quinta-feira, 30 de junho de 2011

TINKER TAILOR SOLDIER SPY

DANAÇÃO

Photo Credit:  Ben Leuner/AMC

“Sempre soube que esta era a história da danação do meu personagem. Desde o início era bem claro que Mr.White estava numa viagem sem volta, de um modo ou de outro” – Bryan Cranston sobre seu personagem em Breaking Bad.

Hollywoodianas.

CEM ANOS DE SOLIDÃO

Gabriel Garcia Márquez

gabriel_garcia_marquez_fullblock-300x216

Um trecho:

Muitos anos depois, diante do pelotão de fuzilamento, o Coronel Aureliano Buendía havia de recordar aquela tarde remota em que seu pai o levou para conhecer o gelo. Macondo era então uma aldeia de vinte casas de barro e taquara, construídas à margem de um rio de águas diáfanas que se precipitavam por um leito de pedras polidas, brancas e enormes como ovos pré-históricos. O mundo era tão recente que muitas coisas careciam de nome e para mencioná-las se precisava apontar com o dedo. Todos os anos, pelo mês de março, uma família de ciganos esfarrapados plantava a sua tenda perto da aldeia e, com um grande alvoroço de apitos e tambores, dava a conhecer os novos inventos.
Primeiro trouxeram o ímã. Um cigano corpulento, de barba rude e mãos de pardal*, que se apresentou com o nome de Melquíades, fez uma truculenta demonstração pública daquilo que ele mesmo chamava de a oitava maravilha dos sábios alquimistas da Macedônia. Foi de casa em casa arrastando dois lingotes metálicos, e todo o mundo se espantou ao ver que os caldeirões, os tachos, as tenazes e os fogareiros caíam do lugar, e as madeiras estalavam com o desespero dos pregos e dos parafusos tentando se desencravar, e até os objetos perdidos há muito tempo apareciam onde mais tinham sido procurados, e se arrastavam em debandada turbulenta atrás dos ferros mágicos de Melquíades. "As coisas têm vida própria", apregoava o cigano com áspero sotaque, "tudo é questão de despertar a sua alma." José Arcadio Buendía, cuja desatada imaginação ia sempre mais longe que o engenho da natureza, e até mesmo além do milagre e da magia, pensou que era possível se servir daquela invenção inútil para desentranhar o ouro da terra.
Melquíades, que era um homem honrado, preveniu-o: "Para isso não serve." Mas José Arcadio Buendía não acreditava, naquele tempo, na honradez dos ciganos, de modo que trocou o seu jumento e um rebanho de cabritos pelos dois lingotes imantados. Úrsula Iguarán, sua mulher, que contava com aqueles animais para aumentar o raquítico patrimônio doméstico, não conseguiu dissuadi-lo. "Muito em breve vamos ter ouro de sobra para assoalhar a casa", respondeu o marido. Durante vários meses empenhou-se em demonstrar o acerto das suas conjeturas. Explorou palmo a palmo a região, inclusive o fundo do rio, arrastando os dois lingotes de ferro e recitando em voz alta o conjuro de Melquíades. A única coisa que conseguiu desenterrar foi uma armadura do século xv, com todas as suas partes soldadas por uma camada de óxido, cujo interior tinha a ressonância oca de uma enorme cabaça cheia de pedras. Quando José Arcadio Buendía e os quatro homens da sua expedição conseguiram desarticular a armadura, encontraram dentro um esqueleto calcificado que trazia pendurado no pescoço um relicário de cobre com um cacho de cabelo de mulher.
Em março os ciganos voltaram. Desta vez traziam um óculo de alcance e uma lupa do tamanho de um tambor, que exibiram como a última descoberta dos judeus de Amsterdam. Sentaram uma cigana num extremo da aldeia e instalaram o óculo de alcance na entrada da tenda. Mediante o pagamento de cinco reais, o povo se aproximava do óculo e via a cigana ao alcance da mão. "A ciência eliminou as distâncias", apregoava Melquíades. "Dentro em pouco o homem poderá ver o que acontece em qualquer lugar da terra, sem sair de sua casa." Num meio-dia ardente, fizeram uma assombrosa demonstração com a lupa gigantesca: puseram um montão de capim seco na metade da rua e atearam fogo nele pela concentração dos raios solares. José Arcadio Buendía, que ainda não se consolara de todo do fracasso dos seus ímãs, concebeu a idéia de utilizar aquele invento como uma arma de guerra. Melquíades, outra vez, tratou de dissuadi-lo. Mas terminou aceitando os dois lingotes imantados e três peças de dinheiro colonial em troca da lupa. Úrsula chorou de consternação. Aquele dinheiro fazia parte de um cofre de moedas de ouro que seu pai acumulara em toda uma vida de privações e que ela havia enterrado debaixo da cama, à espera de uma boa ocasião para investi-las.
José Arcadio Buendía nem sequer tentou consolá-la, entregue que estava por inteiro às suas experiências táticas, com a abnegação de um cientista e até mesmo com o risco da própria vida. Tentando demonstrar os efeitos da lupa na tropa inimiga, ele mesmo se expôs à concentração dos raios solares e sofreu queimaduras que se transformaram em úlceras e demoraram muito tempo para sarar. Diante dos protestos da mulher, alarmada por tão perigosa inventiva, por pouco não incendiou a casa. Passava longas horas no quarto, fazendo os cálculos das possibilidades estratégicas da nova arma, até que conseguiu compor um manual de uma assombrosa clareza didática e um poder de convicção irresistível.
