terça-feira, 31 de maio de 2011

THE HITCHCOCK TRUFFAUT TAPES

ALISA

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THE GLASS MENAGERIE

GM1

“A memória permite inúmeras licenças poéticas. Ela omite alguns detalhes; outros são exagerados, de acordo com o valor emocional envolvido no tema, porque a memória está assentada predominantemente no coração.” Tennessee Williams

UM HOMEM BOM VAI PARA A GUERRA

O GATO PRETO

Edgar Allan Poe

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Não espero nem peço que se dê crédito à história sumamente extraordinária e, no entanto, bastante doméstica que vou narrar. Louco seria eu se esperasse tal coisa, tratando-se de um caso que os meus próprios sentidos se negam a aceitar. Não obstante, não estou louco e, com toda a certeza, não sonho. Mas amanhã morro e, por isso, gostaria, hoje, de aliviar o meu espírito. Meu propósito imediato é apresentar ao mundo, clara e sucintamente, mas sem comentários, uma série de simples acontecimentos domésticos. Devido a suas consequências, tais acontecimentos me aterrorizaram, torturaram e destruíram.
No entanto, não tentarei esclarecê-los. Em mim, quase não produziram outra coisa senão horror - mas, em muitas pessoas, talvez lhes pareçam menos terríveis que grotesco. Talvez, mais tarde, haja alguma inteligência que reduza o meu fantasma a algo comum - uma inteligência mais serena, mais lógica e muito menos excitável do que, a minha, que perceba, nas circunstâncias a que me refiro com terror, nada mais do que uma sucessão comum de causas e efeitos muito naturais.
Desde a infância, tornaram-se patentes a docilidade e o sentido humano de meu caráter. A ternura de meu coração era tão evidente, que me tomava alvo dos gracejos de meus companheiros. Gostava, especialmente, de animais, e meus pais me permitiam possuir grande variedade deles. Passava com eles quase todo o meu tempo, e jamais me sentia tão feliz como quando lhes dava de comer ou os acariciava. Com os anos, aumentou esta peculiaridade de meu caráter e, quando me tomei adulto, fiz dela uma das minhas principais fontes de prazer. Aos que já sentiram afeto por um cão fiel e sagaz, não preciso dar-me ao trabalho de explicar a natureza ou a intensidade da satisfação que se pode ter com isso. Há algo, no amor desinteressado, e capaz de sacrifícios, de um animal, que toca diretamente o coração daqueles que tiveram ocasiões frequentes de comprovar a amizade mesquinha e a frágil fidelidade de um simples homem.
Casei cedo, e tive a sorte de encontrar em minha mulher disposição semelhante à minha. Notando o meu amor pelos animais domésticos, não perdia a oportunidade de arranjar as espécies mais agradáveis de bichos. Tínhamos pássaros, peixes dourados, um cão, coelhos, um macaquinho e um gato.
Este último era um animal extraordinariamente grande e belo, todo negro e de espantosa sagacidade. Ao referir-se à sua inteligência, minha mulher, que, no íntimo de seu coração, era um tanto supersticiosa, fazia frequentes alusões à antiga crença popular de que todos os gatos pretos são feiticeiras disfarçadas. Não que ela se referisse seriamente a isso: menciono o fato apenas porque aconteceu lembrar-me disso neste momento.
Pluto - assim se chamava o gato - era o meu preferido, com o qual eu mais me distraía. Só eu o alimentava, e ele me seguia sempre pela casa. Tinha dificuldade, mesmo, em impedir que me acompanhasse pela rua.
Nossa amizade durou, desse modo, vários anos, durante os quais não só o meu caráter como o meu temperamento - enrubesço ao confessá-lo - sofreram, devido ao demônio da intemperança, uma modificação radical para pior. Tomava-me, dia a dia, mais taciturno, mais irritadiço, mais indiferente aos sentimentos dos outros. Sofria ao empregar linguagem desabrida ao dirigir-me à minha mulher. No fim, cheguei mesmo a tratá-la com violência. Meus animais, certamente, sentiam a mudança operada em meu caráter. Não apenas não lhes dava atenção alguma, como, ainda, os maltratava. Quanto a Pluto, porém, ainda despertava em mim consideração suficiente que me impedia de maltratá-lo, ao passo que não sentia escrúpulo algum em maltratar os coelhos, o macaco e mesmo o cão, quando, por acaso ou afeto, cruzavam em meu caminho. Meu mal, porém, ia tomando conta de mim - que outro mal pode se comparar ao álcool? - e, no fim, até Pluto, que começava agora a envelhecer e, por conseguinte, se tomara um tanto rabugento, até mesmo Pluto começou a sentir os efeitos de meu mau humor.
Certa noite, ao voltar a casa, muito embriagado, de uma de minhas andanças pela cidade, tive a impressão de que o gato evitava a minha presença. Apanhei-o, e ele, assustado ante a minha violência, me feriu a mão, levemente, com os dentes. Uma fúria demoníaca apoderou-se, instantaneamente, de mim. Já não sabia mais o que estava fazendo. Dir-se-ia que, súbito, minha alma abandonara o corpo, e uma perversidade mais do que diabólica, causada pela genebra, fez vibrar todas as fibras de meu ser.Tirei do bolso um canivete, abri-o, agarrei o pobre animal pela garganta e, friamente, arranquei de sua órbita um dos olhos! Enrubesço, estremeço, abraso-me de vergonha, ao referir-me, aqui, a essa abominável atrocidade.
Quando, com a chegada da manhã, voltei à razão - dissipados já os vapores de minha orgia noturna - , experimentei, pelo crime que praticara, um sentimento que era um misto de horror e remorso; mas não passou de um sentimento superficial e equívoco, pois minha alma permaneceu impassível. Mergulhei novamente em excessos, afogando logo no vinho a lembrança do que acontecera.
Entrementes, o gato se restabeleceu, lentamente. A órbita do olho perdido apresentava, é certo, um aspecto horrendo, mas não parecia mais sofrer qualquer dor. Passeava pela casa como de costume, mas, como bem se poderia esperar, fugia, tomado de extremo terror, à minha aproximação. Restava-me ainda o bastante de meu antigo coração para que, a princípio, sofresse com aquela evidente aversão por parte de um animal que, antes, me amara tanto. Mas esse sentimento logo se transformou em irritação. E, então, como para perder-me final e irremissivelmente, surgiu o espírito da perversidade. Desse espírito, a filosofia não toma conhecimento. Não obstante, tão certo como existe minha alma, creio que a perversidade é um dos impulsos primitivos do coração humano - uma das faculdades, ou sentimentos primários, que dirigem o caráter do homem. Quem não se viu, centenas de vezes, a cometer ações vis ou estúpidas, pela única razão de que sabia que não devia cometê-las? Acaso não sentimos uma inclinação constante mesmo quando estamos no melhor do nosso juízo, para violar aquilo que é lei, simplesmente porque a compreendemos como tal? Esse espírito de perversidade, digo eu, foi a causa de minha queda final. O vivo e insondável desejo da alma de atormentar-se a si mesma, de violentar sua própria natureza, de fazer o mal pelo próprio mal, foi o que me levou a continuar e, afinal, a levar a cabo o suplício que infligira ao inofensivo animal. Uma manhã, a sangue frio, meti-lhe um nó corredio em torno do pescoço e enforquei-o no galho de uma árvore. Fi-lo com os olhos cheios de lágrimas, com o coração transbordante do mais amargo remorso. Enforquei-o porque sabia que ele me amara, e porque reconhecia que não me dera motivo algum para que me voltasse contra ele. Enforquei-o porque sabia que estava cometendo um pecado - um pecado mortal que comprometia a minha alma imortal, afastando-a, se é que isso era possível, da misericórdia infinita de um Deus infinitamente misericordioso e infinitamente terrível.
