quinta-feira, 1 de janeiro de 2009

Breves Entrevistas com Homens Hediondos, de David Foster Wallace

Leia trecho do livro

68282

B.E. no 14 08-96
St. Davids PA

"Me custa todas as relações sexuais que eu já tive. Não sei por que eu faço isso. Não sou uma pessoa política, não me considero. Não sou daqueles tipo América em Primeiro Lugar, leio o jornal, será que Buchanan vai pegar o pessoal que abaixa a cabeça. Estou lá fazendo com uma menina, não importa quem. É quando eu começo a gozar. Que acontece. Não sou democrata. Eu nem voto. Uma vez pirei por causa disso e telefonei para um programa de rádio, um médico no rádio, anônimo, e ele diagnosticou como gritos descontrolados de palavras ou frases involuntárias, freqüentemente ofensivas ou escatológicas, que é coprolalia é o termo oficial. Só que quando eu começo a gozar e sempre começo a gritar isso aí não é ofensivo, não é obsceno, é sempre a mesma coisa, e é sempre muito estranho, mas não acho que seja ofensivo. Acho só que é estranho. E incontrolável. Sai do mesmo jeito que sai a porra, a sensação é essa. Não sei o que é isso e não posso fazer nada."

P.

"‘Vitória para as Forças da Liberdade Democrática!’ Só que muito mais alto. Berrando mesmo. Incontrolável. Não estou nem pensando nisso e de repente escuto. ‘Vitória para as Forças da Liberdade Democrática!’ Só que mais alto que isso: ‘VITÓRIA...’"

P.

"Bom, deixa elas piradas, o que você acha? E eu quase morro de vergonha. Nunca sei o que dizer. O que você diria se gritasse ‘Vitória para as Forças da Liberdade Democrática!’ bem na hora de gozar?"

P.

"Não seria tão embaraçoso se não fosse tão totalmente estranho, porra. Se eu tivesse a menor idéia do que quer dizer. Você sabe?"

P. ...

"Nossa, agora estou morrendo de vergonha."

P.

"Mas só acontece uma vez mesmo. É isso que quero dizer com o quanto me custa. Não dá nem para dizer como elas ficam piradas, eu fico com vergonha e não telefono de novo. Mesmo que eu tente explicar. E essas que se fazem de compreensivas tipo não ligo para isso e tudo bem e eu entendo e não tem importância essas que me deixam com mais vergonha, porque é tão esquisito, porra, gritar ‘Vitória para as Forças da Liberdade Democrática!’ na hora que você está gozando que eu posso dizer que toda vez elas ficam totalmente piradas e são condescendentes comigo, fingem que entendem, e são essas que eu de verdade mesmo eu de verdade mesmo acabo ficando quase puto da vida e não fico nem com vergonha de não telefonar nem de evitar totalmente essas, as que dizem ‘acho que podia amar você mesmo assim’."

B.E. no 15 08-96
MCI-Bridgewater Departamento de Observação & Avaliação Bridgewater MA

"É uma tendência e uma vez que haja um mínimo de coerção e nenhum dano real é essencialmente benigna, acho que vão ter de concordar. E note-se que há um número surpreendentemente pequeno que requer qualquer coerção."

P.

"De um ponto de vista psicológico as origens parecem óbvias. Vários terapeutas concordam, posso acrescentar, aqui e em outros locais. De forma que está bem definido."

P.

"Bem, meu próprio pai era, pode-se dizer, um homem que era por tendência natural não um bom homem, mas que mesmo assim tentava diligentemente ser um bom homem. Temperamento e tal."

P.

"Quer dizer, eu não estou torturando nem queimando ninguém."

P.

