Gótico americano…
Esta saga é importante sob diversos aspectos e pontos de vista. Não apenas por ser um dos melhores arcos da fase de Alan Moore no Monstro do Pântano como também por introduzir John Constantine. (Ainda hoje dono da revista de maior longevidade do selo Vertigo da DC Comics: Hellblazer.) Também faz um ótimo panorama da clássica cartilha de horror americano com zumbis e vampiros e lobisomens e casas assombradas e assassinos seriais e etc. Tudo devidamente apresentado com um novo sopro de vitalidade. Algo sempre bem vindo em qualquer gênero.
Citações eruditas e pop. Personagens antigos retornando de modo magistral. Temas inteligentemente desenvolvidos. Alan Moore demonstra nesta saga porque é Alan Moore.
Cada edição é uma pequena obra prima que no final se mostra como um grande amálgama literário da melhor qualidade. Alan Moore escreve poeticamente. Suas palavras e frases receberam elogios de respeitadas revistas literárias. Os desenhos de Rich Veitch e John Totleben e Stan Wotch e Stephen Bissett e Alfredo Alcala são como pinturas cheias de detalhes e tão vivas que você quase pode sentir o cheiro de musgo e horror.
Aviso aos leitores que os resumos a seguir estão cheios de SPOILERS. Enfim. Conheça American Gothic.
E como disse o estripador "Vamos por partes".
1: "RAIZES"
O Monstro do Pântano Alec está desaparecido. Provavelmente morto. Abby está desconsolada. Na noite úmida da Louisiana ela anda pelo Pântano à procura de seu amado. "Alec? Alec, você está por aqui?" Então ela o encontra. Um broto apenas mas Abby sabe que o seu amor voltou.
Enquanto isso o mago inglês e canalha preferido de todos investiga. John Constantine sabe que alguma coisa está voltando. Ele não tem certeza do que é. Sabe apenas que é algo horrendo e mais antigo do que qualquer um poderia imaginar. Entre seus amigos ele descobre as pistas do que pode ser: Cthulhu ou Satã ou um "enorme campo energético extragaláctico que foi tragado por um buraco negro oito bilhões de anos atrás". O horror. Finalmente as investigações levam Constantine ao Monstro do Pântano. Ainda recuperando as energias e enraizado. Consta tine promete conhecimento a Alec. "A verdade sobre si mesmo." Se Alec o ajudar. "Daqui a uma semana vou estar em Rosewood. Se conseguir chegar até lá nós conversaremos" diz Constantine.
2: "AGUAS SILENCIOSAS"
O Monstro do Pântano chega a Rosewood. Um cidade sob um lago. Sob as águas paradas o horror floresceu. Vampiros encontraram a morada perfeita na aparente calma das águas escuras e profundas. Alguns garotos tomando banho e se divertindo são vítimas da fome dos vampiros. Constantine diz a Alec que lhe dará as respostas que ele procura depois que o problema for resolvido. A arrogância do inglês irrita Alec. Ele pensa seriamente em socar Constantine. Mas mergulha nas águas de Rosewood. "Pronto. Agora nós dois estamos entregues a uma autoridade maior" diz Constantine.
3: "HISTÓRIA DE PESCADOR"
O Monstro do Pântano confronta os vampiros submersos e sua rainha. Uma nova raça de sanguessugas está nascendo. Criaturas monstruosas nascem de ovos e despedaçam o corpo vegetal de Alec. Os pais dos meninos mortos na edição anterior vêm a procura de seus filhos. Chegam a tempo apenas de morrer ou fugir desesperados para contar sua terrível história. Alec mergulha sua mente na vegetação em volta do lago e se transforma na própria. Ele sacode seus "vastos e enterrados ombros... e as águas de Rosewood retornam à correnteza materna... que a gerou" matando todos os vampiros. Constantine menciona a Brujeira pela primeira vez. "As pessoas que estão por trás de tudo."