Enviou-o às autoridades, acompanhado de numerosos testemunhos sobre as suas experiências e de vários apêndices de desenhos explicativos, aos cuidados de um mensageiro que atravessou a serra, extraviou-se em pântanos desmesurados, subiu rios tormentosos e esteve a ponto de perecer sob o ataque das feras, o desespero e a peste, até encontrar um caminho que o levasse às mulas do correio. Embora a viagem à capital fosse naquele tempo quase impossível, José Arcadio Buendía prometia tentá-la logo que o governo ordenasse, com o fim de fazer demonstrações práticas do seu invento diante dos poderes militares, e adestrá-los pessoalmente nas complicadas artes da guerra solar. Durante vários anos esperou a resposta. Por fim, cansado de esperar, lamentou-se diante de Melquíades do fracasso da sua iniciativa e o cigano, então, deu uma prova convincente de honradez: devolveu-lhe os dobrões em troca da lupa e deixou, para ele, além disso, uns mapas portugueses e vários instrumentos de navegação. De seu próprio punho e letra escreveu uma apertada síntese dos estudos do monge Hermann, que deixou à sua disposição para que pudesse se servir do astrolábio, da bússola e do sextante. José Arcadio Buendía passou os longos meses de chuva fechado num quartinho que construíra no fundo da casa, para que ninguém perturbasse as suas experiências. Tendo abandonado completamente as obrigações domésticas, permaneceu noites inteiras no quintal, vigiando o movimento dos astros, e quase sofreu uma insolação, por tentar estabelecer um método exato para determinar o meio-dia. Quando se tornou perito no uso e manejo dos seus instrumentos, passou a ter uma noção do espaço que lhe permitiu navegar por mares incógnitos, visitar territórios desabitados e travar relações com seres esplêndidos, sem necessidade de abandonar o seu gabinete. Foi por essa ocasião que adquiriu o hábito de falar sozinho, passeando pela casa sem se incomodar com ninguém, enquanto Úrsula e as crianças suavam em bicas na horta cuidando da banana e da taioba, do aipim e do inhame, do cará e da berinjela. De repente, sem anúncio prévio, a sua atividade febril se interrompeu e foi substituída por uma espécie de fascinação. Esteve vários dias como que enfeitiçado, repetindo para si mesmo em voz baixa um rosário de assombrosas conjeturas, sem dar crédito ao próprio entendimento. Por fim, numa terça-feira de dezembro, na hora do almoço, soltou de uma vez todo o peso do seu tormento. As crianças haviam de recordar pelo resto da vida a augusta solenidade com que o pai se sentou na cabeceira da mesa, tremendo de febre, devastado pela prolongada vigília e pela pertinácia da sua imaginação, e revelou a eles a sua descoberta:
- A terra é redonda como uma laranja.
Úrsula perdeu a paciência. "Se você pretende ficar louco, fique sozinho", gritou. "Não tente incutir nas crianças as suas idéias de cigano." José Arcadio Buendía, impassível, não se deixou amedrontar pelo desespero da mulher que, num impulso de cólera, destroçou o astrolábio contra o solo. Construiu outro, reuniu no quartinho os homens do povoado e demonstrou a eles, com teorias que acabaram sendo incompreensíveis para todos, a possibilidade de regressar ao ponto de partida navegando sempre para o Oriente. A aldeia inteira já estava convencida de que José Arcadio Buendía tinha perdido o juízo, quando Melquíades chegou para pôr a coisa em pratos limpos. Ressaltou em público a inteligência daquele homem que, por pura especulação astronômica, construíra uma teoria já comprovada na prática, se bem que desconhecida até então em Macondo, e como uma prova da sua admiração deu-lhe um presente que havia de exercer uma influência decisiva no futuro da aldeia: um laboratório de alquimia.
Por essa época, Melquíades tinha envelhecido com uma rapidez assombrosa. Nas suas primeiras viagens parecia ter a mesma idade de José Arcadio Buendía. Mas enquanto este conservava a sua força descomunal, que lhe permitia derrubar um cavalo agarrando-o pelas orelhas, o cigano parecia estragado por um mal tenaz. Era, na realidade, o resultado de múltiplas e estranhas doenças contraídas nas suas incontáveis viagens ao redor do mundo.
Conforme ele mesmo contou a José Arcadio Buendía, enquanto o ajudava a montar o laboratório, a morte o seguia por todas as partes, farejando-lhe as calças, mas sem se decidir a dar o bote final. Era um fugitivo de quantas pragas e catástrofes haviam flagelado o gênero humano. Sobreviveu à pelagra na Pérsia, ao escorbuto no arquipélago da Malásia, à lepra em Alexandria, ao beribéri no Japão, à peste bubônica em Madagáscar, ao terremoto na Sicília e a um naufrágio multitudinário no estreito de Magalhães. Aquele ser prodigioso que dizia possuir as chaves de Nostradamus era um homem lúgubre, envolto numa aura triste, com um olhar asiático que parecia conhecer o outro lado das coisas. Usava um chapéu grande e negro, como as asas estendidas de um corvo, e um casaco de veludo patinado pelo limo dos séculos. Mas, apesar da sua imensa sabedoria e de sua aura misteriosa, tinha um peso humano, uma condição terrestre que o mantinha atrapalhado com os minúsculos problemas da vida cotidiana. Queixava-se de achaques de velho, sofria pelos mais insignificantes prejuízos econômicos e tinha deixado de rir há muito tempo, porque o escorbuto lhe havia arrancado os dentes. No sufocante meio-dia em que revelou os seus segredos, José Arcadio Buendía teve a certeza de que aquele era o princípio de uma grande amizade. As crianças se assombraram com os seus relatos fantásticos. Aureliano, que naquele tempo não tinha mais de cinco anos, havia de recordar pelo resto da vida como o viu naquela tarde, sentado contra a claridade metálica e reverberante da janela, iluminando com a sua profunda voz de órgão os territórios mais escuros da imaginação, enquanto esguichava pelas têmporas a gordura derretida pelo calor. José Arcadio, seu irmão mais velho, havia de transmitir aquela imagem maravilhosa, como uma recordação hereditária, a toda a sua descendência. Úrsula, pelo contrário, conservou uma lembrança desagradável daquela visita, porque entrou no quarto no momento em que Melquíades quebrava por distração um frasco de bicloreto de mercúrio.
- É o cheiro do demônio - ela disse.