"A tendência de meu pai para raiva, principalmente [ininteligível ou distorcido] a Sala de Emergência pela enésima vez, temendo seu próprio temperamento e tendência a violência doméstica, isso foi aumentando durante um período de tempo e ele por fim recorreu, depois de um período de tempo e períodos de aconselhamento malsucedidos, à prática de algemar os próprios pulsos atrás das costas sempre que perdia a paciência com qualquer um de nós. Em casa. Domesticamente. Pequenos incidentes domésticos que perturbam o temperamento da pessoa e assim por diante. Essa autocontenção acabou progredindo ao longo de um período de tempo de tal forma que, quanto mais enraivecido ele ficava com qualquer um de nós, mais coercivo começou a ser na contenção de si mesmo. Muitas vezes o dia terminava com o pobre homem de mãos e pés amarrados no chão da sala, gritando furiosamente conosco para colocar a porra da filha-da-puta da mordaça nele. Seja qual for o interesse possível que essa pequena história possa ter para qualquer um que não teve o privilégio de estar lá. Tentar colocar a mordaça sem ser mordido. Mas, claro, podemos agora explicar minhas tendências e definir suas origens e encerrar tudo bem certinho e arrumadinho para você, não é."

B.E. no 11 06-96
Vienna VA

"Tudo bem, eu estou, ok, é, mas espere um pouquinho, certo? Preciso que você tente entender isto aqui. Certo? Olha. Eu sei que eu sou difícil. Eu sei que eu sou meio retraído às vezes. Eu sei que eu sou difícil de estar junto nisto, certo? Tudo bem? Mas isso de toda vez que eu fico assim difícil ou retraído você pensar que eu estou indo embora ou querendo largar você — isso eu não agüento. Essa coisa de você ficar com medo o tempo todo. Me cansa. Faz eu me sentir como se eu tivesse de, tipo, esconder qualquer coisa que eu sinta porque você na mesma hora vai pensar que é com você e que eu estou querendo largar de você e ir embora. Você não confia em mim. Não confia. Não que eu esteja dizendo que dada a nossa história eu merecesse muito mais confiança de cara. Mas você não tem nem um pouco. Tem assim tipo zero de segurança por mais que eu faça. Certo? Eu falei que eu prometia que não ia embora e você falou que acreditava que dessa vez eu estava nessa para ficar, mas você não acreditou. Certo? Admita, tudo bem? Você não confia em mim. Eu estou pisando em ovos o tempo inteiro. Sabe? Não posso continuar prometendo para você o tempo inteiro."

P.

"Não, não estou dizendo que isto é promessa. Isto aqui é só para tentar ver se eu consigo fazer você ver — certo, olhe, as coisas vêm e vão, certo? Às vezes as pessoas estão mais dentro do que outras vezes. É assim que é. Mas você não agüenta flutuação. Parece que flutuação é proibido. E eu sei que em parte é culpa minha, certo? Eu sei que as outras vezes não fizeram você se sentir muito segura. Mas isso eu não posso mudar, certo? De uma coisa eu sei. E agora eu sinto que toda hora que eu simplesmente não falar ou ficar meio difícil ou quieto você vai pensar que eu estou conspirando para largar você. E isso me machuca o coração. Certo? Machuca o meu coração, só. Quem sabe se eu amasse você um pouco menos ou me importasse com você um pouco menos desse para agüentar. Mas não posso. Então é isso, sim, é isso que são essas malas, eu estou indo embora."

P.

"E eu estava — isto é só o jeito que eu tinha medo que você fosse reagir. Eu sabia, que você ia achar que isso aqui quer dizer que você tinha razão de ter medo o tempo todo e nunca se sentir segura nem confiar em mim. Eu sabia que ia ouvir ‘Está vendo, você está indo embora afinal, quando prometeu que não ia’. Eu sabia mas estou tentando explicar mesmo assim, certo? E eu sei que o mais provável é que você não vá entender isto também, mas — espere aí — tente escutar e quem sabe absorver isto, certo? Pronto? Eu ir embora não é a confirmação de todos os seus medos a meu respeito. Não é. É a conseqüência deles. Certo? Você não consegue ver isso? É o seu medo que eu não agüento. É a sua desconfiança e o seu medo que eu venho tentando combater. E não consigo mais. Acabou meu gás. Se eu amasse você um pouquinho menos que fosse eu agüentava. Mas isso está me matando, esse medo constante de estar sempre apavorando você e nunca fazendo você se sentir segura. Dá para enxergar isso?"

P.