Na noite do dia em que foi cometida essa ação tão cruel, fui despertado pelo grito de "fogo!". As cortinas de minha cama estavam em chamas. Toda a casa ardia. Foi com grande dificuldade que minha mulher, uma criada e eu conseguimos escapar do incêndio. A destruição foi completa. Todos os meus bens terrenos foram tragados pelo fogo, e, desde então, me entreguei ao desespero.
Não pretendo estabelecer relação alguma entre causa e efeito - entre o desastre e a atrocidade por mim cometida. Mas estou descrevendo uma seqüência de fatos, e não desejo omitir nenhum dos elos dessa cadeia de acontecimentos. No dia seguinte ao do incêndio, visitei as ruínas. As paredes, com exceção de uma apenas, tinham desmoronado. Essa única exceção era constituída por um fino tabique interior, situado no meio da casa, junto ao qual se achava a cabeceira de minha cama. O reboco havia, aí, em grande parte, resistido à ação do fogo - coisa que atribuí ao fato de ter sido ele construído recentemente. Densa multidão se reunira em torno dessa parede, e muitas pessoas examinavam, com particular atenção e minuciosidade, uma parte dela, As palavras "estranho!", "singular!", bem como outras expressões semelhantes, despertaram-me a curiosidade. Aproximei-me e vi, como se gravada em baixo-relevo sobre a superfície branca, a figura de um gato gigantesco. A imagem era de uma exatidão verdadeiramente maravilhosa. Havia uma corda em tomo do pescoço do animal.
Logo que vi tal aparição - pois não poderia considerar aquilo como sendo outra coisa - , o assombro e terror que se me apoderaram foram extremos. Mas, finalmente, a reflexão veio em meu auxílio. O gato, lembrei-me, fora enforcado num jardim existente junto à casa. Aos gritos de alarma, o jardim fora imediatamente invadido pela multidão. Alguém deve ter retirado o animal da árvore, lançando-o, através de uma janela aberta, para dentro do meu quarto. Isso foi feito, provavelmente, com a intenção de despertar-me. A queda das outras paredes havia comprimido a vítima de minha crueldade no gesso recentemente colocado sobre a parede que permanecera de pé. A cal do muro, com as chamas e o amoníaco desprendido da carcaça, produzira a imagem tal qual eu agora a via.
Embora isso satisfizesse prontamente minha razão, não conseguia fazer o mesmo, de maneira completa, com minha consciência, pois o surpreendente fato que acabo de descrever não deixou de causar-me, apesar de tudo, profunda impressão. Durante meses, não pude livrar-me do fantasma do gato e, nesse espaço de tempo, nasceu em meu espírito uma espécie de sentimento que parecia remorso, embora não o fosse. Cheguei, mesmo, a lamentar a perda do animal e a procurar, nos sórdidos lugares que então frequentava, outro bichano da mesma espécie e de aparência semelhante que pudesse substituí-lo.
Uma noite, em que me achava sentado, meio aturdido, num antro mais do que infame, tive a atenção despertada, subitamente, por um objeto negro que jazia no alto de um dos enormes barris, de genebra ou rum, que constituíam quase que o único mobiliário do recinto. Fazia já alguns minutos que olhava fixamente o alto do barril, e o que então me surpreendeu foi não ter visto antes o que havia sobre o mesmo. Aproximei-me e toquei-o com a mão. Era um gato preto, enorme - tão grande quanto Pluto - e que, sob todos os aspectos, salvo um, se assemelhava a ele. Pluto não tinha um único pêlo branco em todo o corpo - e o bichano que ali estava possuía uma mancha larga e branca, embora de forma indefinida, a cobrir-lhe quase toda a região do peito.
Ao acariciar-lhe o dorso, ergueu-se imediatamente, ronronando com força e esfregando-se em minha mão, como se a minha atenção lhe causasse prazer. Era, pois, o animal que eu procurava. Apressei-me em propor ao dono a sua aquisição, mas este não manifestou interesse algum pelo felino. Não o conhecia; jamais o vira antes.
Continuei a acariciá-lo e, quando me dispunha a voltar para casa, o animal demonstrou disposição de acompanhar-me. Permiti que o fizesse - detendo-me, de vez em quando, no caminho, para acariciá-lo. Ao chegar, sentiu-se imediatamente à vontade, como se pertencesse a casa, tomando-se, logo, um dos bichanos preferidos de minha mulher.
De minha parte, passei a sentir logo aversão por ele. Acontecia, pois, justamente o contrário do que eu esperava. Mas a verdade é que - não sei como nem por quê - seu evidente amor por mim me desgostava e aborrecia. Lentamente, tais sentimentos de desgosto e fastio se converteram no mais amargo ódio. Evitava o animal. Uma sensação de vergonha, bem como a lembrança da crueldade que praticara, impediam-me de maltratá-lo fisicamente. Durante algumas semanas, não lhe bati nem pratiquei contra ele qualquer violência; mas, aos poucos - muito gradativamente - , passei a sentir por ele inenarrável horror, fugindo, em silêncio, de sua odiosa presença, como se fugisse de uma peste.
Sem dúvida, o que aumentou o meu horror pelo animal foi a descoberta, na manhã do dia seguinte ao que o levei para casa, que, como Pluto, também havia sido privado de um dos olhos. Tal circunstância, porém, apenas contribuiu para que minha mulher sentisse por ele maior carinho, pois, como já disse, era dotada, em alto grau, dessa ternura de sentimentos que constituíra, em outros tempos, um de meus traços principais, bem como fonte de muitos de meus prazeres mais simples e puros.
No entanto, a preferência que o animal demonstrava pela minha pessoa parecia aumentar em razão direta da aversão que sentia por ele. Seguia-me os passos com uma pertinácia que dificilmente poderia fazer com que o leitor compreendesse. Sempre que me sentava, enrodilhava-se embaixo de minha cadeira, ou me saltava ao colo, cobrindo-me com suas odiosas carícias. Se me levantava para andar, metia-se-me entre as pemas e quase me derrubava, ou então, cravando suas longas e afiadas garras em minha roupa, subia por ela até o meu peito. Nessas ocasiões, embora tivesse ímpetos de matá-lo de um golpe, abstinha-me de fazê-lo devido, em parte, à lembrança de meu crime anterior, mas, sobretudo - apresso-me a confessá-lo - , pelo pavor extremo que o animal me despertava.
Esse pavor não era exatamente um pavor de mal físico e, contudo, não saberia defini-lo de outra maneira. Quase me envergonha confessar - sim, mesmo nesta cela de criminoso - , quase me envergonha confessar que o terror e o pânico que o animal me inspirava eram aumentados por uma das mais puras fantasias que se possa imaginar. Minha mulher, mais de uma vez, me chamara a atenção para o aspecto da mancha branca a que já me referi, e que constituía a única diferença visível entre aquele estranho animal e o outro, que eu enforcara. O leitor, decerto, se lembrará de que aquele sinal, embora grande, tinha, a princípio, uma forma bastante indefinida. Mas, lentamente, de maneira quase imperceptível - que a minha imaginação, durante muito tempo, lutou por rejeitar como fantasiosa -, adquirira, por fim, uma nitidez rigorosa de contornos. Era, agora, a imagem de um objeto cuja menção me faz tremer... E, sobretudo por isso, eu o encarava como a um monstro de horror e repugnância, do qual eu, se tivesse coragem, me teria livrado. Era agora, confesso, a imagem de uma coisa odiosa, abominável: a imagem da forca! Oh, lúgubre e terrível máquina de horror e de crime, de agonia e de morte!