- Absolutamente - corrigiu Melquíades. - Está comprovado que o demônio tem propriedades sulfúricas, e isto não passa de um pouco de sublimado corrosivo.
Sempre didático, fez uma sábia exposição sobre as virtudes diabólicas do cinabre, mas Úrsula não lhe deu a menor atenção e levou as crianças para rezar. Aquele cheiro acre ficaria para sempre em sua memória vinculado à lembrança de Melquíades.
O laboratório rudimentar - não se falando na profusão de caçarolas, funis, retortas, filtros e coadores - estava composto de uma tubulação primitiva; uma proveta de cristal, de pescoço comprido e estreito, imitação do ovo filosófico; e um alambique construído pelos próprios ciganos, de acordo com as descrições daquele de três braços, de Maria, a judia. Além destas coisas, Melquíades deixou amostras dos sete metais correspondentes aos sete planetas, as fórmulas de Moisés e Zózimo para a duplicação do ouro, e uma série de notas e desenhos sobre os processos do Grande Magistério, que permitiam a quem os soubesse interpretar a tentativa de fabricação da pedra filosofal. Seduzido pela simplicidade das fórmulas para duplicar o ouro, José Arcadio Buendía adulou Úrsula durante várias semanas, para que lhe permitisse desenterrar as suas moedas coloniais e aumentá-las tantas vezes quantas fosse possível subdividir o azougue. Úrsula cedeu, como acontecia sempre, diante da inquebrantável obstinação do marido. Então, José Arcadio Buendía jogou trinta dobrões numa caçarola e os fundiu com raspa de cobre, ouro-pigmento, enxofre e chumbo. Pôs tudo para ferver em fogo forte, num caldeirão de óleo de rícino, até obter um xarope espesso e fedorento, mais parecido com uma calda vulgar do que com o ouro magnífico. Em azarados e desesperados processos de destilação, fundida com os sete metais planetários, trabalhada com o mercúrio hermético e o vitríolo de Chipre, e novamente cozida em banha de porco na falta de óleo de rábano, a preciosa herança de Úrsula ficou reduzida a um torresmo carbonizado que não pôde ser desprendido do fundo do caldeirão.
Quando os ciganos voltaram, Úrsula já havia predisposto toda a população contra eles. Mas a curiosidade pôde mais que o temor, porque daquela vez os ciganos percorreram a aldeia fazendo um barulho ensurdecedor com todo tipo de instrumentos musicais, enquanto o pregoeiro anunciava a exibição da mais fabulosa descoberta dos nasciancenos. De modo que todo mundo foi à tenda, e com o pagamento de um centavo viu um Melquíades juvenil, refeito, desenrugado, com uma dentadura nova e radiante. Os que recordavam as suas gengivas destruídas pelo escorbuto, as suas bochechas flácidas e os seus lábios murchos, estremeceram de pavor diante daquela prova decisiva dos poderes sobrenaturais do cigano. O pavor se converteu em pânico quando Melquíades tirou os dentes, intactos, engastados nas gengivas, e mostrou-os ao público por um instante - um instante fugaz em que voltou a ser o mesmo homem decrépito dos anos anteriores - e botou-os outra vez e sorriu de novo com um domínio pleno da sua juventude restaurada. Até o próprio José Arcadio Buendía considerou que os conhecimentos de Melquíades tinham chegado a extremos intoleráveis, mas experimentou um saudável alvoroço quando o cigano lhe explicou a sós o mecanismo da sua dentadura postiça. Aquilo lhe pareceu ao mesmo tempo tão simples e prodigioso, que da noite para o dia perdeu todo o interesse pelas pesquisas de alquimia; sofreu uma nova crise de mau humor, não voltou a comer de maneira regular e passava o dia dando voltas pela casa. "Estão ocorrendo coisas incríveis pelo mundo", dizia a Úrsula. "Aí mesmo, do outro lado do rio, existe todo tipo de aparelho mágico, enquanto nós continuamos vivendo como os burros." Os que o conheciam desde os tempos da fundação de Macondo se assombravam do quanto ele havia mudado sob a influência de Melquíades.
No princípio, José Arcadio Buendía era uma espécie de patriarca juvenil, que dava instruções para o plantio e conselhos para a criação de filhos e animais, e colaborava com todos, mesmo no trabalho físico, para o bom andamento da comunidade. Posto que a sua casa fosse desde o primeiro momento a melhor da aldeia, as outras foram arranjadas à sua imagem e semelhança. Tinha uma saleta ampla e bem iluminada, uma sala de jantar em forma de terraço com flores de cores alegres, dois quartos, um quintal com um castanheiro gigantesco, um jardim bem plantado e um curral onde viviam em comunidade pacífica os cabritos, os porcos e as galinhas. Os únicos animais proibidos não só em casa, mas também em todo o povoado, eram os galos de briga.
A diligência de Úrsula andava de braços com a de seu marido. Ativa, miúda, severa, aquela mulher de nervos inquebrantáveis, a quem em nenhum momento da vida se ouviu cantar, parecia estar em todas as partes desde o amanhecer até a noite já bem avançada, sempre perseguida pelo suave sussurro das suas anáguas de cambraia. Graças a ela, o chão de terra batida, os muros de barro sem caiação, os rústicos móveis de madeira construídos por eles mesmos estavam sempre limpos, e as velhas arcas onde se guardava a roupa exalavam um cheiro tênue de manjericão.
José Arcadio Buendía, que era o homem mais empreendedor que se poderia ver na aldeia, determinara de tal modo a posição das casas que a partir de cada uma se podia chegar ao rio e se abastecer de água com o mesmo esforço; e traçara as ruas com tanta habilidade que nenhuma casa recebia mais sol que a outra na hora do calor. Dentro de poucos anos, Macondo se tornou uma aldeia mais organizada e laboriosa que qualquer das conhecidas até então pelos seus trezentos habitantes. Era na verdade uma aldeia feliz, onde ninguém tinha mais de trinta anos e onde ninguém ainda havia morrido.