"É irônico do seu ponto de vista, eu entendo. Certo. E entendo que você me odeia totalmente agora. E passei um longo tempo me preparando para chegar aonde eu cheguei pronto para encarar você me odiando totalmente por isso e esse ar de total confirmação de todos os seus medos e suspeitas na sua cara se você pudesse ver, certo? Juro se você pudesse ver sua cara agora qualquer um ia entender por que eu estou indo embora."

P.

"Desculpe. Não estou querendo colocar tudo em cima de você. Desculpe. Não é você, certo? Quer dizer, tem de ser alguma coisa comigo se você não consegue confiar em mim depois de todas essas semanas ou agüentar um pouquinho que seja do vaivém normal da vida sem pensar sempre que eu estou me aprontando para ir embora. Não sei o quê, mas deve ser. Certo, e eu sei que a nossa história não é uma maravilha, mas juro para você que era verdade tudo o que eu disse e que eu tentei mil por cento. Juro por Deus que eu tentei. Eu sinto muito mesmo. Daria qualquer coisa no mundo para não machucar você. Eu te amo. Sempre vou te amar. Espero que você acredite nisso, mas estou desistindo de tentar fazer você acreditar. Só por favor acredite que eu tentei. E não pense que isso tem a ver com alguma coisa errada em você. Não faça isso com você mesma. É por nossa causa, por nós dois que eu estou indo embora, certo? Dá para entender isso? Que não é o que você sempre teve medo que fosse? Certo? Dá para entender isso? Será que você não podia talvez entender que você podia estar errada, que talvez? Será que podia me dar isso, podia? Porque isto aqui não é muito divertido para mim também, não, certo? Ir embora assim, vendo a sua cara assim como a minha última imagem mental de você. Dá para entender que eu também vou ficar bem acabado com isso? Dá para entender? Que você não está sozinha nessa?"

B.E. no 3 11-94
Trenton NJ [Ouvido por acaso]

R...: "Então eu fui a última a sair como sempre e todo aquele negócio lá."

A...: "É só esperar e relaxar no lugar e ser o último a sair porque todo mundo na mesma hora tem sempre de levantar no minuto que pára e se amontoar no corredor de forma que você tem de ficar de pé lá com as malas tudo amontoado suando em bicas no corredor cinco minutos só para ser..."

R...: "Só esperar e afinal sair daquele negócio do jato e sair naquela sabe sala de saída sala de recepção como sempre achando que ia pegar um táxi para..."

A...: "Mesmo assim mas é sempre triste nessas viagens comerciais chegar na área de desembarque e ver todo mundo com alguém esperando e gritos e abraços e os caras das limusines segurando aquelas placas de papelão com o nome que nunca é o seu nome e aquel..."

R...: "Só cale a boca um segundo porra tá legal porque escute um pouco porque só que estava quase vazio quando eu saí de lá."

A...: "As pessoas nessa altura já quase todas se dispersaram você está dizendo."

R...: "Só que ali está essa garota que sobrou na corda olhando espiando esperando ali naquele negócio do jato lá e quando ela me vê como eu estou olhando para ela ao sair porque está vazio só tem ela, os olhos da gente se cruzam e aquela coisa toda ali e o que que ela faz ela pega e cai de joelhos chorando e chorando muito e aquela coisa toda batendo no tapete e arranhando arrancando uns tufinhos e umas fibras do produto barato que eles compram onde a cola sintética começa o forro separando quase na mesma hora e acaba triplicando os custos de manutenção claro que nem preciso dizer para você e tudo dobrada para a frente lá batendo arranhando o produto com as unhas, dobrada para a frente de um jeito que dava sabe quase para ver os peitos dela. Totalmente histérica e com aquela choradeira e aquela coisa toda lá."

A...: "Mais uma alegre boas-vindas a Dayton para a porra das suas viagens comerciais, temos o prazer de rec..."

