domingo, 28 de fevereiro de 2021

TANTAS FLORES

josé marcelo

blog 20-03 jardan de giverny

Todas aquelas borboletas voando ao meu redor e o perfume maravilhoso de tantas flores e eu olho para um céu azul onde pairam nuvens suaves...

Tudo bonito e tranquilo...

Quer dizer que eu morri em um jardim?

Por que nada disso me serve de consolo enquanto meu corpo começa a apodrecer?


A FENDA NUA


 



ESTE MUNDO CRUEL

Mais um filme foda pra caralho dos Irmãos Coen - e baseado em um livro de Cormac McCarthy. Um livro e um filme cruéis e fascinantes. Acho que instigante é a palavra certa. Mas como sou fã tanto dos cineastas como do escritor, talvez seja suspeito e... que nada.

Ambas as obras (que se completam?) são muito e muito e muito boas. 

  

sábado, 27 de fevereiro de 2021

GANSU NU

José Marcelo


Eu costumava acordar babando numa sala fria que tinha cheiro de mijo e merda. Eu me levantava e cambaleava até a janela gradeada. Eu gostava de ficar olhando as nuvens que tinham formas bizarras e a cor do céu que para mim sempre lembrou desespero e outra coisa que não gosto de lembrar. Eu gritava à noite e chorava e balançava o corpo de dia. Em meus melhores dias eu simplesmente ficava parado no meio da sala, sem me importar com os ecos e risos e choros e esbarrões dos outros. Em meus piores dias eu era amarrado em uma cama velha e sedado. Eu sonhava com uma mulher muito alta e muito bela que me deixava em êxtase e aterrorizado – depois eu acordava molhado e com marcas nos pulsos e tornozelos. Durante um tempo eu fui um louco e indigente internado em um hospício e durante um tempo parecia que seria assim para sempre. E durante muito tempo foi.

Mas para sempre é tempo demais e um dia eu fui declarado curado e colocado em um ônibus.

Saltei na última parada e estava chovendo. Havia um bar do outro lado da rua – o nome GANSO NU pintado na vidraça – e pisei em poças úmidas e corri até entrar em seu interior razoavelmente seco. Lá dentro estava abafado, embora chovesse, abafado como em um forno. Um velho ventilador girava como se fosse cair do teto de metal onde a chuva batia com força. O bar estava vazio. Eu me sentei em um canto. Enfiei a mão no bolso de onde tirei um punhado de notas amassadas. Não era muito, apenas o suficiente para uma semana, se eu economizasse bastante.

Uma garota de quinze ou quatorze anos apareceu ao meu lado e perguntou o que eu desejava. Ela sorria. Logo eu descobriria que sorrir para ela era algo tão natural como, não sei, respirar talvez. Eu olhei desanimado para meu dinheiro bagunçado e tentei sorrir. Acho que ela percebeu meu embaraço, porque disse, o prato do dia é bem barato. Eu, ah tudo bem. Ela, eu não demoro. E afastou-se.

Sobre o balcão havia um enorme pintura mal feita de um ganso com palavras tão apagadas entre suas pernas que praticamente ninguém poderia ler. Havia uma prateleira com garrafas de tantas cores que eu não reconheci muitas delas. Atrás do balcão, um homem com um pano cobrindo a cabeça lavava copos de costas para mim.

Alguém entrou, um sujeito de sobretudo, chapéu e barba rala, e sentou-se ao balcão. Eu vou beber um desses seus vinhos incrivelmente ruins, disse ele. Um homem inquieto, estendeu ambas as mãos abertas sobre o balcão, sorrindo muito, olhando ao redor, me vendo e sorrindo. Tirou o chapéu, exibindo uma cabeça raspada. Como vai, meu chapa?

Eu, Como?

Ele, perguntei como vai. Não precisa responder, tudo bem. Chuva dos diabos, não?

A menina voltou (o homem com o pano na cabeça continuava lavando copos e ignorando as pessoas ao redor). A menina perguntou, o que vai querer, senhor?

Ele virou-se para ela. Um vinho, disse, qualquer vinho. Sei que vou detestar de qualquer jeito.

Ora, você não pode ter tanta certeza.

Sim, posso, respondeu ele. Acredite em mim.

Qualquer um?

É. Qualquer um. Aquele com o pirata seria bom.

