Marília Garcia
primeiro, a cena congelada
um dedo pousa no vidro,
a tela vibra.
…………………..você lembra o que
disse na hora? você gritou? doeu?
você lembra do que aconteceu?
a curva, a chuva, um clarão.
(depois ela acabou,
foi embora para belfast.)
você lembra o que disse na hora
em que o carro deslizou?
três horas na chuva esperando,
a curva, o estrondo, você lembra?
você entre as ferragens
perguntando o que houve.
(mas isso é um acidente
e é sobre uma lovestory.)
o amor, diz, é um efeito especial
pensa que viu tudo
mas quando acende a luz
os pontos
cegos se espalham:
……….uma fossa abissal, uma nuvem
de distância e uma cidade chamada Vidro ou
Vértice
………………….Volpi ou Verdi
o amor é alguém entrando
na geometria da sua mão
neste momento atravessa o corredor:
– não há mais isso entre nós,
de onde o timbre da sua voz
um efeito-estertor
(dentro do poema
pode sentir o efeito
e nessa hora todos os porquês
ficam guardados
em concha)
o amor é isso, diz,
não um corvo
mas um impermeável vermelho
pendurado na janela vindo de outro poema
para tocar na sua tela.
é você comendo o amarelo que sobrou
depois do estrondo.
o amor é este olhar que mancha
a retina na hora da emergência
um olho cinzento que treme
sempre que muda
de hemisfério.
“é difícil olhar as coisas
diretamente”
elas são muito luminosas
ou muito escuras.
2/3 deste país são feitos de água
e sempre que se vira, um
afogamento.
…………………..apenas um mergulho,
dizia a imagem. vamos ver o deserto,
andar pelo centro do mundo?
mas isso é um dicionário
e é sobre uma lovestory.
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