R...: "Não mas a história que acabou a história quando eu sabe eu vou até ela para perguntar você está bem algum problema e tal e dar uma olhada melhor nos vou te contar uns peitos incríveis lindos debaixo daquele top justo pequenininho tipo maiô de ginástica por baixo do casaco ela abaixada e dobrada para a frente se batendo na cabeça e ainda fazendo aquela coisa com as mãos naquele produto da sala do portão e ela diz que o cara por quem ela estava apaixonada e essa história toda lá disse que estava apaixonado por ela só que já era noivo de antes quando eles se conheceram e se apaixonaram ardentemente de forma que tem todo esse negócio de vai e volta e chuvas e trovoadas e tal e eu estou ali ouvindo ela falar parado ali mas afinal ela fala mas afinal que o cara desce do muro e afinal fala que está se rendendo ao amor dessa garota ali com os peitos e se compromete com ela e fala como ele vai ir e falar para essa outra garota em Tulsa onde o cara mora com quem ele está noivo sobre esta garota aqui e acabar com aquela de Tulsa e afinal se render e se comprometer com esta garota histérica com os peitos que ama ele mais que a própria vida e sente que a ‘alma’ dele se funde com a dela e aquela história toda de violino tocando e sente que afinal pelamordedeus depois de tantos babacas obsessivos ela consegue dar a volta por cima ela afinal ela sente que ali afinal ela encontrou um cara em quem dá para confiar e amar e fundir a ‘alma’ com ele tipo violinos e corações e fo..."

A...: "E blá blá blá."

R...: "Blá e fala que lá se vai o cara para Tulsa para afinal acabar com o noivado com a garota de antes já que tinha se comprometido que ia e aí pega o avião de volta para os braços dessa garota ali parada com o Kleenex com os peitos em Dayton aqui na área de desembarque chorando que era um rio dos olhos e tchau e bênção."

A...: "Ah nem precisa dizer no que deu a coisa."

R...: "Vá se foder e que ele pôs a mão em cima do coração e tudo mais e jurou que voltava para ela e que ia estar naquele avião com aquele número de vôo e horário e ela jura que ela vai estar lá com os peitos para encontrar com ele e aí conta para os amigos dela todos que afinal está apaixonada por um cara de verdade e que ele vai romper o noivado e voltar direto e ela limpa o lugar para ele ficar lá quando voltar e arruma o cabelo todo penteado com spray do jeito que elas fazem e passa perfume naquelas sabe zonas e aquela coisa toda a história de sempre e coloca o melhor jeans cor-de-rosa eu falei que ela estava com essa calça jeans cor-de-rosa e sapato alto que diz me foda em todas as principais línguas do mundo..."

A...: "Hê ."

R...: "Nessa altura agora a gente já está naquele café ali em frente ao portão da usair aquele que é uma merda sem cadeira que você tem de com seu café de dois dólares ficar de pé nas mesas com a sua maleta de amostras e a mala e a sua merda toda no chão de ladrilho barato nem plastificado não é o chão deles que já está até começando a enrolar nas emendas e entregando Kleenex para ela e escutando e aquela coisa toda lá depois ela passa o aspirador no carro e até troca aquela coisinha refrescante de pendurar no retrovisor e se mata para chegar na hora no aeroporto para esperar o vôo que aquele cara que parecia confiável jurou pela vida da porra da mãe dele que ele ia pegar."

A...: "O cara é um babaca da velha guarda."

R...: "Cala a boca e aí ela pega e diz que ele até telefonou para ela ela recebeu um telefonema quando estava passando a última gota de perfume lá naquele lugar e passou spray no cabelo de todo lado como elas fazem para se matar para chegar até o aeroporto o telefone toca e é o cara esse e tem um monte de estática e chiado no telefone e ela diz que ele diz que está ligando do céu é assim romântico que ele fala telefonando para ela do vôo de dentro do avião naquele telefoninho de bordo que você tem de enfiar o cartão assim nas costas da poltrona da frente e dizendo que..."

A...: "O marcador dessas coisas roda seis dólares por minuto é uma roubalheira e todas as sobretaxas que cobram na região onde você está sobrevoando ainda dobrado se a região que eles dizem fica junto na grade do pad..."