Desde os tempos da fundação, José Arcadio Buendía construíra alçapões e gaiolas. Em pouco tempo, encheu de corrupiões, canários, azulões e pintassilgos não só a própria casa, mas todas as da aldeia. O concerto de tantos pássaros diferentes chegou a ser tão aturdidor que Úrsula tapou os ouvidos com cera de abelha para não perder o senso da realidade. Na primeira vez que chegou a tribo de Melquíades, vendendo bolas de vidro para dor de cabeça, todo mundo se surpreendeu por terem podido encontrar aquela aldeia perdida no marasmo do pântano, e os ciganos confessaram que haviam se orientado pelo canto dos pássaros.
Aquele espírito de iniciativa social desapareceu em pouco tempo, arrastado pela febre dos ímãs, pelos cálculos astronômicos, sonhos de transmutação e ânsias de conhecer as maravilhas do mundo. De empreendedor e limpo, José Arcadio Buendía se converteu num homem de ar vadio, descuidado no vestir, com uma barba selvagem a que Úrsula conseguia dar forma a duras penas, com uma faca de cozinha. Não faltou quem o considerasse vítima de algum estranho sortilégio. Mas até os mais convencidos da sua loucura abandonaram o trabalho e a família para segui-lo, quando atirou ao ombro as foices e machados, e pediu a participação de todos para abrir uma picada que pusesse Macondo em contato com os grandes inventos.
José Arcadio Buendía ignorava por completo a geografia da região. Sabia que para o Oriente estava a serra impenetrável, e do outro lado da serra a antiga cidade de Riohacha, onde em épocas passadas - segundo lhe havia contado o primeiro Aureliano Buendía, seu avô - Sir Francis Drake era dado ao esporte de caçar jacarés a tiros de canhão. Os bichos eram depois remendados, recheados de palha e mandados para a Rainha Elizabeth. Na sua juventude, ele e seus homens, com mulheres e crianças e animais e toda espécie de utensílios domésticos, atravessaram a serra procurando uma saída para o mar, e ao fim de vinte e seis meses desistiram da empresa e fundaram Macondo, para não ter que empreender o caminho de volta. Era, pois, uma rota que não lhe interessava, porque só podia conduzi-lo ao passado. Ao Sul estavam os charcos cobertos de uma eterna nata vegetal, e o vasto universo do grande pantanal, que, segundo testemunho dos ciganos, carecia de limites. O grande pantanal se confundia ao Ocidente com uma extensão aquática sem horizontes, onde havia cetáceos de pele delicada, cabeça e torso de mulher, que perdiam os navegantes com o feitiço das suas tetas descomunais. Os ciganos navegavam seis meses por essa rota antes de alcançar a faixa de terra firme por onde passavam as mulas do correio. De acordo com os cálculos de José Arcadio Buendía, a única possibilidade de contato com a civilização era a rota do Norte. De modo que dotou de foices, facões e armas de caça os mesmos homens que o acompanharam na fundação de Macondo; pôs numa mochila os seus instrumentos de orientação e os seus mapas, e empreendeu a temerária aventura.
Nos primeiros dias, não encontraram nenhum obstáculo apreciável. Desceram pela pedregosa margem do rio até o lugar onde anos antes haviam achado a armadura do guerreiro e ali penetraram na mata por um caminho de laranjeiras silvestres. Ao fim da primeira semana, mataram e assaram um veado, mas se conformaram em comer a metade e salgar o resto para os próximos dias. Trataram de adiar com essa precaução a necessidade de continuar comendo araras, cuja carne azul tinha um áspero sabor de almíscar. Em seguida, durante mais de dez dias, não voltaram a ver o sol. O solo tornou-se mole e úmido, como cinza vulcânica, e a vegetação fez-se cada vez mais insidiosa, e ficaram cada vez mais longínquos os gritos dos pássaros e a algazarra dos macacos, e o mundo ficou triste para sempre. Os homens da expedição se sentiram angustiados pelas lembranças mais antigas, naquele paraíso de umidade e silêncio, anterior ao pecado original, onde as botas se afundavam em poças de óleos fumegantes e os facões destroçavam lírios sangrentos e salamandras douradas. Durante uma semana, quase sem falar, avançaram como sonâmbulos por um universo de depressão, iluminados apenas por uma tênue reverberação de insetos luminosos e com os pulmões agoniados por um sufocante cheiro de sangue. Não podiam regressar, porque a picada que iam abrindo em pouco tempo tornava a se fechar com uma vegetação nova que ia crescendo a olhos vistos. "Não tem importância", dizia José Arcadio Buendía. "O essencial é não perder a orientação." Sempre de olho na bússola, continuou guiando os seus homens para o Norte invisível, até que conseguiram sair da região encantada. Era uma noite densa, sem estrelas, mas a escuridão estava impregnada de um ar novo e limpo. Esgotados pela prolongada travessia, penduraram as redes e dormiram profundamente pela primeira vez em duas semanas. Quando acordaram, já com o sol alto, ficaram pasmos de fascinação. Diante deles, rodeado de fetos e palmeiras, branco e empoeirado na silenciosa luz da manhã, estava um enorme galeão espanhol. Ligeiramente inclinado para estibordo, de sua mastreação intacta penduravam-se os fiapos esquálidos do velame, entre a enxárcia enfeitada de orquídeas. O casco, coberto por uma lisa couraça de caracas e musgo tenro, estava firmemente encravado num chão de pedras. Toda a estrutura parecia ocupar um âmbito próprio, um espaço de solidão e esquecimento, vedado aos vícios do tempo e aos maus hábitos dos pássaros. No interior, que os expedicionários exploraram com um secreto fervor, não havia nada além de um espesso bosque de flores.
