Um dia ideal para os peixes-banana e livros e cinema e gibis e nus e ataxia espinocerebelar e 𓋹
quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012
10 conselhos de Carlos Drummond de Andrade a um escritor iniciante
Trechos da crônica A um jovem, publicada em A bolsa e a vida (1962)
1. Não acredite em originalidade, é claro. Mas não vá acreditar tampouco na banalidade, que é a originalidade de todo mundo.
2. Não fique baboso se lhe disserem que seu novo livro é melhor que o anterior. Quer dizer que o anterior não era bom. Mas se disserem que seu livro é pior que o anterior, pode ser que falem verdade.
3. Procure fazer com que seu talento não melindre o de seus companheiros. Todos têm direito à presunção de genialidade exclusiva.
4. Aplique-se a não sofrer com o êxito de seu companheiro, admitindo embora que ele sofra com o de você. Por egoísmo, poupe-se qualquer espécie de sofrimento.
5. Sua vaidade assume formas tão sutis que chega a confundir-se com modéstia. Faça um teste: proceda conscientemente como vaidoso, e verá como se sente à vontade.
6. Opinião duradoura é a que se mantém válida por três meses. Não exija maior coerência dos outros nem se sinta obrigado intelectualmente a tanto.
7. Procure não mentir, a não ser nos casos indicados pela polidez ou pela misericórdia. É arte que exige grande refinamento, e você será apanhado daqui a dez anos, se ficar famoso; se não ficar, não terá valido a pena.
8. Se sentir propensão para o gang literário, instale-se no seio de uma geração e ataque. Não há polícia para esse gênero de atividade. O castigo são os companheiros e depois o tédio.
9. Evite disputar prêmios literários. O pior que pode acontecer é você ganha-los, conferidos por juízes que o seu senso crítico jamais premiaria.
10. Leia muito e esqueça o mais que puder. Só escreva quando de todo não puder deixar de fazê-lo. E sempre se pode deixar.
terça-feira, 28 de fevereiro de 2012
segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012
DOWNLOAD Goth
Mais um filmaço. Goth conta a história de um casal de colegiais que, fascinados por assassinatos e o macabro, saem à caça de um serial-killer… Um filme incomum, recheado de personagens ambíguos e estranhos. Roteiro inteligentíssimo. Para ver, clique na imagem.
domingo, 26 de fevereiro de 2012
TRECHO A Arte da Distração
Hanif Kureishi
A verdade é que os mais sãos não costumam ser os mais criativos. Como nos recordou Proust: ‘Tudo que existe de bom no mundo procede dos neuróticos. Desfrutamos mil manjares intelectuais, mas não temos ideia do preço pago por seus criadores sob a forma de noites insones, lágrimas, gargalhadas espasmódicas, erupções, asma, epilepsia e medo da morte, que é o pior de tudo.’ O que me tranquilizava era o seu entusiasmo, seu empenho no trabalho. Nossas reuniões lhe proporcionavam uma estrutura útil. Acredito que, na ausência de um professor que acompanhasse esse processo, ele teria dado penosas e intermináveis voltas, vendo-se cada vez mais isolado. Sua criação era uma das mais estranhas e imaginativas que já li, muito distante do realismo rombudo e dos convencionalismos que a maioria dos aprendizes costuma considerar um trabalho inspirado.
sábado, 25 de fevereiro de 2012
sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012
SONHOS E PESADELOS DE
Roberto Bolãno
1. Sonhei que Georges Perec tinha três anos e visitava minha casa. O abraçava, o beijava, lhe dizia que era um menino precioso.
9. Sonhei que Macedonio Fernández aparecia no céu de Nova York em forma de nuvem: uma nuvem sem nariz nem orelhas, mas com olhos e boca.