R...: "Mas isso não interessa quer saber o que interessa é que essa garota diz que chega cedo ali na sala do portão sala de desembarque e já meio chorando por causa do amor e dos violinos do compromisso afinal e da confiança e fica ali diz que toda contente confiando feito uma pateta ela disse enquanto o vôo chega afinal e a gente eles começam a se juntar todo mundo na correria saindo do negócio do jato e ele não está na primeira leva e não está na segunda leva eles vão saindo em levas em bolotas como se a coisa estivesse assim meio que cagando sabe como é..."

A...: "Nossa eu tenho de saber pela quantidade de vezes que eu pego a porra de um jato n..."

R...: "E diz que ela feito uma pateta uma idiota total sem perder a confiança espiando olhando junto daquela corda oitavada marrom oitavada com aquele acabamento bonito de veludo falso a corda da área ali do lado durante aqueles abraços todos todo mundo se encontrando ou saindo para a Bagagem e esperando o tempo todo esse cara na próxima leva, e na outra e na outra desse jeito, esperando."

A...: "Coitadinha que bobinha."

R...: "Que aí no fim lá venho eu o último a descer como sempre e ninguém mais depois a não ser os tripulantes puxando aquelas malinhas idênticas aqueles malinhas legais que sempre me deixam encanado não sei por quê e aí eu sou o último e ela..."

A...: "Então você está explicando é que não era para você que ela estava gritando e arranhando o chão era só porque você era o último a descer e você não é esse cara babaca. O filho-da-puta deve de ter até falsificado o telefonema, a estática se você liga o Remington ele faz estática que o som é igual a..."

R...: "Estou te dizendo você você nunca viu ninguém assim que a expressão dor de coração a gente acha que é só palavras blá blá blá mas aí você vê essa garota com a mão se batendo na cabeça porque foi tão boba chorando tanto que quase não conseguia respirar e essa coisa toda, abraçando o corpo e balançando e batendo na mesa com tanta força que eu tinha de levantar o café para não virar e como os homens são uns merdas e não dá para confiar em nenhum as amigas diziam e ela afinal encontrou um em quem ela achava que afinal podia confiar de verdade se entrega e se rende e se compromete para fazer o certo e elas têm razão, ela é uma tonta, os homens são só merda."

A...: "Os homens são quase todos merdas, tem razão, hê, hê."

R...: "E eu estou lá então, estou parado segurando o café eu nem está ficando tarde eu nem quero descafeinado estou ouvindo e meu coração confesso que o meu coração meio que bateu mais forte por essa garota com essa dor de coração. Juro cara você nunca viu uma coisa como o que estava sentindo essa menina com os peitos e eu vou e digo para ela que tem razão que o cara é um merda e não merece nem e que é verdade que quase todos são merda e o que eu estou sentindo por ela e essa coisa toda."

A...: "Hê hê. E aí o que que aconteceu?"

R...: "Hê hê."

A...: "Hê hê ."

E...: "Você tem mesmo de perguntar?"

A...: "Seu filho-da-puta. Seu babaca."

R...: "Bom você sabe como é quer dizer o que que eu podia fazer."

A...: "Babaca."

R...: "Bom você sabe."

B.E. no 30 03-97
Drury UT

"Eu tenho de admitir que era uma boa razão para casar com ela, pensei que não ia ser fácil conseguir melhor que ela por causa do jeito que ela tem um corpo bom mesmo depois de ter tido filho. Em forma, bom, boas pernas — ela teve um filho mas não ficou toda estourada, cheia de veias, caída. Pode parecer grosso, mas é a verdade. Sempre tive o maior horror de casar com uma mulher bonita e aí a gente ter filho e isso acabar com o corpo dela mas ainda ter de fazer sexo com ela porque foi com essa que eu assinei o papel para fazer sexo o resto da minha vida. Isso deve parecer horrível, mas no caso dela era como se ela já estivesse pré-testada — o filho não estourou com o corpo dela, então eu entendi que ela seria uma boa para assinar o papel e ter filhos e ainda tentar fazer sexo. Parece grosso? Me diga o que você acha. Ou será que falar a verdade nesse tipo de coisa sempre parece grosso, entende, as razões verdadeiras de todo mundo? O que você acha? Parece assim?"