Na verdade, naquele momento eu era um miserável - um ser que ia além da própria miséria da humanidade. Era uma besta-fera, cujo irmão fora por mim desdenhosamente destruído... uma besta-fera que se engendrara em mim, homem feito à imagem do Deus Altíssimo. Oh, grande e insuportável infortúnio! Ai de mim! Nem de dia, nem de noite, conheceria jamais a bênção do descanso! Durante o dia, o animal não me deixava a sós um único momento; e, à noite, despertava de hora em hora, tomado do indescritível terror de sentir o hálito quente da coisa sobre o meu rosto, e o seu enorme peso - encarnação de um pesadelo que não podia afastar de mim - pousado eternamente sobre o meu coração!
Sob a pressão de tais tormentos, sucumbiu o pouco que restava em mim de bom. Pensamentos maus converteram-se em meus únicos companheiros - os mais sombrios e os mais perversos dos pensamentos. Minha rabugice habitual se transformou em ódio por todas as coisas e por toda a humanidade - e enquanto eu, agora, me entregava cegamente a súbitos, frequentes e irreprimíveis acessos de cólera, minha mulher - pobre dela! - não se queixava nunca convertendo-se na mais paciente e sofredora das vítimas.
Um dia, acompanhou-me, para ajudar-me numa das tarefas domésticas, até o porão do velho edifício em que nossa pobreza nos obrigava a morar, O gato seguiu-nos e, quase fazendo-me rolar escada abaixo, me exasperou a ponto de perder o juízo. Apanhando uma machadinha e esquecendo o terror pueril que até então contivera minha mão, dirigi ao animal um golpe que teria sido mortal, se atingisse o alvo. Mas minha mulher segurou-me o braço, detendo o golpe. Tomado, então, de fúria demoníaca, livrei o braço do obstáculo que o detinha e cravei-lhe a machadinha no cérebro. Minha mulher caiu morta instantaneamente, sem lançar um gemido.
Realizado o terrível assassínio, procurei, movido por súbita resolução, esconder o corpo. Sabia que não poderia retirá-lo da casa, nem de dia nem de noite, sem correr o risco de ser visto pelos vizinhos.
Ocorreram-me vários planos. Pensei, por um instante, em cortar o corpo em pequenos pedaços e destruí-los por meio do fogo. Resolvi, depois, cavar uma fossa no chão da adega. Em seguida, pensei em atirá-lo ao poço do quintal. Mudei de idéia e decidi metê-lo num caixote, como se fosse uma mercadoria, na forma habitual, fazendo com que um carregador o retirasse da casa. Finalmente, tive uma idéia que me pareceu muito mais prática: resolvi emparedá-lo na adega, como faziam os monges da Idade Média com as suas vítimas.
Aquela adega se prestava muito bem para tal propósito. As paredes não haviam sido construídas com muito cuidado e, pouco antes, haviam sido cobertas, em toda a sua extensão, com um reboco que a umidade impedira de endurecer. Ademais, havia uma saliência numa das paredes, produzida por alguma chaminé ou lareira, que fora tapada para que se assemelhasse ao resto da adega. Não duvidei de que poderia facilmente retirar os tijolos naquele lugar, introduzir o corpo e recolocá-los do mesmo modo, sem que nenhum olhar pudesse descobrir nada que despertasse suspeita.
E não me enganei em meus cálculos. Por meio de uma alavanca, desloquei facilmente os tijolos e tendo depositado o corpo, com cuidado, de encontro à parede interior. Segurei-o nessa posição, até poder recolocar, sem grande esforço, os tijolos em seu lugar, tal como estavam anteriormente. Arranjei cimento, cal e areia e, com toda a precaução possível, preparei uma argamassa que não se podia distinguir da anterior, cobrindo com ela, escrupulosamente, a nova parede. Ao terminar, senti-me satisfeito, pois tudo correra bem. A parede não apresentava o menor sinal de ter sido rebocada. Limpei o chão com o maior cuidado e, lançando o olhar em tomo, disse, de mim para comigo: "Pelo menos aqui, o meu trabalho não foi em vão".
O passo seguinte foi procurar o animal que havia sido a causa de tão grande desgraça, pois resolvera, finalmente, matá-lo. Se, naquele momento, tivesse podido encontrá-lo, não haveria dúvida quanto à sua sorte: mas parece que o esperto animal se alarmara ante a violência de minha cólera, e procurava não aparecer diante de mim enquanto me encontrasse naquele estado de espírito. Impossível descrever ou imaginar o profundo e abençoado alívio que me causava a ausência de tão detestável felino. Não apareceu também durante a noite - e, assim, pela primeira vez, desde sua entrada em casa, consegui dormir tranquila e profundamente. Sim, dormi mesmo com o peso daquele assassínio sobre a minha alma.
Transcorreram o segundo e o terceiro dia - e o meu algoz não apareceu. Pude respirar, novamente, como homem livre. O monstro, aterrorizado fugira para sempre de casa. Não tomaria a vê-lo! Minha felicidade era infinita! A culpa de minha tenebrosa ação pouco me inquietava. Foram feitas algumas investigações, mas respondi prontamente a todas as perguntas. Procedeu-se, também, a uma vistoria em minha casa, mas, naturalmente, nada podia ser descoberto. Eu considerava já como coisa certa a minha felicidade futura.
No quarto dia após o assassinato, uma caravana policial chegou, inesperadamente, a casa, e realizou, de novo, rigorosa investigação. Seguro, no entanto, de que ninguém descobriria jamais o lugar em que eu ocultara o cadáver, não experimentei a menor perturbação. Os policiais pediram-me que os acompanhasse em sua busca. Não deixaram de esquadrinhar um canto sequer da casa. Por fim, pela terceira ou quarta vez, desceram novamente ao porão. Não me alterei o mínimo que fosse. Meu coração batia calmamente, como o de um inocente. Andei por todo o porão, de ponta a ponta. Com os braços cruzados sobre o peito, caminhava, calmamente, de um lado para outro. A polícia estava inteiramente satisfeita e preparava-se para sair. O júbilo que me inundava o coração era forte demais para que pudesse contê-lo. Ardia de desejo de dizer uma palavra, uma única palavra, à guisa de triunfo, e também para tomar duplamente evidente a minha inocência.
- Senhores - disse, por fim, quando os policiais já subiam a escada - , é para mim motivo de grande satisfação haver desfeito qualquer suspeita. Desejo a todos os senhores ótima saúde e um pouco mais de cortesia. Diga-se de passagem, senhores, que esta é uma casa muito bem construída... (Quase não sabia o que dizia, em meu insopitável desejo de falar com naturalidade.) Poderia, mesmo, dizer que é uma casa excelentemente construída. Estas paredes - os senhores já se vão? - , estas paredes são de grande solidez.
Nessa altura, movido por pura e frenética fanfarronada, bati com força, com a bengala que tinha na mão, justamente na parte da parede atrás da qual se achava o corpo da esposa de meu coração.
Que Deus me guarde e livre das garras de Satanás! Mal o eco das batidas mergulhou no silêncio, uma voz me respondeu do fundo da tumba, primeiro com um choro entrecortado e abafado, como os soluços de uma criança; depois, de repente, com um grito prolongado, estridente, contínuo, completamente anormal e inumano. Um uivo, um grito agudo, metade de horror, metade de triunfo, como somente poderia ter surgido do inferno, da garganta dos condenados, em sua agonia, e dos demônios exultantes com a sua condenação.
Quanto aos meus pensamentos, é loucura falar. Sentindo-me desfalecer, cambaleei até à parede oposta. Durante um instante, o grupo de policiais deteve-se na escada, imobilizado pelo terror. Decorrido um momento, doze braços vigorosos atacaram a parede, que caiu por terra. O cadáver, já em adiantado estado de decomposição, e coberto de sangue coagulado, apareceu, ereto, aos olhos dos presentes.
Sobre sua cabeça, com a boca vermelha dilatada e o único olho chamejante, achava-se pousado o animal odioso, cuja astúcia me levou ao assassínio e cuja voz reveladora me entregava ao carrasco.
Eu havia emparedado o monstro dentro da tumba!

