José Marcelo
O mundo que muda – despindo-se devagar, a camisola caindo no chão sujo do quarto barato. O mundo dela que antes ele achara lindo e que agora mostrava a sua verdadeira face: as marcas, finas, profundas, marcas demais, feridas demais em sua pele clara.
Ela se ajoelha, ainda de costas para ele. Ergue o braço, aponta a mala largada no canto:
__ Na mala. Lá dentro, na mala __ diz ela.
Ele desce da cama, nu, meio encolhido, caminha até a mala, abre-a e pega o pequeno chicote. Ele olha para a mulher e ela deitou-se no chão, de olhos fechados, de bruços:
__ Você disse que era importante me fazer gozar. Vai. Faça isso. É só assim que consigo. Me bata. Me bata até sangrar.
Ele aproximou-se, ele hesitou, então ele ergueu o chicote e começou a bater.
vuuuuuuuup!
Ela gemia, ela chorava, ela pedia mais… enquanto as feridas se abriam e o sangue começava a escorrer sobre a pele nua.
vuuuuuuuup!
Ele sentiu um odor forte e viu a urina escorrer da vagina e entre as pernas da mulher.
vuuuuuuuup!
Ela gemia e agora ela enfiava dois dedos dentro de sí mesma.
vuuuuuuuup!
__ Ai, eu tou gozando, eu tou gozando.
Ela ergueu-se de-repente e puxou o pau dela para a boca e abocanhou-o enquanto ainda se masturbava e
vuuuuuuuup!
ela quase mordeu-o quando chegou ao orgasmo.
vuuuuuuuup!
E continuou chupando-o até que ele também gozasse. E ela lambeu e engoliu quase faminta e com a respiração trêmula.
vuuuuuuuup!
E na cama, logo depois, o homem e a mulher exaustos, o sangue ainda escorrendo nas costas dela e na ponta do chicote, ambos iluminados pelas luzes dos carros que raramente passavam lá fora.
A mulher disse:
__ Isso foi bom. Ainda está doendo.
__ Desculpe.
__ Não estrague o momento, querido.
Ela levantou-se e foi ao banheiro e tomou uma longa ducha fria e lavou o sangue que escorreu e ela sorriu.
Quando voltou ao quarto, ele dormia de bruços. Era muito bonito, pensou. Então ela pegou o chicote e enrolou-o no pescoço dele e subiu em cima dele e começou a apertar. Ele acordou e tentou soltar-se e debater-se, mas ela sabia como desviar de seus murros e apertar mais e mais. Não demorou muito. Ele mijou-se e cagou-se e sangue e saliva saíram de sua boca e nariz e então ele morreu. O fedor era intenso.
Ela vestiu-se e passou batom e viu seu rosto no espelho, um rosto bonito, delicado, inocente até.
__ Obrigado, meu bem __ disse, e saiu do quarto apagando a luz.
Do lado de fora do quarto: uma parada de ônibus e um posto de gasolina. Foi até a bilheteria e comprou uma passagem para algum lugar distante a mais de um dia de viagem. Depois foi até a lanchonete, pediu um sanduiche e um refrigerante, sentou-se em uma mesa gelada e ficou olhando o sol nascer lá fora.
Era de um alaranjado lindo que ia aumentando e tornando-se mais e mais claro à medida que o dia ia surgindo.
O ônibus chegou por volta das sete horas. Ela subiu e sentou-se na última cadeira e pegou o celular e discou um número e disse:
__ Está feito __ E sem dizer mais nada, desligou.
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