O achado do galeão, indício da proximidade do mar, quebrantou o ímpeto de José Arcadio Buendía. Considerava como uma brincadeira do seu destino travesso ter procurado o mar sem encontrá-lo, ao preço de sacrifícios e incômodos sem conta, e tê-lo encontrado agora sem procurá-lo, atravessado no seu caminho como um obstáculo intransponível. Muitos anos depois, o Coronel Aureliano Buendía voltou a atravessar a região, quando já era uma rota regular do correio, e a única coisa que encontrou da nave foi o esqueleto carbonizado no meio de um campo de amapolas. Só então convencido de que aquela história não tinha sido fruto da imaginação de seu pai, perguntou-se como pudera o galeão penetrar até aquele ponto na terra firme. Mas José Arcadio Buendía não levantou esse problema quando encontrou o mar, ao fim de outros quatro dias de viagem, a doze quilômetros de distância do galeão. Seus sonhos terminavam diante desse mar de cor cinza, espumoso e sujo, que não merecia os riscos e sacrifícios da sua aventura.
- Porra! - gritou. - Macondo está cercado de água por todos os lados.
A idéia de um Macondo peninsular prevaleceu durante muito tempo, inspirada no mapa arbitrário que José Arcadio Buendía desenhou ao regressar da sua expedição. Traçou-o com raiva, exagerando de má fé as dificuldades de comunicação, como que para castigar-se a si mesmo da absoluta falta de senso com que escolheu o lugar. "Nunca chegaremos a parte alguma", lamentava-se para Úrsula. "Aqui haveremos de apodrecer em vida sem receber os benefícios da ciência." Essa certeza, ruminada por vários meses no quartinho do laboratório, levou-o a conceber o projeto de trasladar Macondo para um lugar mais propício. Mas desta vez Úrsula se antecipou aos seus desígnios febris. Num secreto e implacável trabalho de formiga, predispôs as mulheres da aldeia contra a veleidade dos seus homens, que já começavam a se preparar para a mudança. José Arcadio Buendía não soube em que momento, nem em virtude de que forças adversas, seus planos se foram emaranhando numa teia de pretextos, contratempos e evasivas, até se transformarem em pura e simples ilusão. Úrsula observou-o com uma atenção inocente, e até sentiu por ele um pouco de piedade na manhã em que o encontrou no quartinho dos fundos comentando entre dentes os seus sonhos de mudança, enquanto colocava nas suas caixas originais as peças do laboratório. Deixou-o terminar. Deixou-o pregar as caixas e pôr as suas iniciais em cima com um pincel cheio de tinta, sem lhe fazer nenhuma censura, mas já sabendo que ele sabia (porque o ouviu dizer em seus surdos monólogos) que os homens do povoado não o seguiriam na empresa. Só quando começou a desmontar a porta do quartinho é que Úrsula se atreveu a lhe perguntar por que o fazia, e ele lhe respondeu com certa amargura: "Já que ninguém quer ir embora, nós iremos sozinhos." Úrsula não se alterou.
- Nós não iremos - disse. - Ficaremos aqui, porque aqui tivemos um filho.
- Ainda não temos um morto - ele disse. - A gente não é de um lugar enquanto não tem um morto enterrado nele.
Úrsula replicou, com uma suave firmeza:
- Se é preciso que eu morra para que vocês fiquem aqui, eu morro.
José Arcadio Buendía não acreditou que fosse tão rígida a vontade de sua mulher. Tratou de seduzi-la com o feitiço da sua fantasia, com a promessa de um mundo prodigioso onde bastava derramar uns líquidos mágicos na terra para que as plantas dessem frutos à vontade do homem, e onde se vendiam a preço de banana toda espécie de aparelhos contra a dor. Mas Úrsula foi insensível à sua clarividência.
- Em vez de andar por aí com essas novidades malucas, você devia era se ocupar dos seus filhos - replicou. - Olhe como estão, abandonados ao deus-dará, como os burros.
José Arcadio Buendía tomou ao pé da letra as palavras da mulher. Olhou pela janela e viu os dois meninos descalços na horta ensolarada, e teve a impressão de que só naquele instante tinham começado a existir, concebidos pelos rogos de Úrsula. Alguma coisa aconteceu então no seu íntimo; alguma coisa misteriosa e definitiva que o desprendeu do tempo atual e o levou à deriva por uma inexplorada região de lembranças. Enquanto Úrsula continuava varrendo a casa que agora estava certa de não abandonar pelo resto da vida, ele permaneceu contemplando as crianças com um olhar absorto, até que seus olhos se encheram d'água e ele os enxugou com o dorso da mão, exalando um profundo suspiro de resignação.
- Bem - disse. - Diga-lhes que venham me ajudar a tirar as coisas dos caixotes.
José Arcadio, o mais velho dos meninos, havia completado quatorze anos. Tinha a cabeça quadrada, o cabelo hirsuto e o gênio voluntarioso do pai. Ainda que tivesse o mesmo impulso de crescimento e fortaleza física, já então era evidente que carecia de imaginação. Foi concebido e dado à luz durante a penosa travessia da serra, antes da fundação de Macondo, e seus pais deram graças aos céus ao comprovar que não tinha nenhum órgão de animal. Aureliano, o primeiro ser humano que nasceu em Macondo, ia fazer seis anos em março. Era silencioso e retraído. Tinha chorado no ventre da mãe e nasceu com os olhos abertos. Enquanto lhe cortavam o umbigo movia a cabeça de um lado para o outro, reconhecendo as coisas do quarto, e examinava o rosto das pessoas com uma curiosidade sem assombro. Depois, indiferente aos que vinham conhecê-lo, manteve a atenção concentrada no teto de palmas, que parecia estar quase desabando sob a tremenda pressão da chuva. Úrsula não tornou a se lembrar da intensidade desse olhar até o dia em que o pequeno Aureliano, na idade de três anos, entrou na cozinha no momento em que ela retirava do fogão e punha na mesa uma panela de caldo fervente. O garoto, perplexo na porta, disse: "Vai cair." A panela estava posta bem no centro da mesa, mas, logo que o menino deu o aviso, iniciou um movimento irrevogável para a borda, como impulsionada por um dinamismo interior, e se espedaçou no chão. Úrsula, alarmada, contou o episódio ao marido, mas este o interpretou como um fenômeno natural. Sempre fora assim, alheio à existência dos filhos, em parte porque considerava a infância como um período de insuficiência mental, e em parte porque estava sempre absorto por demais nas suas próprias especulações quiméricas.