Luso poemas.

segunda-feira, 30 de maio de 2011

MISSÃO: IMPOSSIVEL

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Porque os espiões dos anos 1960’s eram os melhores.

JORDAN CAPRI

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VIVA CANGACEIRO

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E os italianos vieram ao Brasil e filmaram um cangaço-spaghetti. Dirigido por Giovanni Fago. E com a nobre presença de Tomas Milian.

Filmes de merda tumblr.

OS BONS LIVROS

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“Todos os bons livros são semelhantes no fato de que são verdadeiros como se tivessem de fato ocorrido e também porque, depois que você termina de lê-los, sente-se como se tudo tivesse acontecido com você mesmo e que, consequentemente, tudo pertence a você; o bem e o mal, o êxtase, o remorso e a tristeza, as pessoas e os lugares e como estava o tempo.” Ernest Hemingway

Blog do Alexandre Pilati.

PATSY GIRLS NIGHT

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A MISSÃO

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Não é apenas a fotografia ou a denúncia ou as interpretações ou o roteiro ou a música ou a direção. É tudo isso e mais. O melhor filme de Roland Joffé.

A BELA

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Eva Green.

CHOCKE

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"Até a pior chupada é melhor do que, digamos, cheirar a melhor rosa ou assistir ao melhor pôr do sol." Sam Rockwel em No Sufoco

domingo, 29 de maio de 2011

TRECHO DE UMA DAS CARTAS DE ANAIS NIN A HENRY MILLER

Anais Nin and Henry Miller - Henry and June Era - Earrings

“Perdemos nosso juízo– para June. Ambos, você e eu, seguiríamos-na até a morte… nestes momentos. Ela destruiu realidade. Ela destruiu a consciência. (Você diz que vc não tem nenhuma – digo que eu não tenho nenhuma , mas isso não é tão verdade sobre nós como é sobre June. Por exemplo: Então considere, por que você é sempre tão pensativo sobre Hugh?

June não é tão perturbada pela verdade. Ela Inventa sua vida e segue em frente – ela não vê nenhuma diferença entre ficção e realidade. Como amamos isso em June – leva sua imaginação seriamente.

Às vezes, você quer seguir June até morte, mas em outros você reage violentamente com uma afirmação vigorosa de sua própria vivência magnífica. Inconscientemente, você tem empurrando-me para dentro da escuridão.

Eu não necessitei muito assim de um empurrão. Uma pequena palavra sua contra a mente… Você entende? Meu ser está sendo dividido ao meio, está desmoronando.

Pensei que minha razão de ser fosse minha mente. Pensei que fosse fácil(ao menos para mim) ser exaltado, viver na linha da vida e da morte como June faz, entregar-se até a morte… a coisa mais dura é parar repentinamente, parar porque alguém apela lamentavelmente a sua razão como a um presente maior.

Eu quis, quando alguém vem pleiteante a mim, entender, lucidamente. O Pouvoir, meio de au de la folie, humaine de redevenir et pitoyable[francês]. Mas a cada dia tenho menos força para fazer tanto. Ele é que tem a coragem de machucar… para grandes razões… ele sempre faz o bem. Isso é June.

Algum dia talvez eu possa compartilhar inteiramente, inteiramente a loucura de June. Questiono minha mente antes que se vá”.

“We have lost our minds – to June. Both you and I would follow her into death… at moments. She has destroyed reality. She has destroyed conscience. (You say you haven’t any – I say I haven’t any, but it is not so true about us as it is about June. Example: Why are you always so thoughtful of Hugh, so considerate?) June is not so bothered by truth. She invents her life as she goes along – she sees no difference between fiction and reality. How we love that in her – she takes the imagination seriously. At moments you want to follow June into death, but at others you react violently with a vigorous assertion of your own magnificent livingness. Unknowingly, you have been pushing me into the darkness. I didn’t need much pushing. One little word from you against mind… Do you understand? My being is breaking up, crumbling. I thought my reason for being was mind. I thought it too easy (at least for me) to be exalted, to live on the edge of death as June does, to give until death… the hardest thing is to stop suddenly, to stop because someone appeals piteously to your reason as to one’s greatest gift. I wanted, when someone turned pleadingly to me, to understand, lucidly. Pouvoir, au milieu de la folie, redevenir humaine et pitoyable. But every day I have less power to do so.
He who has the courage to hurt… for great reasons… he always does good. That is June. Someday I may share June’s madness entirely, entirely. Question my mind before it is gone.”

Wagnerpyter.

PORQUE REENCARNAR

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“Sexo é uma das nove razões para reencarnação. As outras oito não interessam.” Henry Miller

ANGELINI

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sexta-feira, 27 de maio de 2011

O DOUTOR. MORRISON. MOORE

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Para ler, clique na imagem e vá ao Universo Who.

OS VINGADORES DO ESPAÇO

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Série japonesa muito louca.

