terça-feira, 9 de dezembro de 2008

a doença da meia-noite

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Como Albert Vetch, ele parecia simultaneamente assombrado e desatento, o tipo de pessoa que num momento podia adivinhar, com frieza de tirar o fôlego, a tristeza mais profunda no coração dos outros, e no momento seguinte virar-se e, com um aceno de despedida alegre, marchar impassível através de uma porta de vidro, precisando de vinte e dois pontos na bochecha.
Foi na aula desse sujeito que me perguntei pela primeira vez se as pessoas que escreviam ficção não sofriam de algum tipo de desordem – sobre a qual comecei a pensar, lembrando do louco balanço noturno de Albert Vetch, como a doença da meia-noite. A doença da meia-noite é uma espécie de insônia emocional – a cada momento consciente a vítima - mesmo se escreve de manhã cedo ou no meio da tarde – sente-se uma pessoa deitada num quarto sufocante, com a janela aberta, olhando para um céu cheio de estrelas e aviões, ouvindo a narrativa de uma persiana barulhenta, uma ambulância, uma mosca presa numa garrafa de Coca, enquanto ao redor os vizinhos dormem a sono solto. Na minha opinião é por isso que os escritores – como os insones – são tão propensos a acidentes, tão obcecados com o cálculo do azar e das oportunidades perdidas, tão dados à ruminação e à incapacidade de abandonar um assunto, mesmo quando lhe pedem repetidamente para fazê-lo.

Do livro Garotos Incríveis, de Michael Chabon

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