quarta-feira, 7 de abril de 2021

dora dorinha

José Marcelo


Veludo Azul de madrugada na tv e uma garrafa de vinho vagabundo pela metade.
__ Isso não ia dar em boa coisa mesmo __ como diria Dorinha com aquele sorriso safado que ela sabe dar tão bem.
Mas ela não está aqui. É. Nada de Dorinha tirando a roupa e tocando o bico de um dos seios:
__ Me beija. Aqui.
Aqui só o Veludo e o vinho.
E ele – velho, barrigudo, sozinho na madrugada de sábado para domingo. De novo pensando em morrer. Não em se matar. Apenas em morrer.
Mas na tv: A candy-colored clown they call the sandman tiptoes to my room every night just to sprinkle stardust and to whisper go to sleep.
Dorinha.
Eles tiveram bons momentos juntos. Muitos bons momentos. Momentos felizes. Dias e noites.
Felizes, Dorinha, felizes.
Mas agora, ele não está mais feliz. Muito menos ela. Ela nunca mais vai estar. Morta. Dorinha morta. Dorinha morta e enterrada. Sepultada.
A candy-colored clown they call the sandman tiptoes to my room every night just to sprinkle stardust and to whisper go to sleep.
Mas ele não consegue dormir. O sono não vem. Desconfia que nunca mais.
A candy-colored clown they call the sandman tiptoes to my room every night just to sprinkle stardust and to whisper go to sleep.
Quando percebe, já vestiu uma roupa qualquer, já saiu pela rua, já chegou no cemitério e já está no cemitério, já está diante da sepultura dela e já está chorando.
Quando se dá por si, já tirou o pau para fora e começou a masturbar-se. Ele se ajoelha sobre a terra fofa da sepultura e o contato daquela terra o faz lembrar do contato macio de Dora. Ele não demora a gozar. Um filete branco e longo que se espalha em um prazer grande demais e que o faz estremecer.
Ele quase pode ouvi-la:
__ Que gostoso, meu amor, que gostoso.


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