Desde a tarde, porém, em que chamou os meninos para que o ajudassem a desempacotar as coisas do laboratório, dedicou-lhes as suas melhores horas. No quartinho separado, cujas paredes se foram enchendo pouco a pouco de mapas inverossímeis e gráficos fabulosos, ensinou-os a ler e escrever e a fazer contas, e falou das maravilhas do mundo não só até onde chegavam os seus conhecimentos, mas forçando a extremos incríveis os limites da sua imaginação. Foi assim que os meninos acabaram por aprender que no extremo meridional da África havia homens tão inteligentes e pacíficos que o seu único entretenimento era sentar para pensar, e que era possível atravessar a pé o mar Egeu pulando de ilha em ilha até o porto de Salônica. Aquelas alucinantes sessões ficaram de tal modo impressas na memória dos meninos, que muitos anos mais tarde, um segundo antes de que o oficial dos exércitos regulares desse a ordem de fogo ao pelotão de fuzilamento, o Coronel Aureliano Buendía tornou a viver a suave tarde de março em que seu pai interrompeu a lição de Física e ficou fascinado, com a mão no ar e os olhos imóveis, ouvindo a distância os pífaros e tambores e guizos dos ciganos que uma vez mais chegavam à aldeia, apregoando a última e assombrosa descoberta dos sábios de Mênfis.
Eram ciganos novos. Homens e mulheres jovens que só conheciam a sua própria língua, exemplares formosos de pele oleosa e mãos inteligentes, cujas danças e músicas semearam nas ruas um pânico de alvoroçada alegria, com as suas araras pintadas de todas as cores que recitavam romanças italianas, e a galinha que punha uma centena de ovos de ouro ao som do pandeiro, e o macaco amestrado que adivinhava o pensamento, e a máquina múltipla que servia ao mesmo tempo para pregar botões e baixar a febre, e o aparelho para esquecer as más recordações, e o emplastro para perder o tempo, e mil outras invenções tão engenhosas e insólitas, que José Arcadio Buendía gostaria de inventar a máquina da memória para poder se lembrar de todas. Num instante transformaram a aldeia. Os habitantes de Macondo se encontraram de repente perdidos nas suas próprias ruas, aturdidos pela feira multitudinária.
Levando um garoto em cada mão, para não perdê-los no tumulto, tropeçando com saltimbancos de dentes encouraçados de ouro e malabaristas de seis braços, sufocado pelo confuso hálito de esterco e sândalo que exalava a multidão, José Arcadio Buendía andava como um louco procurando Melquíades por todas as partes, para que lhe revelasse os infinitos segredos daquele pesadelo fabuloso. Dirigiu-se a vários ciganos que não entenderam a sua língua.
Por fim chegou ao lugar onde Melquíades costumava plantar a sua tenda e encontrou um armênio taciturno que anunciava em castelhano um xarope para se fazer invisível. Tinha tomado de um gole uma taça da substância ambarina, quando José Arcadio Buendía abriu passagem aos empurrões por entre o grupo absorto que presenciava o espetáculo e conseguiu fazer a pergunta. O cigano o envolveu no clima atônito do seu olhar, antes de se transformar numa poça de alcatrão fedorento e fumegante sobre a qual ficou boiando a ressonância de sua resposta: "Melquíades morreu." Aturdido pela notícia, José Arcadio Buendía permaneceu imóvel, tratando de vencer a aflição, até que o grupo se dispersou, reclamando por outros artifícios, e a poça do armênio taciturno se evaporou completamente.
Mais tarde, outros ciganos lhe confirmaram que na verdade Melquíades tinha sucumbido às febres, nas dunas de Cingapura, e o seu corpo tinha sido jogado no lugar mais profundo do mar de Java. Os meninos não se interessaram pela notícia. Teimavam para que seu pai os levasse para conhecer a portentosa novidade dos sábios de Mênfis, anunciada na entrada de uma tenda que, segundo diziam, pertenceu ao Rei Salomão. Tanto insistiram que José Arcadio Buendía pagou os trinta reais e os conduziu até o centro da barraca, onde havia um gigante de torso peludo e cabeça raspada, com um anel de cobre no nariz e uma pesada corrente de ferro no tornozelo, vigiando um cofre de pirata. Ao ser destampado pelo gigante, o cofre deixou escapar um hálito glacial. Dentro havia apenas um enorme bloco transparente, com infinitas agulhas internas nas quais se despedaçava em estrelas de cores a claridade do crepúsculo. Desconcertado, sabendo que os meninos esperavam uma explicação imediata, José Arcadio Buendía atreveu-se a murmurar:
- É o maior diamante do mundo.
- Não - corrigiu o cigano. - É gelo.
José Arcadio Buendía, sem entender, estendeu a mão para o bloco, mas o gigante afastou-a. "Para pegar, mais cinco reais", disse. José Arcadio Buendía pagou, e então pôs a mão sobre o gelo, e a manteve posta por vários minutos, enquanto o coração crescia de medo e de júbilo ao contato do mistério. Sem saber o que dizer, pagou outros dez reais para que os seus filhos vivessem a prodigiosa experiência. O pequeno José Arcadio negou-se a tocá-lo.
Aureliano, em compensação, deu um passo para diante, pôs a mão e retirou-a no ato. "Está fervendo", exclamou assustado. Mas o pai não lhe prestou atenção. Embriagado pela evidência do prodígio, naquele momento se esqueceu da frustração das suas empresas delirantes e do corpo de Melquíades abandonado ao apetite das lulas. Pagou outros cinco reais, e com a mão posta no bloco, como que prestando um juramento sobre o texto sagrado, exclamou:
- Este é o grande invento do nosso tempo.