Hein?

Qualquer um.

A menina serviu-lhe uma dose. Deixe a garrafa, disse ele.

Ela deixou a garrafa e virou-se para mim. Não demora agora, disse ela. E voltou para a cozinha.

O careca tornou a encher o copo. Desviei o olhar. A menina trouxe o prato do dia e um refrigerante. Mas não afastou-se. Eu o conheço?

Eu, duvido. Desculpe.

Ela, é. Eu sou Cristina.

Eu, Mérimée.

Ela, Mérimée? Nome engraçado. Bem, vou deixá-lo em paz.

Está tudo bem.

Ela assentiu e voltou a desaparecer.

O careca disse, uma gracinha, hein? Linda.

Ignorei-o e comecei a comer. Estava com mais fome do que imaginara.

O careca sentou-se diante de mim. Não se lembra de mim? disse ele. Não, não, não se lembra. Se se lembrasse, não estaria tão calmo, certo?

Larguei o garfo. Muito bem, disse eu. Quem é você?

Puta merda. Você não se lembra mesmo. Assim não vai ter graça.

O que não vai ter graça?

Quando eu te matar.

Cai fora, lunático. Eu estava perdendo a paciência.

Ei, não é justo. Não era eu que estava internado na casa dos loucos. Bem…

O careca deu de ombros e colocou a pistola sobre a mesa. Ouvi um grito de susto. Era a menina, os olhos fixos na arma.

Sem olhar para ela, o careca disse, ei, menina bonita, por que você e o esquisito ai não vão para a cozinha e ficam por lá. Isso não é com vocês.

Quando o sujeito largou os copos na pia (eu o imaginara com uma expressão indiferente, mas agora ele parecia praticamente aterrorizado) e empurrou a menina para a cozinha, o careca acrescentou, estou num daqueles dias de ser bonzinho. Mas não se anime. Não vou ser bonzinho com você. Coma.

Perdi o apetite.

Não seja tolo. É sua última refeição.

Não, obrigado.

Hunf. Ele coça a cabeça, torna a me olhar. Hora da história, então. Mãos na mesa, anda, não vai fazer besteira agora.

Eu não preciso saber.

Eu preciso que você saiba.

Não faz diferença para mim.

Para mim faz. Para mim faz muita diferença.

Eu me levanto.

O que está fazendo? ele pergunta.

Se vai atirar, faça logo.

Hunf.

O barulho da chuva havia silenciado. Havia apenas o ventilador, girando e estalando.

Então tá, disse o careca. E atirou em mim.

Sabe, eu te segui desde a porra do hospício, disse ele. Imaginei que teríamos uma longa conversa. Eu lhe diria quem sou. Contaria o que você fez. Te mataria. Iria para casa e comemoraria. Simples. Mas você tinha que ser mal educado e estragar tudo.

Ele falava e eu estava estirado no chão, sangrando.

Ele continuou, puta que pariu, velho. Puta que pariu. Está certo. Isso já se prolongou demais. Não quis comer sua última refeição. Não quis ouvir minha história. Vai pelo menos dizer suas últimas palavras?

Eu cuspi sangue, me virei e tentei erguer-me. Não consegui. Eu comecei a arrastar-me, deixando um rastro vermelho. O careca caminhava sem pressa atrás de mim.

Isto é por Lara, disse ele. Este nome te diz alguma coisa? Lara. Lara. Nada?

Eu lembrei de uma mulher linda olhando a lua lá fora. Uma lua vermelha em uma noite quente. Ela virando-se para mim, meio trêmula, assustada, perguntando, eu vou ficar bem?

Eu vou ficar bem?

Sim, eu menti, não se preocupe.

O careca, agora, apontando a arma para minha nuca e sorrindo ao ver a expressão em meu rosto. Você se lembra.

Quem… era… ela?

Ele não responde. Apenas atira.