LUA

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É o que me lembro.

Eu me lembro de Sandro no terraço do prédio em uma noite cheia de fumaça e uma lua oculta sob nuvens que eu também não conseguia ver. Sandro usando um vestido curto e a boca suja do batom de todas aquelas garotas que ele beijara na festa. Sandro com a maquiagem borrada de tanto chorar e reclamando que as meias estavam apertando seu pau.

Sandro olhando para o revólver na minha mão, dizendo “Não foi por mal. É importante para mim que você acredite nisso. Não foi por mal”.

“Eu acredito, Sandro”, eu disse. “Eu acredito. Mas isso não muda nada.”

Ele sorriu. “Eu sei”, disse e virou-se de costas para mim. Provavelmente procurava pela lua. “Eu não quero morrer. Eu não quero morrer. Peça o que quiser, eu faço. Juro que faço.”

“Não o que eu quero.”

Ele virou-se e me encarou. “Qualquer coisa. juro.”

“Você pode trazê-la de volta?.”

Ele me olhou, confuso.

“Achei que não.”, eu disse e ergui a arma.

Atirei no rosto dele . A bala entrou pela boca e saiu na nuca, arrancando dentes, carne, ossos e pele. Sandro caiu de joelhos e ficou me olhando, engasgado por uma baba de sangue, chorando de dor e medo. Uma figura patética, imbecil. Andei até ele e o chutei. Ele caiu, as mãos tentando segurar a boca, trêmulas. Então, atirei de novo. Descarreguei o revólver e tornei a carregá-lo e atirar até que o rosto de Sandro era só uma massa esburacada e irreconhecível.

Depois, fui até a beira do prédio e fiquei esperando me buscarem.

CHILDREN OF MEN

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Belo e instigante.

EUFRAT

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“Sem dúvida, a vida passa a cores. O preto-e-branco, porém, é mais realista”. Samuel Fuller

Cine café.

O VAMPIRO

Charles Baudelaire

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Tu que, como uma punhalada,
Entraste em meu coração triste;
Tu que, forte como manada
De demônios, louca surgiste,

Para no espírito humilhado
Encontrar o leito e o ascendente;
- Infame a que eu estou atado
Tal como o forçado à corrente,

Como ao baralho o jogador,
Como à garrafa o borrachão,
Como os vermes a podridão,
- Maldita sejas, como for!

Implorei ao punhal veloz
Que me concedesse a alforria,
Disse após ao veneno atroz
Que me amparasse a covardia.

Ah! pobre! o veneno e o punhal
disseram-me de ar zombeteiro:
"Ninguém te livrará afinal
De teu maldito cativeiro.

Ah! imbecil - de teu retiro
Se te livrássemos um dia,
Teu beijo ressuscitaria
O cadáver de teu vampiro!"

quinta-feira, 26 de maio de 2011

THOMAS CROWN

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Charmoso. Sedutor. Elegante. A luxúria sutil em um jogo de xadrez.

Doctor insermini.

À ESPERA DOS BÁRBAROS

J. M. Coetzee

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Um trecho:

Capítulo 1

Nunca vi nada assim: dois disquinhos de vidro presos na frente dos olhos dele com aros de arame. Ele é cego? Dava para entender se quisesse esconder olhos cegos. Mas ele não é cego. Os discos são escuros, parecem opacos do lado de fora, mas dá para enxergar através deles. Ele me conta que são uma invenção nova. "Protegem os olhos contra o brilho do sol", diz. "O senhor ia achar bom aqui no deserto. Evitam que fiquemos apertando os olhos o tempo todo. Dá menos dor de cabeça. Olhe." Toca de leve os cantos dos olhos. "Sem rugas." Recoloca os óculos. É verdade. Ele tem a pele de um jovem. "Na minha terra todo mundo usa isto."

Estamos sentados na melhor sala da hospedaria com uma garrafa entre nós e uma tigela de nozes. Não comentamos a razão para ele estar aqui. Ele serve aos poderes de emergência, isso basta. Em vez disso, falamos de caçadas. Ele me conta do último grande giro que deu, quando foram mortos milhares de veados, porcos, ursos, tantos que uma montanha de carcaças teve de ser abandonada a apodrecer ("O que foi uma pena"). Conto dos grandes bandos de gansos e patos que pousam no lago todo ano em suas migrações e dos métodos nativos de capturá-los. Sugiro levá-lo pescar uma noite num barco nativo. "É uma experiência que ninguém pode perder", digo; "o pescador leva tochas acesas e toca tambores em cima da água para atrair os peixes para as redes que colocou." Ele concorda balançando a cabeça. Conta da visita que fez a outro ponto da fronteira, onde as pessoas comem certas cobras como especialidades, e de um imenso antílope que matou.

Desloca-se tateando em meio à mobília estranha, mas não remove os óculos escuros. Retira-se cedo. Está aquartelado aqui na hospedaria porque é a melhor acomodação que a cidade oferece. Fiz os funcionários entenderem que se trata de uma visita importante. "O coronel Joll é da Terceira Divisão", disse-lhes. "A Terceira Divisão é a mais importante da Guarda Civil hoje em dia." Pelo menos é isso que ouvimos nos rumores que nos chegam atrasados da capital. O proprietário faz um gesto de concordância, as camareiras baixam a cabeça. "Ele tem de ficar bem impressionado conosco."

Levo meu colchonete para a plataforma, onde a brisa da noite alivia um pouco o calor. Nos tetos planos da cidade, dá para perceber ao luar outros vultos adormecidos. Debaixo das nogueiras da praça ainda escuto o murmúrio de conversas. No escuro, um cachimbo brilha como um vagalume, esmorece, brilha de novo. O verão está rodando devagar para o fim. Os pomares gemem sob sua carga. Não vou à capital desde que era moço.

Acordo antes do amanhecer, passo na ponta dos pés pelos soldados adormecidos, que estão se mexendo e suspirando, sonhando com mães e namoradas, desço a escada. No céu, milhares de estrelas olham para nós. Na verdade aqui estamos no teto do mundo. Acordar à noite, ao ar livre, é deslumbrante.

O sentinela no portão está sentado de pernas cruzadas e dorme profundamente, aninhando o mosquete. O quartinho do porteiro está fechado, sua carroça parada fora. Eu passo.

"Não temos instalações para prisioneiros", explico. "Aqui não há muito crime, e a pena é sempre uma multa ou trabalho compulsório. Esta cabana é apenas um depósito ligado ao celeiro, como pode ver." Dentro está abafado, com um cheiro forte. Não há janelas. Os dois prisioneiros estão amarrados, no chão. O cheiro vem deles, cheiro de urina velha. Chamo o guarda: "Leve estes homens para se limparem, e depressa, por favor".

