sábado, 20 de dezembro de 2008

"O Esquadrão Guilhotina" e "Um Doce Aroma de Morte", de Guillermo Arriaga

Leia trechos dos livros:

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"O ESQUADRÃO GUILHOTINA"


Velasco suspirou fundo e satisfeito quando divisou ao longe a presença magnífica de sua criação. A guilhotina se erquia imponente sobre os homens e as mulheres que a rodeavam admirados, perplexos. Velasco a sentiu como uma representação divina, símbolo universal da morte, à qual seus súditos faziam reverência. É verdade, a guilhotina não tinha sido, muito a seu pesar, um invento seu, mas lhe dera em definitivo uma inesperada dimensão, outra participação no processo histórico. A guilhotina aparecia na Revolução como mais natural, mais afeita à índole dos mexicanos que à dos franceses. "Não há nada que a iguale ou a supere", pensou Feliciano. "É sublime, é mágica."

 

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"UM DOCE AROMA DE MORTE"

Os pêsames repentinos, os olhares ambíguos, as tímidas condolências, as perguntas impertinentes criaram em Ramón uma certeza: o que se dizia de sua relação com Adela já não era um brincadeira ou um boato, mas uma verdade nova e definitiva que crescia minuto a minuto e que lhe era cada vez mais difícil desmentir. Adela se transformava para ele numa armadilha e num mistério. A lembrança que ele tinha da moça se tornou confusa. Uma após a outra, as imagens se sucediam: Adela vestida com uma blusa branca e uma saia amarela comprando salsa na venda; Adela enveredando pelas ruas do povoado.
Adela nua, estirada, silenciosa no silêncio de uma plantação de sorgo. Adela filha assassinada, Adelada encharcada em sangue, Adela encharcando-o com seu sangue. Adela refletida no rosto do seu pai, na dor de sua mãe. Adela, Adela, Adela. Aquele aroma, aquele corpo que ele havia estreitado. Adela, o temor a Adela, o amor a Adela, Quem era Adela?

 

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