B.E. no 31 03-97
Roswell GA

"Mas você quer saber como ser grande de verdade? Como seu Grande Amante agrada mesmo uma mulher? Agora, todos esses caras tipo cara legal vão sempre dizer que sabem, que são autoridade e tal. Não é cigarro, meu bem, tem de segurar lá dentro. A maioria desses caras, eles não fazem a menor idéia de como agradar de verdade uma mulher. Não mesmo. Uma porção desses não está nem ligando, para falar a verdade. O primeiro tipo, esse tipo Joe Cervejeiro tipo o bom, um porco básico. Esse cara não é nem semiconsciente da vida e quando se fala de fazer amor aí ele é egoísmo puro. Quer tudo o que conseguir para ele e contanto que ele consiga é o que interessa para ele. O tipo que rola para cima da mulher e come ela e no minuto que goza rola de volta e começa a roncar. Cuidado com esses. Porque eu acho que esse é o tipo do cara macho antiquado, mais velho, o cara que ficou casado vinte anos e nem sabe se a mulher goza nem nada. Nunca nem pensou em perguntar para ela. Ele goza e é isso que interessa para ele."

P.

"Não é desses caras que eu estou falando. Esses são mais como animais, rolam pra cima, rolam pra baixo e é isso aí. Segure mais na pontinha assim e não chupe a fumaça tanto como se fosse cigarro comum. Tem de segurar lá dentro e deixar absorver bem. Esta é minha, eu que planto, tenho uma sala forrada de plástico Mylar com luzes acesas, meu bem, você não imagina quanto custa por aqui. Esses caras são animais, não são nem o tipo que a gente está falando aqui. Não, porque esses que a gente está falando aqui são o tipo básico secundário de cara, o cara que pensa que é o Grande Amante. E para esses caras é muito importante eles pensarem que são Grandes. Isso preocupa o maior tempão deles, pensar que são Grandes e que sabem como agradar a mulher. Esses aqui são do tipo homem sensível que é o bom. Agora, eles vão parecer completamente diferentes do cara tipo lixo-limpo que não está nem aí. É isso aí, mas vá com calma. Não vá pensando que esses caras são melhores do que o porco básico, não. Eles acharem que são o Grande Amante não quer dizer que eles olham um isto de uma porra a mais para ela do que os porcos e lá no fundo eles não são nem um pouquinho menos egoístas na cama. Só que com esse tipo de cara o que excita eles na cama é a imagem que eles fazem deles mesmos como Grande Amante que é capaz de fazer uma dama perder a cabeça na cama. O que interessa para eles é o prazer da mulher e dar prazer para ela. Essa que é a viagem desse tipo."

P.

"Ah assim ah deixa ver ficar lá no ying-yang dela horas e horas, segurar o gozo dele mesmo para poder continuar fazendo durante horas, entender de ponto G e de Posição do Êxtase e essas coisas. E correr na Barnes & Noble para ver todas as novidades nos livros sobre sexualidade feminina para ficar sempre bem informado sobre o que está acontecendo. Estou vendo pelo seu jeito assim que você já deve ter encontrado algum desse tipo o bom uma vez ou outra, com aquela loção de barba de feromônio, óleo de morango, massagem manual, aperto e toque, que sabe tudo do lóbulo da orelha e do que quer dizer cada jeito que a mulher fica vermelha, da parte de trás do joelho, daquele pontinho novo ultra-sensível que dizem que descobriram agora bem atrás do ponto G, esse tipo de cara sabe tudo e pode ter certeza absoluta que ele vai fazer você saber que ele sabe — me dê, me dê aqui. Vou mostrar para você. Bom e agora, meu bem, você pode apostar que esse tipo de cara quer saber quando ela goza e quantas vezes e se foi o melhor que ela já teve na vida — e essas coisas. Está vendo aqui? Quando você solta a fumaça tem de nem dar para ver nada. Aí quer dizer que você absorveu tudo. Pensei que você disse que já tinha fumado antes. Isso aqui não é essa palha que tem por aí. É que nem o cara fazer uma marca no cabo da arma cada vez que faz ela gozar. É assim que ele pensa na coisa. É bom demais para soprar metade para fora, é igual ter um Porsche e só usar para ir na igreja. Não, ele é não é dos que marcam o cabo da arma, esse cara. É uma boa comparação talvez. Os dois tipos. O porco pode fazer uma marca para cada uma que pega, as marcas dele são assim, ele não está nem ligando. Mas o cara que se acha tipo Grande Amante faz uma marca para cada vez que cada uma goza. Mas os dois não passam de uns marcadores. No fundo, os dois são o mesmo tipo de cara. A viagem de cada um é diferente, mas é sempre só a viagem dele que conta, na cama e a dama lá no fundo vai sentir é que foi usada do mesmo jeito. Quer dizer, isso se a dama tiver cabeça e isso é outra história. E agora meu bem quando fica menorzinho você guarda, não pisa com a bota como faz com cigarro comum. Você pega e molha a ponta do dedo e dá uma batidinha assim na ponta, apaga e guarda, eu tenho uma coisa para guardar eles. Eu, eu tenho uma coisinha especial mas o mais comum é uma dessas latinhas de filme de fotografia que é como todo mundo faz para não jogar fora esses aí. Veja, se você encontrar uma latinha de filme no lixo em qualquer lugar."