Mostro a meu visitante a penumbra fresca do celeiro. "Esperamos três mil alqueires da terra comunal este ano. Plantamos só uma vez. O tempo tem sido muito bom conosco." Falamos de ratos e das maneiras de controlar o número deles. Quando voltamos à cabana, ela cheira a cinza molhada e os prisioneiros estão prontos, ajoelhados num canto. Um deles é um velho, o outro um menino. "Foram presos faz poucos dias", digo. "Houve um ataque a uns trinta quilômetros daqui. O que não é comum. Normalmente eles ficam bem longe do forte. Esses dois foram capturados depois. Dizem que não tiveram nada a ver com o ataque. Eu não sei. Vai ver estão dizendo a verdade. Se o senhor quiser falar com eles, eu, é claro, ajudo com a língua."

O rosto do menino está estufado e ferido, um olho fechado pelo inchaço. Agacho-me diante dele e toco sua face. "Escute, menino", digo no patoá da fronteira, "queremos falar com você."

Ele não responde.

"Está fingindo", diz o guarda. "Ele entende."

"Quem bateu nele?", pergunto.

"Não fui eu", diz ele. "Já estava assim quando chegou."

"Quem bateu em você?", pergunto ao menino.

Ele não está me ouvindo. Olha por cima de meu ombro, não para o guarda, mas para o coronel Joll ao lado dele.

Viro-me para Joll "Ele provavelmente nunca viu nada igual antes." Aponto. "Os óculos, quero dizer. Deve pensar que o senhor é cego." Mas Joll não sorri de volta. Na presença de prisioneiros, ao que parece, é preciso manter uma certa postura.

Agacho-me diante do velho. "Vovô, escute aqui. Trouxemos você para cá porque te pegamos depois de um ataque ao rebanho. Sabe que isso é coisa séria. Sabe que pode ser castigado por isso."

Ele põe a língua para fora para umedecer os lábios. Tem o rosto cinzento e exausto.

"Vovô, está vendo esse cavalheiro? Esse cavalheiro é uma visita da capital. Ele visita todos os fortes da fronteira. O trabalho dele é descobrir a verdade. É só isso que ele faz. Descobre a verdade. Se você não falar comigo, vai ter de falar com ele. Está entendendo?"

"Excelência", diz ele. Sua voz falha; ele limpa a garganta. "Excelência, a gente não sabe nada de roubo. Os soldados pararam a gente e amarraram. Por nada. A gente estava na estrada, estava indo ver o médico. Este é o menino da minha irmã. Ele está com uma ferida que não sara. A gente não é ladrão. Mostre a ferida para as Excelências."

Esperto, com mãos e dentes o menino começa a desenrolar os trapos que envolvem seu antebraço. A última volta, dura de sangue e pus, está grudada na pele, mas ele levanta a beirada para me mostrar a borda vermelho-vivo da ferida.

"Tá vendo?", diz o velho, "nada cura isso aí. Eu estava levando ele no médico quando os soldados pararam a gente. Só isso."

Retorno com meu visitante para o outro lado da praça. Três mulheres passam por nós, voltando do dique de irrigação com cestos de roupa na cabeça. Olham-nos com curiosidade, mantendo o pescoço rijo. O sol castiga.

"São os primeiros prisioneiros que fazemos em muito tempo", digo. "Uma coincidência: normalmente não teríamos nenhum bárbaro para mostrar ao senhor. Isso que chamam de banditismo não é coisa grande. Eles roubam uns carneiros ou retiram uma besta de carga de uma tropa. Às vezes, damos o troco. São quase todos gente de tribo pobre com uns rebanhos minúsculos na beira do rio, para sua própria subsistência. Vira um modo de vida. O velho diz que estavam indo ao médico. Pode ser verdade. Ninguém levaria um velho e um menino doente num grupo de ataque."

Tomo consciência de que estou falando em favor deles.

"Claro que não dá para ter certeza. Mas, mesmo que estejam mentindo, que utilidade eles têm para o senhor, gente simples assim?"

Tento controlar minha irritação com seus silêncios crípticos, com o bobo mistério teatral dos escudos escuros que escondem olhos saudáveis. Ele caminha com as mãos entrelaçadas diante do corpo como uma mulher.

"Mesmo assim", diz, "tenho de interrogar os dois. Hoje à noite, se for conveniente. Vou levar meu assistente comigo. Vou precisar também de alguém que me ajude com a língua. O guarda, talvez. Ele fala a língua deles?"

"Nós todos nos fazemos entender. Prefere que eu não esteja lá?"

"O senhor ia achar maçante. Temos procedimentos preestabelecidos a obedecer."

Dos gritos que as pessoas afirmam ter ouvido do celeiro depois, eu não ouço nada. A cada momento daquela noite, enquanto faço o que tenho de fazer, estou alerta para o que possa estar acontecendo, e meu ouvido está até sintonizado para o tom de dor humana. Mas o celeiro é um edifício sólido com portas pesadas e janelas minúsculas; fica além do abatedouro e do moinho no lado sul. Além disso, o que foi um dia um posto avançado e depois um forte na fronteira cresceu até se tornar um assentamento agrícola, uma cidade de três mil almas onde o barulho da vida, o barulho que todas essas almas fazem numa noite quente de verão, não cessa porque em algum lugar alguém está gritando. (A certo ponto, começo a defender minha própria causa.)

Quando vejo o coronel Joll de novo, quando ele tem tempo, puxo o assunto tortura. "E se o prisioneiro estiver dizendo a verdade", pergunto, "mas descobre que não acreditam nele? Não é uma situação terrível? Imagine: estar preparado para ceder, ceder, não ter mais nada a ceder, estar quebrado, e ser pressionado a ceder mais! E que responsabilidade para o interrogador! Como o senhor pode ter certeza de que um homem disse a verdade?"

"Há um certo tom", Joll diz. "Um certo tom que aparece na voz de um homem que está dizendo a verdade. Treino e experiência ensinam a reconhecer esse tom."

"O tom da verdade! Dá para perceber esse tom na conversa de todo dia? O senhor consegue escutar quando eu estou dizendo a verdade?"

É o momento mais íntimo que tivemos até agora, o qual ele afasta com um pequeno aceno de mão. "Não, o senhor está me entendendo mal. Estou falando de uma situação especial apenas, estou falando de uma situação em que estou procurando a verdade, em que tenho de exercer pressão para descobrir a verdade. Primeiro eu consigo mentiras, entende—é isso que acontece—, primeiro mentiras, depois pressão, depois mais mentiras, depois mais pressão, depois a quebra, depois mais pressão, depois a verdade. É assim que se consegue a verdade."

A dor é a verdade; tudo o mais está sujeito a dúvida. É isso que concluo de minha conversa com o coronel Joll, a quem, com suas unhas que tamborilam, os lenços roxos, os pés finos em sapatos macios, fico imaginando de volta à capital pela qual ele está obviamente tão impaciente, cochichando com os amigos nos corredores do teatro entre os atos.

(Por outro lado, quem sou eu para afirmar minha distância dele? Bebo com ele, como com ele, mostro-lhe os lugares, presto-lhe toda a assistência que a carta de comissionamento dele requer, e mais. O Império não exige que seus súditos amem uns aos outros, simplesmente que cumpram seu dever.)

