(Do comentário do diretor Shuji Terayama sobre seu filme Pastoral: To Die in the Country 田園に死す Den-em ni shisu.)
A minha infância, os grandes jogos das escondidas... Era eu que procurava os outros, e ninguém respondia aos meus apelos.
No fim do dia, os músicos do circo vizinho, que ensaiavam para o espetáculo no dia seguinte, tinham ido deitar-se. E eu, ao longo de um caminho deserto, no interior desse ambiente campestre onde nascera, procurava os meus pequenos amigos. Mas onde é que eles estavam?
Uma luz filtrava as janelas de uma casa. De fora, observo aquele que, na sala, serve a comida aos seus. Reconhecia, naquele verdadeiro chefe de família, uma das crianças que partia para se ir esconder no princípio do jogo. Todos os outros tinham também envelhecido. Eles tinham escapado às minhas buscas. Eles reconduziam-me à minha infância.
Se queremos libertar-nos, liquidar em nós toda a história da humanidade, e, à nossa volta, a de toda a sociedade, é preciso evacuar as nossas próprias memórias. Mas então, a nossa memória, começa a jogar às escondidas conosco e não pode, debalde, se livrar integralmente.
Neste filme, onde a personagem central decide levar a cabo uma revisão do seu passado, propus-me a encontrar com ele, a sua identidade. E por aí, a identidade de todos nós.
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