 


De Marçal Aquino

Entrevistadores:
Carlos Eduardo Moura
Silvio Anunciação

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Marçal Aquino, um representante da “nova literatura” brasileira
O escritor, jornalista e roteirista Marçal Aquino é, atualmente, o que se pode chamar de um escritor da nova literatura brasileira. Não é um “transgressor” e “rebelde”, nem tem a pretensão de sê-lo. Mas tem estilo. Suas obras – entre elas “Faroestes”, “Amor e outros objetos pontiagudos” e os recentes “Cabeça a Prêmio” e “Fomes de Setembro” – têm personagens complexos, prosa ágil, direta e contundente. Aquino tem currículo também. Na ficha corrida do escritor estão o roteiro para o filme “O Invasor”, de Beto Brant (premiado no festival de Sundance), o livro “Faroestes” (finalista do prêmio Jabuti de 2002) e “Amor e outros objetos pontiagudos” (ganhador do prêmio em 1999). Marçal foi também roteirista de mais dois filmes de Beto Brant (“Os Matadores” e “Ação Entre Amigos” e, este ano, está trabalhando o roteiro de “Cabeça…”, junto com Karim Aïnouz, diretor de “Madame Satã”). Na entrevista, feita por telefone, Marçal falou sobre literatura, realidade brasileira e cinema

A maioria dos seus personagens é formada por policiais corruptos, matadores, bandidos, enfim, personagens que vivem numa barbárie urbana. Como é isso?
Olha, eu discordo um pouco, acho que não tem só bandido e matador na minha literatura. Tem um olhar sobre uma certa periferia dos grandes centros e tem um olhar que é quase rural também. Me interessa muito essa coisa da realidade, a matriz da minha literatura é a realidade. Não significa que eu pegue o fato e o transcreva, porque aí eu estaria fazendo jornalismo e isso eu já faço pra ganhar a vida. A literatura tem um outro tipo de mirada. O ponto de partida pra mim sempre é a realidade, mas o resto é por conta da imaginação.

Esse tipo de literatura que você faz é pra causar algum tipo de desconforto e “reverter” esse quadro, que se parece com a situação do país?
Eu penso em contar histórias. Agora a literatura deve causar desconforto. Eu acho que a literatura não é feita pra confortar ninguém, não é por aí. A literatura deve, no mínimo, provocar dúvida, reflexão, embora, antes de mais nada, a literatura deva dar prazer (risos).

Qual é o processo pra você buscar os personagens?
Meu processo de criação é assim: eu não sei muito bem o que vai acontecer. Eu tenho só um pedaço da história, às vezes, só o começo, às vezes, só o título, e sei que ali tem algo secreto que me interessa desvendar. O personagem vem pronto para mim, ele vem inclusive com nome. Eu sei, por exemplo, que aquele nome é pertinente para ele. São raras as vezes que tenho que trocar o nome de um personagem. E aí eu digo pra você o seguinte: ele é todo mundo e ninguém, ele é uma soma de características. Não existe um personagem como aquele na realidade, ele é próprio da literatura, embora ele esteja aludindo a uma realidade já existente.

E isso está próximo ao seu cotidiano?
Eu gosto muito de andar pela rua, pra olhar pessoas, ouvir frases, eu sou um andarilho nesse sentido. Em qualquer cidade que eu chego, eu faço questão de me perder no centro da cidade pra olhar como é o povo, como falam… Isso é um depósito de histórias e possibilidades.

Esse negócio de realidade virou uma febre nos últimos anos, tanto na literatura como no cinema. Como você vê esse aparecimento de obras que falam da realidade? Quem você destacaria no meio disso tudo?
O momento é muito particular, tanto da literatura quanto do cinema. Eu acho muito saudável, porque é uma forma de você discutir, de propor reflexões sobre essa realidade. Evidentemente, como acontecem êxitos como “Cidade de Deus” e “Carandiru”, tem pessoas que olham aquilo como fórmula e tentam fazer coisas parecidas. Mas o tempo e o próprio público se encarregam de separar o joio do trigo. Quando, por exemplo, eu escrevi “O Invasor”, eu não estava ligado nesse modismo, acho que nem tinha saído o “Cidade de Deus” ainda, então eram coisas que eu queria discutir, e acabou virando um filme interessante, que eu gosto muito, e que discute essa realidade. Existe, sim, um pouco de modismo. Mas, ao lado disso, tem gente muito talentosa fazendo tanto literatura quanto roteiro – esse roteiro do “Cidade de Deus”, aliás, é primoroso, o Bráulio Mantovani escreveu partindo de outro livro primoroso do Paulo Lins.