A FERA

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Hunter S. Thompson

quarta-feira, 25 de maio de 2011

NÃO ENTRE EM PÂNICO

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QUANDO O UNIVERSO FOI CRIADO

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A IMPORTÂNCIA DA TOALHA

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A toalha é um dos objetos mais úteis para um mochileiro interestelar. Em parte devido a seu valor prático: você pode usar a toalha como agasalho quando atravessar as frias luas de Beta de Jagla; pode deitar-se sobre ela nas reluzentes praias de areia marmórea de Santragino V, respirando os inebriantes vapores marítimos; você pode dormir debaixo dela sob as estrelas que brilham avermelhadas no mundo desértico de Kakrafoon. Pode usá-la como vela para descer numa mini jangada as águas lentas do rio Moth.
Pode umedecê-la e utilizá-la para lutar em combate corpo a corpo; enrolá-la em torno da cabeça para proteger-se de emanações tóxicas ou para evitar o olhar da Terrível Besta Voraz de Traal (um animal estonteantemente burro, que acha que, se você não pode vê-lo, ele também não pode ver você – estúpido feito uma anta, mas muito, muito voraz). Você pode agitar a toalha em situações de emergência para pedir socorro. E naturalmente pode usá-la para enxugar-se com ela se ainda estiver razoavelmente limpa.
Porém o mais importante é o imenso valor psicológico da toalha. Por algum motivo, quando um estrito (isto é, um não-mochileiro) descobre que um mochileiro tem uma toalha, ele automaticamente conclui que ele tem também escova de dentes, esponja, sabonete, lata de biscoitos, garrafinha de aguardente, bússola, mapa, barbante, repelente, capa de chuva, traje espacial, etc., etc.
Além disso, o estrito terá prazer em emprestar ao mochileiro qualquer um desses objetos, ou muitos outros, que o mochileiro por acaso tenha “acidentalmente perdido”. O que o estrito vai pensar é que, se um sujeito é capaz de rodar por toda a Galáxia, acampar, pedir carona, lutar contra terríveis obstáculos, dar a volta por cima e ainda assim saber onde está sua toalha, esse sujeito claramente merece respeito.

Douglas Adams

Garotas geeks.

PRATICAMENTE INOFENSIVA

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A história da Galáxia ficou meio confusa por vários motivos: em parte porque aqueles que tentavam acompanhá-la ficaram meio confusos, mas também porque coisas incrivelmente confusas aconteceram de fato.

Um dos problemas tem a ver com a velocidade da luz e com as dificuldades encontradas em tentar ultrapassá-la. Não dá. Nada viaja mais rápido do que a velocidade da luz, com exceção talvez das más notícias, que obedecem a leis próprias e especiais.Os Hingefreel de Arkintoofle Menor bem que tentaram construir naves espaciais movidas a más notícias, mas elas não funcionavam particularmente bem e, como eram extremamente mal recebidas sempre que chegavam a algum lugar, não fazia o menor sentido estar lá.

Douglas Adams

ATÉ MAIS E OBRIGADO PELOS PEIXES

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Oito horas a oeste, um homem sozinho estava sentado em uma praia, lamentando uma perda inexplicável. Só conseguia refletir sobre essa perda em pequenos pacotes de dor um de cada vez, porque se pensasse na coisa toda seria grande demais para suportar.
Observava as grandes e lentas ondas do Pacífico avançando pela areia e esperava e esperava pelo nada que sabia que estava prestes a acontecer. Quando chegou a hora de nada não acontecer, realmente nada não acontecia e assim a tarde se consumia e o sol descia por trás da longa linha do mar e o dia chegava ao fim.
A praia era uma praia cujo nome não vamos citar, porque era onde ficava a sua casa particular, mas era uma pequena faixa arenosa dentre as centenas de milhas do litoral que parte de Los Angeles rumo ao oeste - o mesmo que é descrito em um verbete da nova edição do Guia do Mochileiro das Galáxias como "enlodada, enlameada, emporcalhada, embostada e mais aquela outra palavra que esqueci, além de várias outras coisas ruins", e em outro, escrito poucas horas depois, como "parecido com milhares de milhas quadradas de impressos de marketing do American Express, mas sem mesmo sentido de profundidade moral. E, além disso, por algum motivo o ar é amarelo".
O litoral estende-se pelo oeste, depois faz uma curva em direção ao norte até a nevoenta baía de São Francisco, que o Guia descreve como "um bom lugar para ir. É fácil acreditar que todo mundo que você encontra por lá também é um espacial. Fundar uma nova religião para você é a a que eles usam para dizer 'oi'. Até que você esteja inslado e tenha dominado a manha do lugar é melhor dizer não para três de cada quatro perguntas que lhe fizerem, porque existem coisas estranhíssimas acontecendo por lá e muitas podem ser letais para um alienígena desprevenido". As centenas de milhas sinuosas de penhascos e areia, palmeiras, arrebentações e entardeceres são descritas no Guia como "Impressionante. Mesmo".
E em algum lugar neste longo trecho de litoral ficava a casa desse homem inconsolável, um homem que muitos achavam ser louco. Mas apenas porque, dizia ele às pessoas, ele era louco mesmo.
Um das inúmeras razões pela qual as pessoas achavam que ele era louco era a peculiaridade da sua casa, que, mesmo em uma terra onde a maioria das casas era peculiar de uma maneira ou de outra, era bastante radical em sua peculiaridade.
A sua casa se chamava O Exterior do Asilo. O seu nome era simplesmente John Watson, embora ele preferisse ser chamado - e alguns dos seus amigos haviam relutantemente concordado com isso agora - de
Wonko, o São. Na sua casa havia várias coisas estranhas, incluindo um aquário de vidro acinzentado com seis palavras gravadas nele.
Podemos falar sobre ele bem mais tarde - esse foi apenas interlúdio para apreciar o pôr do sol e para dizer que ele estava lá, apreciando-o também.
Perdera tudo o que mais amava e agora estava simplesmente esperando o fim do mundo - sem saber que já tinha chegado e passado.

Douglas Adams

A VIDA, O UNIVERSO E TUDO MAIS

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- Quero ouvir seu discurso – respondeu o colchão.

- Eis o que eu disse. Disse: “Gostaria de dizer que é um grande prazer, uma enorme honra, e um privilégio para mim inaugurar esta ponte, mas não posso fazer isso porque todos os meus circuitos de falsidade estão fora de ação. Eu odeio e desprezo todos vocês. A partir deste momento, declaro esta miserável ciberestrutura aberta aos abusos inimagináveis de todos aqueles que irão petulantemente cruzá-la.

Douglas Adams

O RESTAURANTE NO FIM DO UNIVERSO

Douglas Noël Adams - Série O Guia do Mochileiro das Galáxias - 02 - O Restaurante no Fim do Universo

Um imenso animal leiteiro aproximou-se da mesa de Zaphod Beeblebrox. Era um enorme e gordo quadrúpede do tipo bovino, com grandes olhos protuberantes, chifres pequenos e um sorriso nos lábios que era quase simpático.

- Boa noite – abaixou-se e sentou-se pesadamente sobre suas ancas -, sou o Prato do Dia. Posso sugerir-lhes algumas partes do meu corpo? – Grunhiu um pouco, remexeu seus quartos traseiros buscando uma posição mais confortável e olhou pacificamente para eles.