P.

"Não, mas aí o sintoma clássico para dizer se ele é um desses caras Grande Amante é que eles passam o maior tempão na cama em cima do ying-yang da dama uma vez e mais uma fazendo ela gozar dezessete vezes seguidas e tal, mas depois pode ver que não vai ter jeito nesta boa terra verde de Deus mas ele vai cobrar que é a vez dela virar e cuidar da preciosa cacetinha dele. E aí ele vai de Ah, baby, deixa eu cuidar de você quero ver você gozar de novo baby ah baby você deite aí e deixe eu te mostrar a magia do amor e essas coisas todas. Ou então ele sabe toda aquela porra de massagem especial coreana e faz uma massagem do tecido profundo nas costas dela ou tira um óleo especial de cereja negra e massageia os pés e as mãos dela — que olha, meu bem, tenho de admitir que se você nunca recebeu uma massagem manual de qualidade você ainda não viveu de verdade, acredite — mas acha que ele vai deixar a dama dele retribuir e fazer uma massagem nas costas dele? Nãossenhor não vai não. Porque a viagem do cara desse tipo é ele ser o único que está dando prazer aqui muito obrigado madame. Olhe, é diferente, tem uma tampinha de rosquear selada à prova de ar para não cheirar no bolso, essas coisinhas fedem, e quando você põe aqui dentro dessa coisa dobradinha aqui, bom, pode ser qualquer coisa. Porque é aí que o seu cara tipo o bom é burro. Isso que me faz desprezar essas caras que andam por aí achando que eles são a bênção de Deus para a raça das mulheres. Porque pelo menos o tipo grosso é até meio honesto no assunto, o que eles querem é pegar a mulher, depois rolar e acabou-se. Enquanto esse tipo o bom acha que é todo sensível e que sabe agradar uma dama só porque entende de sucção de clitóris e shiatsu, e olhar eles na cama é igual a olhar um desses mecânicos metidos de macacão branco trabalhar num Porsche todo inchado porque sabe tudo. Eles acham que são O Grande Amante. Acham que são generosos na cama. Não, mas o negócio é que eles são egoístas com a generosidade. Não são nada melhor do que o porco, só são mais espertos. Agora você vai ficar com sede, agora você vai querer uma Evian. Essa porra seca a boca que é fogo. Eu levo essa Evian portátil comigo aqui nesta parte de dentro, está vendo? Mandei fazer. Vai, pegue uma que você vai precisar. Vai."

P.

