terça-feira, 27 de abril de 2021

CACHORRO IDIOTA! CUJO!

"Frank Dodd está morto e a cidade de Castle Rock pode ficar em paz novamente. O serial-killer que aterrorizou o local por anos agora é apenas uma lenda urbana, usada para assustar criancinhas. Exceto para Tad Trenton, para quem Dodd é tudo, menos uma lenda. O espírito do assassino o observa da porta entreaberta do closet, todas as noites. Você pode me sentir mais perto… cada vez mais perto."

“Aquele monstro que fugira de seu closet. Junto dos ratos não havia monstros.”

“Era um som grave e forte, como de um motor de popa em marcha lenta. Ronnie sabia que só um cachorro enorme produziria um som daqueles.”

Cujo, de Stephen King.

Aqui, um trecho de uma entrevista de Stephen King sobre o livro:

“ENTREVISTADOR
Cujo é incomum porque o livro inteiro é um único capítulo. Você planejou isso desde o início?

KING
Não, Cujo era um livro normal em capítulos quando foi concebido. Mas eu me lembro de pensar que queria que o livro atingisse o leitor como se fosse um tijolo jogado pela janela. Sempre achei que o tipo de livro que eu escrevo – e meu ego é grande o bastante para pensar que todo escritor devia fazer isso – devia ser uma espécie de agressão pessoal. Devia ser alguém pulando por cima da mesa, devia agarrar e intimidar o leitor. Devia provocá-lo. Devia incomodá-lo, perturbá-lo. E não só porque ele ficou com nojo. Quer dizer, se alguém me mandar uma carta e disser que não conseguiu jantar, o que eu penso é: ‘Ótimo!'”


Você por ler Cujo aqui.



quarta-feira, 21 de abril de 2021

UM MORCEGO

Que trecho maravilhoso:

Uma testemunha ocular retratava o assassinato de um cafetão, atingido a curta distância com um tiro no olho: "De trás de sua cabeça saiu voando um morcego e bateu contra o papel de parede. Meu coração quase parou de bater".

O Medo do Goleiro Diante do Penalti, por Peter Handke.


O MESTRE E O MORTO



Tom Savini e uma de suas criaturas, em 'O dia dos Mortos', do fantástico George A. Romero.



 

sexta-feira, 16 de abril de 2021

O ODOR, A MORTE, O FASCÍNIO

 


"...as pessoas podiam fechar os olhos diante da grandeza, do assustador, da beleza, e podiam tapar os ouvidos diante da melodia ou de palavras sedutoras. Mas não podiam escapar ao aroma. Pois o aroma é um irmão da respiração - ele penetra nas pessoas, elas não podem escapar-lhe caso queiram viver. E bem para dentro delas é que vai o aroma, diretamente para o coração, distinguindo lá categoricamente entre atração e menosprezo, nojo e prazer, amor e ódio. Quem dominasse os odores dominaria o coração das pessoas."

Essa história de obsessão e crime, escrita belamente (em uma mistura de Umberto Eco, De Sade, Poe entre outros) conta a história de uma obsessão e a procura pelo cheiro perfeito. Crime, a alma e a torpeza humana. Um livro que deveria ser mais lido. (Estou relendo-o.) Delicie-se.

~ O perfume, por Patrick Suskind, pode ser comprado Aqui.



quarta-feira, 14 de abril de 2021

segunda-feira, 12 de abril de 2021

VACINA VACINA PARA TODOS

Ilustração de Natália Gregorini para Women in Times no Instagram (vi em @Debora_D_Diniz no twitter).


domingo, 11 de abril de 2021

Uma solitária voz humana


Não sei do que falar… Da morte ou do amor? Ou é a mesma coisa? Do quê?

Estávamos casados havia pouco tempo. Ainda andávamos na rua de mãos dadas, mesmo quando entrávamos nas lojas. Sempre juntos. Eu dizia a ele "eu te amo". Mas ainda não sabia o quanto o amava. Nem imaginava… Vivíamos numa residência da unidade dos bombeiros, onde ele servia. No segundo andar. Ali viviam também três famílias jovens, e a cozinha era comunal. Embaixo, no primeiro andar, guardavam os carros, os carros vermelhos do corpo de bombeiros. Esse era o trabalho dele. Eu sempre sabia onde ele estava e o que se passava com ele. No meio da noite, ouvi um barulho. Gritos. Olhei pela janela. Ele me viu: "Feche a persiana e vá se deitar. Há um incêndio na central. Volto logo".

A explosão, propriamente, eu não vi. Apenas as chamas, que iluminavam tudo… O céu inteiro… Chamas altíssimas. Fuligem. Um calor terrível. E ele não voltava. A fuligem se devia à ardência do betume, o teto da central estava coberto de asfalto. As pessoas andavam sobre o teto como se fosse resina, como depois ele me contou. Os colegas sufocavam as chamas, enquanto ele rastejava. Subia até o reator. Arrastavam o grafite ardente com os pés… Foram para lá sem roupa de lona, com a camisa que estavam usando. Não os preveniram, o aviso era de um incêndio comum…

Quatro horas… Cinco horas… Seis… Nós tínhamos combinado de ir às seis horas à casa dos pais dele, para plantar batatas.