Seu olhar se deparou com olhares de total perplexidade de Arthur e Trillian, uma certa indiferença de Ford Prefect e a fome desesperada de Zaphod Beeblebrox.

- Alguma parte do ombro talvez? – sugeriu o animal. – Um guisado com molho de vinho branco?

- Ahn, do seu ombro? – Disse Arthur, sussurrando horrorizado.

- Naturalmente que é do meu ombro, senhor – mugiu o animal, satisfeito -, só tenho o meu para oferecer.

Zaphod levantou-se de um salto e pôs-se a apalpar e sentir os ombros do animal, apreciando.

- Ou a alcatra, que também é muito boa – murmurou o animal. – Tenho feito exercícios e comido cereais, de forma que há bastante carne boa ali. – Deu um grunhido brando e começou a ruminar. Engoliu mais uma vez o bolo alimentar. – Ou um ensopado de mim, quem sabe? – acrescentou.

- Você quer dizer que este animal realmente quer que a gente o coma? – cochichou Trillian para Ford.

- Eu? – disse Ford com um olhar vidrado. – Eu não quero dizer nada.

- Isso é absolutamente horrível – exclamou Arthur -, a coisa mais repugnante que já ouvi.

- Qual é o problema, terráqueo? – disse Zaphos, que agora observava atentamente o enorme traseiro do animal.

- Eu simplesmente não quero comer um animal que está na minha frente se oferecendo para ser morto – disse Arthur. – É cruel!

- Melhor do que comer um animal que não deseja ser comido – disse Zaphod.

- Não é essa a questão – protestou Arthur. Depois pensou um pouco a respeito. – Está bem – disse -, talvez essa seja a questão. Não me importa, não vou pensar nisso agora. Eu só… ahn…

O Universo enfurecia-se em espasmos mortais.

- Acho que vou pedir uma salada – murmurou.

- Posso sugerir que o senhor pense na hipótese de comer o meu fígado? Deve estar saboroso e macio agora, eu mesmo tenho me mantido em alimentação forçada há meses.

- Uma salada verde – disse Arthur, decididamente.

- Uma salada? – disse o animal, lançando um olhar de recriminação para ele.

- Você vai me dizer – disse Arthur – que eu não deveria comer uma salada?

- Bem – disse o animal -, conheço muitos legumes que têm um ponto de vista muito forte a esse respeito. E é por isso, aliás, que por fim decidiram resolver de uma vez por todas essa questão complexa e criaram um animal que realmente quisesse ser comido o que fosse capaz de dizê-lo em alto e bom tom. Aqui estou eu!

Conseguiu inclinar-se ligeiramente, fazendo uma leve saudação.

- Um copo d’água, por favor – disse Arthur.

- Olha – disse Zaphod -, nós queremos comer, não queremos uma discussão. Quatro filés malpassados, e depressa. Faz 576 bilhões de anos que não comemos.

O animal levantou-se. Deu um grunhido brando.

- Uma escolha muito acertada, senhor, se me permite. Muito bem – disse -, agora é só eu sair e me matar.

Voltou-se para Arthur e deu uma piscadela amigável.

- Não se preocupe, senhor, farei isso com bastante humanidade.

Encaminhou-se gingando para a cozinha.

Pouco tempo depois o garçom aparece com quatro enormes filés fumegantes. Zaphod e Ford avançaram sobre ele sem pensar duas vezes. Trillian pensou, sacudiu os ombros e se serviu.

Arthur olhou para o céu, sentindo-se levemente enjoado.

- Ei, terráqueo – disse Zaphod, com um sorriso malicioso na boca que não estava se empanturrando -, que bicho te mordeu?

E a banda continuava tocando.

Douglas Adams

O GUIA DO MOCHILEIRO DAS GALÁXIAS

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O Guia do Mochileiro das Galáxias – um livro que não é da Terra, jamais foi publicado na Terra e, até o dia em que ocorreu a terrível catástrofe, nenhum terráqueo jamais o tinha visto ou sequer ouvido falar dele. Apesar disso, é um livro realmente extraordinário. Na verdade, foi provavelmente o mais extraordinário dos livros publicados pelas grandes editoras de Ursa Menor – editoras das quais nenhum terráqueo jamais ouvira falar, também.

O livro é não apenas uma obra extraordinária como também um tremendo bestseller -  mais popular que a Enciclopédia Celestial do Lar, mais vendido que Mais Cinqüenta e Três Coisas para se Fazer em Gravidade Zero, e mais polêmico que a colossal trilogia filosófica de Oolonn Colluphid, Onde Deus Errou, Mais Alguns Grandes Erros de Deus e Quem É Esse Tal de Deus Afinal?

Em muitas das civilizações mais tranqüilonas da Borda Oriental da Galáxia, O Guia do Mochileiro das Galáxias já substituiu a grande Enciclopédia Galáctica como repositório-padrão de todo conhecimento e sabedoria, pois ainda que contenha muitas omissões e textos apócrifos, ou pelo menos terrivelmente incorretos, ele é superior à obra mais antiga e mais prosaica em dois aspectos importantes. Em primeiro lugar, é ligeiramente mais barato; em segundo lugar, traz impressa na capa, em letras garrafais e amigáveis, a frase NÃO ENTRE EM PÂNICO.

Douglas Adams

ZERO

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Sabe-se que há um número infinito de mundos, simplesmente porque há um espaço infinito para que os haja. Todavia, nem todos são habitados. Assim,deve haver um número finito de mundos habitados. Qualquer número finito dividido pelo infinito é tão perto de zero que não faz diferença, de forma que a população de todos os planetas do Universo pode ser considerada igual a zero. Daí segue que a população de todo o Universo também é zero, e que quaisquer pessoas que você possa encontrar de vez em quando são meramente produtos de uma imaginação perturbada.

Douglas Adams

IR, ESTAR

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Eu posso não ter ido para onde eu pretendia ir, mas eu acho que acabei terminando onde eu pretendia estar.

Douglas Adams

DON’T PANIC

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Há uma teoria que indica que sempre que qualquer um descobrir exatamente o que, para que e porque o universo está aqui, o mesmo desaparecerá e será substituído imediatamente por algo ainda mais bizarro e inexplicável... Há uma outra teoria que indica que isto já aconteceu.

Douglas Adams

HOJE É O DIA DA TOALHA

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Humans think they are smarter than dolphins because we build cars and buildings and start wars etc…and all that dolphins do is swim in the water, eat fish and play around. Dolphins believe that they are smarter for exactly the same reasons.

Douglas Adams

O DIA DA TOALHA

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A ciência conseguiu algumas coisas fantásticas, não vou negar, mas acho mais importante estar feliz do que estar certo.

Douglas Adams

terça-feira, 24 de maio de 2011

TUDO ACONTECE

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Anything that happens, happens.
Anything that, in happening, causes something else to happen, causes something else to happen.
Anything that, in happening, causes itself to happen again, happens again.
It doesn’t necessarily do it in chronological order, though.

Douglas Adams

Don’t Panic.