segunda-feira, 4 de janeiro de 2021

Todas as colheres sumiram e sobraram apenas facas

 


por josé marcelo da silva


Ela largou a faca e ficou olhando o quadro – o cavalo morrendo na lama, a criança gritando – pendurado no canto da sala. Ela pegou a faca e foi até o quadro e esfaqueou o quadro, a criança, não o cavalo. Ainda era uma coisa boa em si, pensou.

Ela ligou para a polícia, disse Silêncio para o homem curvado sobre a mesa, depois disse Eu gostaria de denunciar uma morte. Respondeu uma outra pergunta e desligou.

Pensou que um chá seria bom e colocou água para ferver. Enquanto o homem continuava a gemer e sangrar, ela tomou seu chá. Levou um breve susto quando a cadeira dele tombou. Ele tentava arrastar-se, mas estava fraco demais. Sangue demais se perdera. Mas aparentemente não o bastante.

Terminou o chá e pegou a faca e foi até o homem e começou a esfaquear a carne: a nuca e o pescoço e as costas e a bunda e as pernas. Deve ter sido umas quarenta facadas ou mais antes de a polícia arrombar a porta.

Quando eles entraram na cozinha, ela estava sentada ao lado do corpo e largara a faca.

Meu Deus, disse um dos pms.

Está tudo bem, respondeu ela. Ainda gosto de animais. Ela estava pensando no quadro.


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