11. Sonhei que em um cemitério esquecido da África encontrava a tumba de um amigo cujo rosto já não podia recordar.
13. Sonhei que lia Stendhal na Estação Nuclear de Civitavecchia: uma sombra deslizava pela cerâmica dos reatores. É o fantasma de Stendhal, dizia um jovem com botas e nu da cintura pra cima. E você, quem é?, perguntei. Sou o yonqui da cerâmica, o húsar da cerâmica e da merda, disse.
14. Sonhei que estava sonhando, tínhamos perdido a revolução antes de fazê-la e decidia voltar para casa. Ao tentar me enfiar na cama encontrei De Quincey dormindo. Acorda, dom Tomás, lhe dizia, já vai amanhecer, você tem que ir. (Como se De Quincey fosse um vampiro.) Mas ninguém me escutava e eu voltava a sair para as ruas escuras da Cidade do México.
15. Sonhei que via nascer e morrer Aloysius Bertrand no mesmo dia, quase sem intervalo de tempo, com se os dois vivêssemos dentro de um calendário de pedra perdido no espaço.
17. Sonhei que era um detetive velho e enfermo e que buscava gente perdida havia muito tempo. Às vezes me olhava por acaso num espelho e reconhecia Roberto Bolaño.
20. Sonhei que o cadáver voltava à Terra Prometida montado em uma Legião de Touros Mecânicos.
23. Sonhei que voltava da África em um ônibus cheio de animais mortos. Numa fronteira qualquer aparecia um veterinário sem rosto. Sua cara era como um gás, mas eu sabia quem era.
24. Sonhei que Philip K. Dick passeava pela Estação Nuclear de Civitavecchia.
29. Sonhei que traduzia Virgilio com uma pedra. Estava nu sobre uma grande pedra de basalto e o sol, como diziam os pilotos de caça, flutuava perigosamente às 5.
31. Sonhei que a Terra acabava. E que o único ser humano que contemplava o fim era Franz Kafka. No céu, os Titãs lutavam até a morte. De um banco de ferro forjado de um parque em Nova York, Kafka via arder o mundo.
32. Sonhei que estava sonhando e que voltava para casa muito tarde. Na minha cama encontrava Mario de Sá-Carneiro dormindo com meu primeiro amor. Ao descobri-los, percebia que estavam mortos e mordendo-me os lábios até sangrar eu voltava aos caminhos vicinais.
34. Sonhei que era um detetive latino-americano muito velho. Vivia em Nova York e Mark Twain me contratava para salvar a vida de alguém que não tinha rosto. Vai ser um caso condenadamente difícil, senhor Twain, dizia a ele.
36. Sonhei que fazia um 69 com Anaïs Nin em cima de uma enorme rocha de basalto.
37. Sonhei que fodia com Carson McCullers numa casa em penumbras na primavera de 1981. E nós dois nos sentíamos irracionalmente felizes.
40. Sonhei que uma tempestade de números fantasmais era a única coisa que restava dos seres humanos três bilhões de anos depois que a Terra havia deixado de existir.
42. Sonhei que tinha 18 anos e via meu melhor amigo de então, que também tinha 18 anos, fazendo amor com Walt Whitman. Faziam numa poltrona, contemplando o entardecer borrascoso de Civitavecchia.
45. Sonhei que Pascal falava do medo com palavras cristalinas em uma taberna de Civitavecchia: “Os milagres não servem para converter, senão para condenar”, dizia.
47. Sonhei que Baudelaire fazia amor com uma sombra numa casa onde haviam cometido um crime. Mas Baudelaire não estava nem aí. “É sempre a mesma coisa”, dizia.
50. Sonhei que depois da chuva um escritor russo e também seus amigos franceses optavam pela felicidade. Sem perguntar nem pedir nada. Como quem se derruba sem sentido sobre seu tapete favorito.
53. Sonhei que voltava às estradas, mas desta vez não tinha 15 anos e sim mais de 40. Só tinha um livro, que levava em minha pequena mochila. De repente, enquanto ia caminhando, o livro começa a arder. Amanhecia e quase não passavam carros. Enquanto jogava a mochila chamuscada em um canal, senti que minhas costas coçavam como se tivesse asas.