4: "A MALDIÇÃO"
Uma história sobre menstruação e lobisomens. Em Kennescook no Maine há uma mulher chamada Phoebe que está passando por uma crise. Ela sente dificuldade em controlar sua raiva. Seus instintos mais secretos. "O ódio em trevas se transformando. Contido. Emudecido. Sua boca é uma ferida vermelha. Seus olhos estão famintos. Famintos pela lua." E na noite sob a lua gorda e cheia ela se transforma. O animal interior arranca a pele da superfície e surge. Um lobo enorme e faminto. "Faminto pela lua." Ela uiva. Os pêlos eriçados. Ela salta sobre seu marido idiota. Esse imbecil que a trata como... como um animal. Ela ergue a garra. Olhe para ele. Chorando. Aterrorizado. Seu marido. Ela hesita. E corre. Ela destrói tudo em seu caminho. A Estufa. A Caixa do Correio. Uma vitrine de uma loja de noivas. E ela chega ao super mercado. As pessoas correm aterrorizadas. E salta sobre as facas de prata... Alec a carrega para fora. Alec que nada pudera fazer para impedir a tragédia porque "este não é o meu lugar de poder... é o dela". Phoebe. Ela voltou a ser apenas Phoebe. Uma linda dona de casa que morre nos braços do Monstro do Pântano olhando para a lua.
5: "Primeiro Ato"
"No que eles pensam em seus leitos sob o solo? no que os mortos pensam?" Às margens do pântano na Louisiana uma equipe de filmagem está preparando um minissérie que conta a história da velha Mansão Jackson. Descendentes de escravos ganham um bom dinheiro interpretando escravos. "Não é irônico?" diz Abby. "É humano" responde Alec. Mas logo as coisas começam a ficar estranhas. Os atores parecem agir não como se interpretassem papeis e sim fossem os personagens. O negro ativista vira um escravo submisso. O liberal se torna um arrogante dono de terras racista. Há algo acontecendo. Os extras começam a realizar antigos rituais. A atmosfera lembra um pesadelo. Abby percebe que há algo errado. E Alec resolve agir.
6: "FRUTO ESTRANHO"
Os mortos voltam numa noite de fogueiras e cânticos. A história antiga da Mansão Jackson conta como uma tragédia do passado amaldiçoou o lugar. Os mortos caminham e exigem reparação. Expiação dos pecados. A carne podre. Suas faces putrefatas. Seu andar lento e incerto. Os mortos estão aqui. O Monstro do Pântano incendeia a mansão Jackson. Quebra o ciclo de horror a que todos estavam presos. Mas alguns ficaram loucos. Outros morreram. E outros não tornaram a deitar-se.
INTERLÚDIO: "FRUTO MADURO"
Uma história sobre amor e vida e conhecer a si mesmo e não comer qualquer coisa que se encontre por aí. Um belo conto.
7: "BICHOS PAPÕES"
"Pensa num número entre um e cento e sessenta e quatro."
"Hmm... Cinquenta e oito."
"Cinquenta e oito. Deixa ver... Os olhos eram verde-acinzentados com pequenas manchas ocres ao redor do centro. Pergunta outro!"
Um assassino psicopata obcecado pelo olhar de suas vítimas. Um pântano cheio de surpresas. Um monstro feito de musgo e tão grande como uma árvore.
E Constantine se encontra com Steve Dayton. Dayton é o Mento da Patrulha do destino é terá papel fundamental nos acontecimentos a seguir.
8: "DANÇA MACABRA"
Aqui Moore entra no rol dos grandes escritos sobre casas assombradas. "Os estrondos. Os estrondos não devem parar." Um grupo de pessoas chegam a uma casa isolada. Eles entram. Os fantasmas aparecem. Começa a gritaria. Você já viu isso antes. Errado. Moore revitaliza mais uma vez. O barulho que os fantasmas fazem é estrondoso. Alec sabe que deve silenciar mais uma vez o horror. "Para silenciar estes fantasmas deve haver barulho." Ele soca as paredes e os estrondos ecoam e ecoam. Os fantasmas somem. Constantine o espera de fora com alguns amigos. "Eles vão ajudar nas fases finais" diz o inglês. O fim do mundo chegou.
9: "REVELAÇÃO"
Essa edição se passa durante a Mega-saga Crise nas Infinitas Terras. O fim do Multiverso. Constantine leva Alec através de uma cidade onde o tempo é agora. O amanhã. O ontem. Tudo é agora. Homens das cavernas e caçadores espaciais. Dinossauros e super-heróis. Bonnie e Clyde. O satélite da Liga da Justiça.
O pântano. Constantine fala a Alec sobre a Brujeira. "Uma sociedade secreta que vive há séculos nas matas da Patagônia na América do Sul... usando sua influência forçaram as trevas a emergirem ao redor do mundo... Cada incidente aumentava a crença das pessoas no paranormal até que toda a atmosfera psíquica se inchou como um balão pronto para estourar. Crença é poder. E a Brujeira pretende usar esse poder para concretizar algo monstruoso." Constantine completa: "Eles pretendem trazer algo de volta... É o paraíso... eles querem destruir o paraíso".