(...)

Às vezes parece que escuto a voz dele… Que está vivo… Nem as fotografias me tocam tanto quanto a voz dele. Mas ele nunca me chama. Nem em sonhos… Sou eu que o chamo… Sete horas… Às sete horas me avisaram que ele estava no hospital. Corri até lá, mas havia um cordão de policiais em torno do prédio, ninguém passava. As ambulâncias chegavam e partiam. Os policiais gritavam: "Os carros estão com radiação, não se aproximem". Eu não era a única, todas as mulheres cujos maridos estavam na central naquela noite vieram correndo, todas. Quando vi saltar de um carro uma conhecida que trabalhava como médica no hospital, corri e a segurei pelo jaleco:

"Me deixe entrar!"
“Não posso! Ele está mal. Todos estão mal.”
Agarrei‑a com força: "Só quero ver o meu marido."
"Está bem", ela disse. "Vamos correr. Mas só por quinze, vinte minutos."
Eu o vi… Estava todo inchado, inflamado… Os olhos quase não apareciam…
"Ele precisa de leite. Muito leite!”, ela me disse. “Eles devem beber ao menos três litros."
"Mas ele não bebe leite."
"Agora vai ter de beber."

Muitos médicos, enfermeiras e, sobretudo, as auxiliares daquele hospital, depois de algum tempo, começaram a adoecer. Mais tarde morreriam. Mas na época ninguém sabia disso…

(...)

Ela imediatamente me perguntou: "Querida! Pobrezinha… Você tem filhos?".

Como dizer a verdade? Estava claro que eu devia esconder a minha gravidez, ou não me deixariam vê‑lo! Ainda bem que eu era muito magra e não se notava nada.

"Tenho", respondi.
"Quantos?"
Eu pensei: "É melhor dizer dois. Se disser um, talvez não passe".
"Um menino e uma menina."
"Se são dois, então, creio que não terá mais. Agora escute: o sistema nervoso central foi completamente atingido, a medula está totalmente afetada."
"Bem", pensei, "ele deve estar mais nervoso."
"Mais uma coisa: se você chorar, eu a retiro de lá imediatamente. É proibido abraçar e beijar. Não se aproxime muito. Você tem meia hora."

Mas eu sabia que não iria embora dali. Só iria com ele. Eu havia jurado a mim mesma!

(...)

Há um fragmento de uma conversa… Agora me veio à lembrança. Alguém tentava me convencer:

"Você não deve se esquecer de que isso que está na sua frente não é mais o seu marido, a pessoa que você ama, mas um elemento radiativo com alto poder de contaminação. Não seja suicida. Recobre a sensatez."

Mas eu estava como louca:
"Eu te amo! Eu te amo!"

Enquanto ele dormia, eu sussurrava: “Eu te amo!”. Caminhava no pátio do hospital: "Eu te amo!". Levava a comadre: "Eu te amo!". Ficava me lembrando de como vivíamos antes, da nossa casa… Ele só dormia segurando a minha mão. Tinha esse hábito, pegar no sono segurando a minha mão. A noite toda.

'Vozes de Tchernóbil', de Svetlana Alexiévitch. Uma autora de livros contudentes e necessários, que você pode ler aqui.



sexta-feira, 9 de abril de 2021

MINHA CONCEPÇÃO DE CINEMA


 I accept or reject a film based on my conception of cinema. The definition of political cinema is one I don't agree with, because every film, every show, is typically political in nature. ~ Gian Maria Volontè Actor, Director & Writer (1933–1994)

 


quarta-feira, 7 de abril de 2021

dora dorinha

José Marcelo


Veludo Azul de madrugada na tv e uma garrafa de vinho vagabundo pela metade.
__ Isso não ia dar em boa coisa mesmo __ como diria Dorinha com aquele sorriso safado que ela sabe dar tão bem.
Mas ela não está aqui. É. Nada de Dorinha tirando a roupa e tocando o bico de um dos seios:
__ Me beija. Aqui.
Aqui só o Veludo e o vinho.
E ele – velho, barrigudo, sozinho na madrugada de sábado para domingo. De novo pensando em morrer. Não em se matar. Apenas em morrer.
Mas na tv: A candy-colored clown they call the sandman tiptoes to my room every night just to sprinkle stardust and to whisper go to sleep.
Dorinha.
Eles tiveram bons momentos juntos. Muitos bons momentos. Momentos felizes. Dias e noites.
Felizes, Dorinha, felizes.
Mas agora, ele não está mais feliz. Muito menos ela. Ela nunca mais vai estar. Morta. Dorinha morta. Dorinha morta e enterrada. Sepultada.
A candy-colored clown they call the sandman tiptoes to my room every night just to sprinkle stardust and to whisper go to sleep.
Mas ele não consegue dormir. O sono não vem. Desconfia que nunca mais.
A candy-colored clown they call the sandman tiptoes to my room every night just to sprinkle stardust and to whisper go to sleep.
Quando percebe, já vestiu uma roupa qualquer, já saiu pela rua, já chegou no cemitério e já está no cemitério, já está diante da sepultura dela e já está chorando.
Quando se dá por si, já tirou o pau para fora e começou a masturbar-se. Ele se ajoelha sobre a terra fofa da sepultura e o contato daquela terra o faz lembrar do contato macio de Dora. Ele não demora a gozar. Um filete branco e longo que se espalha em um prazer grande demais e que o faz estremecer.
Ele quase pode ouvi-la:
__ Que gostoso, meu amor, que gostoso.