55. Sonhei que ninguém morre na véspera.
56. Sonhei que um homem voltava sua vista atrás, sobre a paisagem anamórfica dos sonhos, e que sua mirada era dura como aço mas também se fragmentava em múltiplas miradas cada vez mais inocentes, cada vez mais deslavidas.
57. Sonhei que Georges Perec tinha três anos e chorava desconsoladamente. Eu tentava acalmá-lo. O pegava os braços, lhe comprava guloseimas, livros para pintar. Logo íamos para o Passeio Marítimo de Nova York e enquanto ele descia pelo escorregador eu me dizia a mim mesmo: não sirvo para nada, mas servirei para cuidar de você, ninguém te fará mal, ninguém tentará te matar. Depois começava a chover e voltávamos tranquilamente para casa. Mas onde estava nossa casa?
Tradução: Ronaldo Bressane é jornalista e escritor e assina o blog Impostor.
quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012
Segredos
“O segredo da boa escrita é dizer uma coisa antiga de uma maneira nova ou uma coisa nova de uma maneira antiga.”
Richard Harding David (1864-1916)
quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012
TRECHO Memórias
Tennessee Williams
"O que significa ser um escritor? Eu diria que significa ser livre.
Sei que muitos escritores não são livres, que são profissionalmente empregados, o que é uma coisa inteiramente diferente.
Profissionalmente, são talvez melhores escritores, no sentido convencional do "melhor". Têm ouvido para as demandas de best-sellers: agradam a seus editores, e presumidamente também ao seu público.
Mas não são livres, e, assim, não são o que considero o que um verdadeiro escritor deve ser.
Ser livre é realizar com êxito sua vida.
Isto compreende qualquer número de liberdades.
Significa a liberdade de parar quando lhe agradar, de ir aonde e quando quiser, de ser um viajante aqui e ali, um viajante que abandona muitos hotéis, triste ou alegre, sem obstrução e sem muita pena.
Significa a liberdade de ser. E - alguém observou sabiamente - se você não pode ser você mesmo, que importância tem ser qualquer coisa?"
terça-feira, 21 de fevereiro de 2012
CONTO Marcas
José Marcelo
O mundo que muda – despindo-se devagar, a camisola caindo no chão sujo do quarto barato. O mundo dela que antes ele achara lindo e que agora mostrava a sua verdadeira face: as marcas, finas, profundas, marcas demais, feridas demais em sua pele clara.
Ela se ajoelha, ainda de costas para ele. Ergue o braço, aponta a mala largada no canto:
__ Na mala. Lá dentro, na mala __ diz ela.
Ele desce da cama, nu, meio encolhido, caminha até a mala, abre-a e pega o pequeno chicote. Ele olha para a mulher e ela deitou-se no chão, de olhos fechados, de bruços:
__ Você disse que era importante me fazer gozar. Vai. Faça isso. É só assim que consigo. Me bata. Me bata até sangrar.
Ele aproximou-se, ele hesitou, então ele ergueu o chicote e começou a bater.
vuuuuuuuup!
Ela gemia, ela chorava, ela pedia mais… enquanto as feridas se abriam e o sangue começava a escorrer sobre a pele nua.
vuuuuuuuup!
Ele sentiu um odor forte e viu a urina escorrer da vagina e entre as pernas da mulher.
vuuuuuuuup!
Ela gemia e agora ela enfiava dois dedos dentro de sí mesma.
vuuuuuuuup!
__ Ai, eu tou gozando, eu tou gozando.
Ela ergueu-se de-repente e puxou o pau dela para a boca e abocanhou-o enquanto ainda se masturbava e
vuuuuuuuup!
ela quase mordeu-o quando chegou ao orgasmo.
vuuuuuuuup!
E continuou chupando-o até que ele também gozasse. E ela lambeu e engoliu quase faminta e com a respiração trêmula.
vuuuuuuuup!