10: "O PARLAMENTO DAS ÁRVORES"
Constantine leva o Monstro do Pântano ao Parlamento das árvores. No Brasil. Ao sul de Concórdia na nascente do rio Tefé. Lá Alec descobre que faz parte de uma antiga tradição de elementais das árvores. Ele é o atual senhor do verde. Possui poderes quase divinos. E deve usar esse poder sabiamente. "Cuidado com a raiva."
11: "ASSASSINATO DE CORVOS"
Uau. Uau. Eu me lembro da primeira vez que li essa edição. Uau. A narrativa em pequenos flashbacks. A narração perfeita de Constantine. Tecnicamente magistral. O suspense vai num crescendo até chegar ao clímax e nos deixar boquiabertos.
Constantine e Alec encontram alguns amigos na porta da caverna onde a Brujeira se esconde para tramar a queda do Céu. A idéia é o Monstro do Pântano entrar e matar todos da seita. Constantine e seus amigos impedirão que alguém escape. Mas o plano dá errado. Há um traidor entre eles. A Brujeira não deixou nenhuma planta no interior da caverna. O Monstro do Pântano era esperado.
Constantine é capturado. Os outros são assassinados. Alec não consegue entrar no covil da Brujeira.
Eles jogam lama podre sobre Constantine e começam o ritual de horror.
Alec encontra uma brecha. Ele penetra na caverna. Uma mulher é transformada em pássaro negro. Constantine grita a Alec que a mate. Mas não há tempo. Constantine está morrendo sob a lama. Alec o salva. O pássaro ergue-se e voa ao além.
12: "A CONVOCAÇÃO"
Lista de presença: Espectro e Zatara e Zatanna e Sargon e Barão Winters e Desafiador e Etrigan e Abel e Caim e Vingador Fantasma e Steve "Mento" Dayton e Senhor Destino e Constantine e o Monstro do Pântano. A Convocação começou. Constantine procura aliados no plano terreno enquanto Alec faz o mesmo nos reinos do além.
"Um pássaro negro estava voando sob o solo. Em seu bico ele carregava uma pérola negra."
Alec havia assassinado todos os integrantes da Brujeira ao soterrá-los sob toneladas de terra. Agora caminhava pelo céu e pelo inferno. Caminhava em direção ao que quer que estivesse se erguendo: Cthullu ou Satã ou uma entidade cósmica. Ou o que quer que fosse. Ninguém ainda sabia.
Constantine reunia seus amigos ocultistas na mansão do Barão Winter. Alec se juntava a um exército que reunia anjos e demônios. A guerra estava declarada.
E o pássaro negro entregou a pérola.
"A Convocação terminou. A noite está chegando."
Nos mares rubros algo se erguia.
13: "O FIM"
A Escuridão. Uma entidade acima e além da compreensão humana. Vasta como o desconhecido. Como um exército pronto a sacrificar-se Alec e seus companheiros (Vingador Fantasma e Desafiador e Espectro e Senhor destino e anjos e demônios) marcham à Escuridão.
No plano terreno os ocultistas se reúnem ao redor de uma mesa. Mento faz a ligação com o além. Eles irão transferir suas energias psíquicas aos combatentes no além.
E começa.
Um a um os combatentes são derrotados. O inimigo se ergue como uma gigantesca barreira de treva que some no alto. Os combatentes mergulham em seu interior e são facilmente rechaçados. Nem o todo poderoso Espectro conseguiu. Tudo parece perdido.
Alec entra no interior da Escuridão.
No plano terreno os ocultistas começam a morrer. seus corpos não conseguem suportar tanto acúmulo de energia.
Alec está dentro da entidade.
E ele sai. Ileso.
Por um momento nada acontece.
Então a Luz surge acima e a Escuridão se ergue para encontrá-la. Todos esperam a batalha. Mas o que acontece a seguir desafia a lógica. Não há luta. A Escuridão e a Luz estão dando as mãos. Estão se unindo.
"Eu não entendo" diz Mento um instante antes de enlouquecer.
...
E é isso. Espero ter conseguido chamar a atenção de novos leitores para esta saga bem como fazer com que os leitores antigos a releiam. Eu mesmo já a reli muitas vezes. E é sempre prazeroso. Há sempre um novo detalhe. Uma nova citação. Um diálogo. Uma metáfora. Algo nas entrelinhas que deixei passar das outras vezes. Coisa de gente grande. Como a boa literatura.