Dos anos 90 pra cá, há toda uma geração de escritores, que foi classificada como transgressora no livro organizado pelo Nelson de Oliveira (“Geração 90: Os Transgressores”, ed. Boitempo). E surgiram muitas críticas, questionando se essa literatura era realmente transgressora ou não…
Tem duas perspectivas nessa questão. A primeira delas é que embora eu tenha participado da primeira coletânea que o Nelson fez, chamada “Geração 90: Manuscritos de Computador” (ed. Boitempo), naquele momento eu já conversava com pessoas e dizia: “Isso aqui é uma licença poética do Nelson”. Porque não são pessoas da mesma faixa etária, elas não têm um programa comum; é um grupo de escritores que aparece escrevendo num certo momento que mostra muita vitalidade. E nesse sentido o trabalho do Nelson é maravilhoso como mapeamento. A segunda perspectiva é a questão do “transgressor”, outro rótulo criado pelo Nelson pra agrupar os escritores. Eu já ouvi o próprio Nelson falar que a característica desses escritores era a narrativa não-linear quase infantil. O mérito dele é registrar quem está aparecendo. O problema da literatura nos últimos anos era sempre aquela coisa de publicar o primeiro livro. Na metade dos anos 90 pra cá, teve o fenômeno das pequenas editoras. Então, essa proliferação de editoras cria canais pra essa moçada toda conseguir veicular. E também tem o fator Internet. Eu me lembro na década de 70, quando eu comecei, pra ter contato com os outros escritores era através de correio. Você imagina hoje, com a Internet, você consegue não só passar a sua mensagem, mas a sua obra.

Mas e os “transgressores”?
Aqui em São Paulo tem muito essa coisa da convivência próxima, porque são muitos escritores convivendo no mesmo espaço. A gente tem uma relação de amizade, que extrapola a análise literária. Mas não gosto de todo mundo.

Quem você citaria como destaques?
O próprio Nelson de Oliveira me interessa. Outro é Luís Rufato. O trabalho dele é uma coisa fantástica, de primeira qualidade. Gosto muito do que o Ronaldo Bressane escreve. Leio o (Marcelo) Mirisola com carinho e muito interesse também, esperando que ele venha a dar prosseguimento na sua trajetória literária. Tem o Joca (Reiners Terron), que eu gosto sobretudo dos contos, o Cláudio Galperin, o Cadão Volpato e o Sérgio Fantini. E gosto da velha guarda também.

Existem dois escritores que são bem polêmicos por criticar bastante essa corrente da literatura brasileira que trata de realidade, violência etc., que é o Paulo Polzonoff e o Alexandre Soares Silva. O que você acha das críticas deles?
O Polzonoff eu acho muitas vezes que ele tem razão, como quando ele escreveu uma crítica sobre o livro do Chico Buarque, o “Budapeste”, que é uma das melhores leituras que o livro do Chico teve. Agora, às vezes eu acho que, ao criticar certos livros, ele sai do livro e vai pro autor. Mas, de qualquer maneira, vê-se que é um sujeito que lê bastante e escreve bem. Pessoalmente, eu lembro de uma vez que ele tinha criticado um livro meu chamado “Faroestes”. E, na seqüência, eu publiquei “O Invasor” e ele elogia o livro e, num certo momento, ele dizia que retirava tudo aquilo que ele tinha dito sobre o outro livro. Eu achei corajoso da parte dele (risos).

Sua obra tem muito de literatura policial. Na sua trajetória, você foi até repórter policial. E literatura policial, de maneira geral, sempre enfrentou certo preconceito. Mas a sua obra sempre foi bem recebida. Como é fazer esse tipo de literatura e ao mesmo tempo ter que fugir dos clichês do gênero?
Eu tenho uma certa dificuldade em me classificar como “escritor policial”, mas o rótulo não me incomoda. Mas, pra mim, literatura policial é aquela clássica, com detetive, a la Raymond Chandler. É curioso, porque eu não procuro escrever um “livro policial”. O “Cabeça a prêmio” era uma história de amor entre um pistoleiro e uma cafetina, então isso acabou trazendo esse mundo mais cinzento pras páginas do livro. Tanto que a trama policial ali é tênue, o que interessa é discutir os destinos humanos. Essa questão, vetusta, de dizer que literatura policial não é literatura, nem me incomoda. Eu leio grandes escritores, o Chandler é apenas um deles. No Brasil, o Rubem Fonseca é uma coisa fabulosa. Eu me vejo como escritor, um cara que quer contar as suas histórias, que às vezes são criminais e às vezes não. Costumo brincar que nos meus livros ninguém voa, se voar, eu explico o porquê.