E na cama, logo depois, o homem e a mulher exaustos, o sangue ainda escorrendo nas costas dela e na ponta do chicote, ambos iluminados pelas luzes dos carros que raramente passavam lá fora.
A mulher disse:
__ Isso foi bom. Ainda está doendo.
__ Desculpe.
__ Não estrague o momento, querido.
Ela levantou-se e foi ao banheiro e tomou uma longa ducha fria e lavou o sangue que escorreu e ela sorriu.
Quando voltou ao quarto, ele dormia de bruços. Era muito bonito, pensou. Então ela pegou o chicote e enrolou-o no pescoço dele e subiu em cima dele e começou a apertar. Ele acordou e tentou soltar-se e debater-se, mas ela sabia como desviar de seus murros e apertar mais e mais. Não demorou muito. Ele mijou-se e cagou-se e sangue e saliva saíram de sua boca e nariz e então ele morreu. O fedor era intenso.
Ela vestiu-se e passou batom e viu seu rosto no espelho, um rosto bonito, delicado, inocente até.
__ Obrigado, meu bem __ disse, e saiu do quarto apagando a luz.
Do lado de fora do quarto: uma parada de ônibus e um posto de gasolina. Foi até a bilheteria e comprou uma passagem para algum lugar distante a mais de um dia de viagem. Depois foi até a lanchonete, pediu um sanduiche e um refrigerante, sentou-se em uma mesa gelada e ficou olhando o sol nascer lá fora.
Era de um alaranjado lindo que ia aumentando e tornando-se mais e mais claro à medida que o dia ia surgindo.
O ônibus chegou por volta das sete horas. Ela subiu e sentou-se na última cadeira e pegou o celular e discou um número e disse:
__ Está feito __ E sem dizer mais nada, desligou.
segunda-feira, 20 de fevereiro de 2012
DOWNLOAD círculo do medo
Sinopse: Cape Fear é Um dos grandes clássicos do suspense dos anos 50-60. Max Cady (Robert Mitchum) é um ex-presidiário determinado a realizar uma terrível vingança contra Sam Bowden (Gregory Peck) e sua família. Sam é advogado numa pequena cidade e seu pior pesadelo se torna realidade quando o criminoso contra o qual testemunhou volta para perseguir sua jovem esposa (Polly Bergen) e sua filha adolescente (Lori Martin). Apesar da ajuda do chefe da polícia local (Martin Balsam) e um detetive particular (Telly Savalas), Sam não tem poderes legais para impedir Max neste jogo sádico de gato e rato. Finalmente Sam deve colocar a vida de sua família numa terrível armadilha e enfrentar seu inimigo em um dos mais aterrorizantes confrontos já mostrados no cinema. O diretor J. Lee Thompson constrói a tensão em cada cena tornando Círculo do Medo ema obra de arte do suspense.
Para ver, clique na imagem. Um oferecimento: Torrent-up turbo.
sábado, 18 de fevereiro de 2012
sexta-feira, 17 de fevereiro de 2012
CONNERY POR CONNERY
Quando me propuseram o papel de James Bond, eu não tinha nada a ver com o personagem. Ele era elegante e requintado, tinha classe e educação. Eu venho de uma família trabalhadora e fui educado na rua. Talvez a única coisa que realmente tínhamos em comum fosse o nosso sentido de humor. À medida que fui fazendo os filmes, cheguei a pensar que James Bond tinha arruinado as possibilidades de expansão da minha carreira. Mas consegui dar a volta a isso, porque, entretanto, fui fazendo os papéis que achava que devia fazer enquanto actor. Foi assim que fiz as pazes com James Bond. Agora é como um velho amigo. Contudo, enquanto espectador, o que menos me agrada na evolução da série Bond é que cada vez mais os filmes se distanciam da essência da personagem original. Falta-lhes o equilíbrio entre acção, história e personagens.