(*) No original manos de gorrión. Explicação do autor à tradutora: "O importante da imagem é que esse pássaro tem patas de ave de rapina, mas é bom e inofensivo. Melquíades também, por suas mãos, e à primeira vista, podia parecer uma ave de rapina, mas não o era, como se viu mais tarde".

quarta-feira, 29 de junho de 2011

CRASH OF TITANS

91874-thor_vs_silver_surfer

EM SILÊNCIO

José Marcelo

frgtnplc

o mundo acabou assim. sem choro e sem riso. o velho deitou-se nu e a cama ficou úmida. a menina cantou enquanto penteava os cabelos. e seu reflexo no espelho era mais limpo e belo do que ela era na verdade. as paredes tremiam. a casa parecia gemer. a menina abriu a boca mas calou-se. o gesto do velho fora simples. um dedo erguido diante dos lábios. silêncio. em silêncio a menina vestiu seu melhor vestido. em silêncio ela deixou os lábios rubros. em silêncio. ela olhou o velho. mas nada havia para olhar. ele estava morto. morrera de-repente. morrera em silêncio. a menina não chorou. ela sabia o que estava para acontecer. ela deitou-se junto do velho. ela abraçou o velho e fechou os olhos. a casa desabou sobre ambos. a casa encolheu-se. o mundo girava. o mundo desabava. o mundo caía. em silêncio. o mundo acabou assim.

BAIXINHO INVOCADO

r-grampa_st01_final

r-grampa_st02_final

Marvel’s Strange tales II. Apenas um preview.

O Wolverine de Rafael Grampá é parrudo, baixinho e invocado como era nos bons tempos.

A 1ª PÁGINA

undated-typescript-of-the-first-page-of-aldous-huxleys-final-novel-island-heavily-annotated-in-his-hand

Aldous Huxley indeciso sobre a estruturação da indefectível primeira página de A Ilha.

Página e texto daqui: Quixotando.

terça-feira, 28 de junho de 2011

BAND OF BROTHERS

band-of-brothers-bastogne-471band-of-brothers-crossroadsband-of-brothers-crossroads-226band-of-brothers-replacements-217band-of-brothers-replacements-404band-of-brothers-the-last-patrol-270band-of-brothers-the-breaking-point-237

From this day to the ending of the world,
But we in it shall be remembered-
We few, we happy few, we band of brothers;
For he to-day that sheds his blood with me
Shall be my brother; be he ne’er so vile,
This day shall gentle his condition;
And gentlemen in England now-a-bed
Shall think themselves accurs’d they were not here,
And hold their manhoods cheap whiles any speaks
That fought with us upon Saint Crispin’s day.

Henry V, Ato 4, cena 3 – William Shakespeare

Quixotando.

VELUDO AZUL

Roteiro de David Linch


blue-velvet




Um trecho:




159. INT. FRANK'S CAR/DIRT ROAD - NIGHT

Frank angrily swerves the car off onto a small dirt road bouncing down
it, screeching to a halt near an orchard of trees. He turns violently
around to Jeffrey.

FRANK
What are you lookin' at?

JEFFREY
Nothing.

FRANK
(locks eyes with Jeffrey;
long pause)
Don't look at me, Fuck. I shoot when I see
the whites of the eyes.
(takes helium)
You like me?.

Jeffrey is quiet.

FRANK
(still high voice)
Look at these. What are these?

DOROTHY
Come on, Frank. Let's go. Please.

Frank is doing something to Dorothy's chest but Jeffrey can't see.

FRANK
Don't say PLEASE, Fuckhead. WHAT ARE
THESE?

DOROTHY
Those are my breasts.

FRANK
Can I feel 'em?