Você vive de literatura?
Não, vivo de jornalismo. Eu sou um redator free-lancer. Trabalho em casa, escrevendo textos para empresas. O que paga as contas aqui em casa é o jornalismo. Eventualmente eu consigo dinheiro fazendo roteiro pra cinema, mais isso é outra arte marginal, né?

A sua relação com o Beto Brant é boa, né? Já foram três filmes…
É, começou com “Os Matadores”, depois “Ação Entre Amigos” e “O Invasor”. E agora eu fiz a adaptação com ele de um livro do Sérgio Sant’Anna, chamado “Um crime delicado”. Esse projeto está em fase de pré-produção, o Beto deve rodar no meio do ano. Ele gosta do universo que eu abordo nos meus livros. O livro que eu estava escrevendo no ano passado ele já disse vai filmar de qualquer maneira. Eu sempre que assisto a um filme e converso com o Beto, é uma oportunidade de aprender, porque o olhar dele é muito privilegiado.

Na sua vida, a prioridade é a literatura? O jornalismo é uma coisa “menor”?
Não existe essa coisa de “menor”, existem prioridades. Agora, o jornalismo não me atrapalhou. Ele me ajudou, minha maneira de escrever ficou mais sintética, mais concisa, treinou meu olhar de repórter. Eu não tenho desprazer nenhum em trabalhar com jornalismo. E nem em fazer roteiros pra cinema. É aquela história: eu vivo do meu texto.

Publicada originalmente no jornal Semana 3 (ed. 20, fevereiro de 2004)

via Carlos Eduardo Moura.


ESPELHO CABELOS OLHOS




 

EM TEMPOS COMO ESTES



É difícil em tempos como estes: ideais, sonhos e esperanças permanecerem dentro de nós, sendo esmagados pela dura realidade. É um milagre eu não ter abandonado todos os meus ideais, eles parecem tão absurdos e impraticáveis. No entanto, eu me apego a eles, porque eu ainda acredito, apesar de tudo, que as pessoas são realmente boas de coração.

 O Diário de Anne Frank

 

sexta-feira, 26 de fevereiro de 2021

Sebastopol em maio

Liev Tolstói

Tolstói_Contos Completos

Mikháilov, ao avistar a bomba, jogou-se no chão e, assim como Praskúkhin, semicerrou as pálpebras, abriu e fechou os olhos duas vezes e lhe veio uma vastidão de pensamentos e sentimentos naqueles dois segundos, o tempo que a bomba levou para explodir. Em pensamento, rezou para Deus e não parava de repetir: 'Seja feita Sua vontade! Mas para que entrei no serviço militar?', pensava ao mesmo tempo. 'E ainda por cima entrei logo na infantaria para participar da campanha; não seria melhor ter ficado no regimento dos ulanos na cidade de T. e passar o tempo com minha amiga Natacha?... Agora, olhe só no que deu!' E começou a contar: um, dois, três, quatro, imaginando que, se a bomba explodisse num número par, ele ficaria vivo, mas se fosse ímpar, ele ia morrer. 'Está tudo acabado! Estou morto!', pensou, quando a bomba explodiu (ele não lembrava mais se foi num número par ou ímpar), e sentiu um impacto e uma dor atroz na cabeça. 'Senhor, perdoai meus pecados!', exclamou, erguendo os braços, levantou-se um pouco e tombou de costas, sem sentidos.

via mundo de k.



as palavras de bertolt brecht

ef0195796313

“Vejam bem o procedimento desta gente: 
Estranhável, conquanto não pareça estranho 
Difícil de explicar, embora tão comum 
Difícil de entender, embora seja a regra. 
Até o mínimo gesto, simples na aparência, 
Olhem desconfiados! Perguntem 
Se é necessário, a começar do mais comum! 
E, por favor, não achem natural 
O que acontece e torna a acontecer 
Não se deve dizer que nada é natural! 
Numa época de confusão e sangue, 
Desordem ordenada, arbítrio de propósito, 
Humanidade desumanizada 
Para que imutável não se considere 
Nada."

