José Marcelo
Os grilos cantam, alguma coisa com azas passa na frente da lua, e minha filha linda e louca sorri para o reflexo na janela.
O que está fazendo?
Ela se vira. Vendo a garotinha.
Garotinha?
Ela aponta para o reflexo.
A garotinha triste diz.
E por que ela está triste?
Você não sabe?
Não… Me diga.
Ela está morrendo.
Morrendo? Não, ela não está.
Ela me olha muito séria. Está sim, diz. Você deveria saber. É você quem a está matando.
Então ela abre a boca. Muda. Escancarada. E começa a gritar. Minha filha cai no chão e começa a espernear e a se debater até fechar os olhos repentinamente. Um movimento breve, pouco mais que um piscar. Ela voltou a sorrir. Me olha e murmura algo que eu não entendo.
O que foi?
A garotinha se foi. Agora sou só eu diz ela.
E quem é você?
Não seja bobo. Sou sua filha.
Ela se levanta e caminha na direção do corredor. Vou tomar banho diz. Ela vai andando e despindo-se do vestido amarrotado e da calcinha minúscula. Percebo com uma pontada que ela se tornou uma bela mulher. Ela entra no banheiro, mas não fecha a porta.
Ouço o chuveiro e a voz dela, suave como sempre fica quando está tranquila, agora cantarolando uma canção que desconheço, algo infantil e agradável.
Olho pra minhas mãos. Estão tremendo.
…
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