A CABEÇA CORTADA


O mais pessoal dos filmes de Peckimpah. Tragam-me a cabeça de Alfredo Garcia (1974), Um filme onde cada bala tem um peso emocional. Coisa de grandes diretores.


PELOS PECADOS DO HOMEM



A última tentação de Cristo (1988), dirigido por Martin Scorsese. O Deus, O homem, O Deus-homem e a dor pela humanidade perfeitamente pintada aos cinemas por Scorsese. Da obra de Nikos Kazantzakis.

 


TONIGHT


Família Addams 2 (1993), dirigido por Barry Sonnenfeld. O melhor do humor sombrio. Os personagens, os diálogos, o roteiro. Um deleite.


 

domingo, 4 de abril de 2021

sexta-feira, 2 de abril de 2021

not lonely

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“You're really not lonely?" she asked one last time. And while I was searching for a good reply, her train came.


— Haruki Murakami - Pinball, 1973



As regras de Vonnegut para escrever contos

 

Seguem algumas dicas para escrever contos, da antologia "Bagombo Snuff Box" de Kurt Vonnegut .

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1. Utilize o tempo de um completo desconhecido de um jeito que ele não sinta que foi tempo desperdiçado. 

2. Dê ao leitor pelo menos um personagem com o qual ele/ela possa se identificar.

3. Cada personagem deve querer algo, mesmo que seja apenas um copo d'água.

4 . Cada sentença deve fazer uma destas duas coisas - revelar o personagem ou avançar a ação.

5. Comece o mais perto possível do final.

6. Seja um sádico. Não importa quão doces ou inocentes sejam seus protagonistas, faça com que coisas horríveis ocorram a eles - de modo que o leitor possa ver do que eles são feitos.

7. Escreva para agradar apenas uma única pessoa. Se você abrir a janela e fizer amor para o mundo, por assim dizer, sua história pegará pneumonia.

8. Dê a seus leitores o máximo de informação possível o mais rápido possível. Que se dane o suspense. Os leitores devem ter uma compreensão tão completa do que está acontecendo, de quando e do porquê, que eles mesmos poderiam terminar a história, deixando as últimas páginas para serem devoradas pelas traças.

Texto original extraído do blog Boing Boing, de Cory Doctorow.

 

DE FODER

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BORDAS

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TRAMAS

Kurt Vonnegut

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Garanto a você que nenhum esquema narrativo moderno, nem mesmo a ausência de enredo, dará ao leitor satisfação genuína, a menos que uma daquelas tramas à moda antiga seja contrabandeada para dentro da história. Não defendo a trama como representação acurada da vida, mas como forma de manter o leitor lendo. Quando eu dava aulas de criação literária, costumava recomendar aos estudantes que fizessem seus personagens desejar alguma coisa imediatamente – mesmo que apenas um copo d’água. Personagens paralisados pela ausência de sentido da vida moderna ainda precisam beber água de vez em quando. Um dos meus alunos escreveu um conto sobre uma freira que ficou com um pedaço de fio dental preso entre os molares inferiores e não conseguia se livrar dele o dia inteiro. Achei isso maravilhoso. A história lidava com questões muito mais importantes do que fios dentais, mas o que mantinha os leitores presos era a ansiedade de saber quando o fio dental seria finalmente removido. Era impossível ler aquele conto sem sentir um incômodo entre os dentes. (…) Se você exclui a trama, se elimina o desejo de alguém por alguma coisa, você exclui o leitor, o que é uma coisa muito feia de fazer.

todoprosa.


 

AI AI


 

A FERA NAGISA ÔSHIMA


 

quinta-feira, 1 de abril de 2021

FOI O PIOR DOS TEMPOS...


Josey Wales, o Fora da Lei (1976), um filmaço, um grande western dirigido por Eastwood. Um filme macho, no sentido de duro e violento.


 

E FRANKENSTEIN CRIOU A MULHER!


Bons tempos da Hammer, elegante, mas sem jamais esquecer-se da carnificina.


 

O MAIS CRUEL DOS MESES

 


“April is the cruellest month, breeding Lilacs out of the dead land, mixing Memory and desire, stirring Dull roots with spring rain.”

T.S. Eliot - The Wasteland 

 

De @Bertrom (twitter).