 

MIAU!


 Catwoman - art by Olivia De Berardinis.

 

flores vermelhas água morna


 

 

quinta-feira, 25 de fevereiro de 2021

O VELHO SAM E O 'THE WILD BUNCH'

 








O mais sangrento dos westerns. Crepuscular e fascinante. Pelas mãos de um dos melhores, Sam Peckimpah. 

 

OS LOUCOS ANOS 1960'S


 Livro foda.

 


M & M

 


Madonna & Norman Mailer In 1994

MAILER: Let’s try an exam question: Is bisexuality a universal human trait?
MADONNA: I don’t know. I used to say yes, because there are times I really feel bisexual.
MAILER: I take it for granted that people are. We come from a mother and a father. And that mother could have been more male than the father, and the father’s male aspects could have come from his mother….
MADONNA: Right.
MAILER: So I’m more interested in the stance one assumes afterward. There are people, male and female, whose only real difference is that one has a phallus, the other a vagina, yet the structure of their lives is built around their genitals. For me, the question is to what degree are these structures oppressive?
MADONNA: I just think it’s important to fuck what you want to fuck and not feel shame about it.
MAILER: No, shame is a guide. Except you don’t agree, do you? You laugh while watching pornies.
MADONNA: I do. Every time I’ve seen a porn movie, I’ve just laughed my ass off. I think they’re funny because they always try to construct these thinly veiled excuses to fuck.
MAILER: In a porny, when actors are bored and faking it, I agree, it’s deadly dull. But there are people who are stars at it, and while they’re not always much as actors, nonetheless they can get excited while a crew of people are watching them, and their life destiny is being shifted. Once a girl is photographed in a porny, it’s a point of no return. She’s become a professional.
MADONNA: It’s for life.
MAILER: Yes. They’re locked into that profession, and it’s not altogether agreeable. Where do they go afterward? Because female porno stars age very quickly.
MADONNA: Why?
MAILER: I’ve noticed it over and over again. Why are there no female porny stars whose careers last for even ten years? Porno stars get burned out. There’s something about it that is dangerous. Something in them gets killed early. So I look upon it as a cruel sport. But, nonetheless, when porny actresses get hot, they don’t necessarily come, but they’re excited, and you’re struck by the fact that something real is happening even while the director is probably saying, “Show us more ass, honey,” and telling the camera where to move. What you get then is the nature of modern reality, our double reality. I find that endlessly fascinating. And I would have thought that would be something to interest you.
MADONNA: Well, I didn’t get into it.
MAILER: All right.
MADONNA: I’m not dismissing what they do. It’s just how it affects me. Going to places like the Gaiety and watching men dance, that turns me on, men dancing naked.
MAILER: Can you conceive, if you had a different life, of ending up a porny queen?
MADONNA: That’s so hard to say. Isn’t it about intelligence? Not to say that porn stars are stupid, but where I am in my brain is what has brought me to where I am here, the explorations. I mean, maybe if I were a little smaller, I’d be a housewife in Michigan.
MAILER: With an unhappy husband.
MADONNA: People ask me all the time, “If your mother hadn’t died, do you think? …” And I can’t think that way because I am who I am.
MAILER: You can’t think “what if,” but you can use “as if.” While there are certain things a porno queen does that you didn’t do in Body of Evidence, nonetheless you were treated as if you had transgressed even further. And you certainly didn’t need that.
MADONNA: No. I wanted to make it.
MAILER: That’s my point. Something deep in you said it’s worth taking these chances.
MADONNA: In the sex scenes, I did feel that this must be what it feels like to make a porno movie. Like when we supposedly were having intercourse, Willem and I were absolutely faking it; there was no penetration or anything like that. But if you’re sitting on someone’s face, you are sitting on someone’s face. You can’t really fake it. I don’t know if I’m answering your question….
MAILER: You’re more than answering it. I think in effect you’re agreeing with me that you’ve had the experiences of a porny star, and so it comes back to what I said — you found it interesting in a lot of ways and finally stimulating, because you were entering a world that was forbidden, and you were maneuvering in it, living in it—
MADONNA: Right.
MAILER: And yet you were left with no curiosity about porny stars afterward?
MADONNA: No.
MAILER: I’m trying to understand you. I’ve got to say that you’re self-centered.