terça-feira, 21 de fevereiro de 2012

CONTO Marcas

José Marcelo

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O mundo que muda – despindo-se devagar, a camisola caindo no chão sujo do quarto barato. O mundo dela que antes ele achara lindo e que agora mostrava a sua verdadeira face: as marcas, finas, profundas, marcas demais, feridas demais em sua pele clara.

Ela se ajoelha, ainda de costas para ele. Ergue o braço, aponta a mala largada no canto:

__ Na mala. Lá dentro, na mala __ diz ela.

Ele desce da cama, nu, meio encolhido, caminha até a mala, abre-a e pega o pequeno chicote. Ele olha para a mulher e ela deitou-se no chão, de olhos fechados, de bruços:

__ Você disse que era importante me fazer gozar. Vai. Faça isso. É só assim que consigo. Me bata. Me bata até sangrar.

Ele aproximou-se, ele hesitou, então ele ergueu o chicote e começou a bater.

vuuuuuuuup!

Ela gemia, ela chorava, ela pedia mais… enquanto as feridas se abriam e o sangue começava a escorrer sobre a pele nua.

vuuuuuuuup!

Ele sentiu um odor forte e viu a urina escorrer da vagina e entre as pernas da mulher.

vuuuuuuuup!

Ela gemia e agora ela enfiava dois dedos dentro de sí mesma.

vuuuuuuuup!

__ Ai, eu tou gozando, eu tou gozando.

Ela ergueu-se de-repente e puxou o pau dela para a boca e abocanhou-o enquanto ainda se masturbava e

vuuuuuuuup!

ela quase mordeu-o quando chegou ao orgasmo.

vuuuuuuuup!

E continuou chupando-o até que ele também gozasse.  E ela lambeu e engoliu quase faminta e com a respiração trêmula.

vuuuuuuuup!

E na cama, logo depois, o homem e a mulher exaustos, o sangue ainda escorrendo nas costas dela e na ponta do chicote, ambos iluminados pelas luzes dos carros que raramente passavam lá fora.

A mulher disse:

__ Isso foi bom. Ainda está doendo.

__ Desculpe.

__ Não estrague o momento, querido.

Ela levantou-se e foi ao banheiro e tomou uma longa ducha fria e lavou o sangue que escorreu e ela sorriu.

Quando voltou ao quarto, ele dormia de bruços. Era muito bonito, pensou. Então ela pegou o chicote e enrolou-o no pescoço dele e subiu em cima dele e começou a apertar. Ele acordou e tentou soltar-se e debater-se, mas ela sabia como desviar de seus murros e apertar mais e mais. Não demorou muito. Ele mijou-se e cagou-se e sangue e saliva saíram de sua boca e nariz e então ele morreu. O fedor era intenso.

Ela vestiu-se e passou batom e viu seu rosto no espelho, um rosto bonito, delicado, inocente até.

__ Obrigado, meu bem __ disse, e saiu do quarto apagando a luz.

Do lado de fora do quarto: uma parada de ônibus e um posto de gasolina. Foi até a bilheteria e comprou uma passagem para algum lugar distante a mais de um dia de viagem. Depois foi até a lanchonete, pediu um sanduiche e um refrigerante, sentou-se em uma mesa gelada e ficou olhando o sol nascer lá fora.

Era de um alaranjado lindo que ia aumentando e tornando-se mais e mais claro à medida que o dia ia surgindo.

O ônibus chegou por volta das sete horas. Ela subiu e sentou-se na última cadeira e pegou o celular e discou um número e disse:

__ Está feito __ E sem dizer mais nada, desligou.

 

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