"Sem problema, meu bem, fique com isso, você vai querer mais um pouco daqui a meio minuto. Eu podia jurar que você disse que já tinha usado antes. Espero não estar corrompendo uma mórmon de Utah, estou? Mylar é melhor que folha de alumínio, reflete mais a luz de forma que vai tudo direto para a planta. Eles agora produzem sementes especiais para a planta não crescer mais do que esta aqui, mas é letal, é a morte do cara. Atlanta principalmente está cheia desses caras. O que eles não entendem é que o tipo deles é mais chato ainda para uma dama que tem cabeça do que o porco liga e desliga nunca foi. Por que será que você ia gostar de só ficar lá deitada e trabalharem em você feito um Porsche e não poder sentir nunca que você é generosa, sexy e boa de cama e uma Grande Amante também? Hã? Hã? É aí que o cara tipo o bom sempre perde o jogo. Eles querem ser os únicos Grandes Amantes na cama. Esquecem que uma dama também tem sentimentos. Quem quer ficar lá deitada se sentindo toda não generosa e gananciosa enquanto um yuppie que tem um Porsche exibe as Nuvens Tântricas e a Chuva Meio-Lótus para você marcando na cabeça quantas vezes você gozou? Se você bochechar um pouco a boca fica molhada mais tempo, a Evian é boa para isso, não interessa se é uma porra de uma água yuppie mas é boa, entende? O negócio é ver se o cara quando está lá fazendo em você se ele fica com a mão na parte baixa da sua barriga para ter certeza absoluta que você gozou aí então você sabe. Quer ter certeza. Esse filho-da-puta não é um Amante, está só fazendo um show. Não liga a mínima para você. Quer saber o que eu acho? Quer saber como faz para ser Grande de verdade quando você quer agradar a mulher, uma coisa que nem um homem em mil nunca pensou?"

P. ...

"Quer?"

P.

"O segredo é que você tem ao mesmo tempo de dar prazer para a dama e também ser capaz de receber, com técnica igual para os dois e prazer igual. Ou pelo menos você tem de fazer ela achar isso. Não esqueça dela. Vá e chupe a ying-yang dela até ela gemer, claro, vá em frente, mas também deixe ela cair de boca no seu pixoxó também e mesmo que ela não seja nenhuma campeã na coisa você vá e deixe e faça ela pensar que é. E se ela pensa que massagem nas costas é só aquelas porradinhas chatas de caratê na coluna, você vá e deixe, e continue como se você não soubesse que um golpe de caratê podia ser assim. Quer dizer, isso se o cara quer ser um Grande Amante de verdade e pegar e pensar nela por um segundo."

P.

"Não comigo, meu bem, não. Quer dizer, eu geralmente gosto mas já perdi o interesse por eles, acho. O problema de verdade desses caras que acham que são o Grande Amante é que eles pensam que uma dama é, no final das contas, burra. Como se tudo que a dama quer é só deitar lá e gozar. O segredo mesmo é: pense que ela sente igual. Que ela quer se ver como uma Grande Amante que é capaz de destampar a cabeça do homem na cama. Dê espaço para ela. Ponha a imagem que você tem de você mesmo na porra do banho-maria uma vez na vida. Os que acham que são os bons acham que se destampam a cabeça da mulher ela está conquistada. Besteira total."

P.

"Mas você não vai querer só um, meu bem, pode acreditar. Tem um shopping pequeno a uns dois quarteirões se a gente — nossa, cuidado com..."

P.

"Não, você siga em frente e faça ela pensar que está destampando a sua cabeça. É isso que elas querem. Aí é que você conquista ela de verdade, se ela achar que você nunca vai esquecer dela. Nunca jamais. Está entendendo?"

B.E. no 36 05-97
Atendimento Metropolitano Comunitário à Violência Doméstica, Aconselhamento e Anexo do Centro de Serviços Aurora IL

"Então resolvi procurar ajuda. Admiti o fato de que o problema real não tinha nada a ver com ela. Entendi que ela ia ficar se fazendo de vítima para o vilão para sempre. Não tinha como fazer ela mudar. Ela não era a parte do problema que eu podia, entende, trabalhar. Então tomei uma decisão. Procurar ajuda para mim. Agora eu sei que foi a melhor coisa que eu já fiz e a mais difícil. Não tem sido fácil, mas minha auto-estima está muito mais alta agora. Pus um fim na espiral da vergonha. Aprendi a perdoar. Eu gosto de mim mesmo."

P.

"Quem?"

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