botija para ele quando encontrasse. Não ouvi mais nada, porque as armas apareceram. Emmett Long tirou o Colt de dentro do paletó...Acho que ele só precisava ver o distintivo de Junior e a arma no coldre na cintura. Era o suficiente. Emmett Long atirou nele. Sabia que bastava uma única bala do Colt para fazer o serviço, mas adiantou-se e atirou de novo, com o corpo já estendido no chão.

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