DOROTHY
If you want to.

Frank takes helium.

FRANK
Baby wants to pinch 'em.

She winces and tries to pull away.

FRANK
(continuing)
What's the matter? Give 'em back. They're
just a little red, that's all. let me feel
'em again. Come here.

Frank pulls her over and starts to pinch her again. It really hurts her
and she is frightened and in pain.

JEFFREY
Hey. leave her alone.

Frank pretends not to hear Jeffrey and pinches Dorothy's breasts real hard.
She stifles a scream. Jeffrey gets mad. He hits Frank hard in the face.
Everyone is deadly silent as Frank turns to Jeffrey. Frank stares at
Jeffrey.

FRANK
NEXT! . out of the car fuck. HELP HIM
OUT, RAYMOND!!

160. EXT. FRANK'S CAR/DIRT ROAD - NIGHT

Frank gets out and presses his face against the rear window. His distorted
face is hideous. He opens the back door. Raymond and Paul grab Jeffrey
and pull him out of the car. The Greasy Girl laughs nervously.

DOROTHY
Frank. he didn't mean it. Leave him
alone. come on. He didn't mean it.

FRANK
Shut up. Gimme your lipstick.
(takes gas)
. Hey, pretty, pretty.

Dorothy doesn't move fast enough so Frank dumps her whole purse out on the
front seat and grabs the lipstick and a flashlight. He puts lipstick
heavy onto his lips.

While Raymond and Paul hold Jeffrey. Frank kisses Jeffrey all over the
mouth. Jeffrey tries to hit Frank and pull away, but Raymond and Paul
have a hold of him. Jeffrey looks very strange with these big blotches
of red lipstick on his face and mouth.

DOROTHY
LEAVE HIM ALONE!! FRANK!!

Frank slams the front door shut to muffle Dorothy. He grabs Jeffrey and
presses his frightened face against the front window. Then, the back
window. Then, he flops Jeffrey up on the hood with Paul's help and presses
Jeffrey's face against the rear window. Inside the car, this show is
crazy and scary. Then, Frank takes Jeffrey over to the side of the car
again.

FRANK
(to Jeffrey)
You're fuckin' lucky to be alive.
LOOK AT ME!

Raymond pulls Jeffrey's face back so he's looking at Frank. Dorothy and
the Greasy Girl watch in terror.



FRANK
Don't be a good neighbor to her or I'm
gonna send you a love letter. straight
from my heart, fucker. You know what a
love letter is? It's a bullet. straight
from my gun, fucker. Once you get a love
letter from me, you're fucked forever.
Understand, Fuck?

JEFFREY
Yes.

FRANK
I'll send you straight to hell, Fuck!

Frank takes a small square of blue velvet out of his pocket and begins
feeling Jeffrey's face with it.

FRANK
(continuing; breathing heavily)
You feel good. feel my muscles.

Raymond makes Jeffrey raise his arm and Jeffrey feels Frank's biceps.

FRANK
(continuing)
You like that?
(to Raymond and Paul)
Hold him tight for me.

Suddenly Frank starts hitting Jeffrey in the face. Dorothy screams at the
car window.



segunda-feira, 27 de junho de 2011

A BELA

elle-fanning

Elle Fanning.

UM POUCO MAIS COMIGO

José Marcelo

le-vampire-de-dc3bcsseldorf-marie-france-pisier-robert-hossein

Meias escuras e boca cansada. Ela deitou-se nas escadas e tocou-o com as pontas dos dedos.

Você sabe, disse ela. Sabe o que eu sinto.

Sei, respondeu ele. Mas não me importa.

Por quê?

Não me importa.

Então…

Eu não quero ter nada com você, disse o homem em seu terno fino e escuro.

… o que está fazendo aqui?

Ele levantou-se e disse, estou indo embora.

Ela fechou os olhos e ficou ouvindo o som dos sapatos dele – toc toc toc toc até sumir.

No meio da noite, no quarto escuro trêmulo… em sonhos de ecos sapateando ao longe… enquanto a cama estalava e rangia… enquanto ela ria e chorava ao mesmo tempo… em um lugar de contornos estranhos… com gotas rubras escorrendo e caindo nos cantos…

Foi lá que ela o viu… naquele sonho opressivo e vermelho.

E nunca mais.

No dia seguinte, a foto dele na página policial: o corpo estirado no meio da rua, no meio do sangue, os olhos ainda abertos, olhando para o céu. O texto na página dizia que ele havia sido esfaqueado tantas vezes que o legista ainda não tinha certeza do quanto.

Ela fechou o jornal, largou-o no chão, pensou, ele devia ter ficado um pouco mais comigo.

Só então permitiu-se chorar.

KIRA

08

O TALENTOSO SR. RAY

hung1-500x331


O IMPÉRIO DE ENOCH THOMPSON

BW26


TEATRO DO MISTÉRIO

Sandman_Mystery_Theatre_#44_p00fc trad

É uma série de mistério pulp envolvendo super heróis obcecados e assassinos bizarros – para ler, basta clicar na capa. Um oferecimento:

Gibiscuits.

UM POEMA DE ABARAT

Clive Barker

carrion

Witch, do this for me,
Find me a moon
made of longing.
Then cut it sliver thin,
and having cut it,
hang it high
above my beloved’s house,
so that she may look up
tonight
and see it,
and seeing it, sigh for me
as I sigh for her,
moon or no moon.

CAÇADORES DA ARCA PERDIDA

Roteiro de Lawrence Kasdan


os-cacadores-da-arca-perdida1


Um trecho:


FADE IN:

1 EXT. PERU - HIGH JUNGLE - DAY 1

The dense, lush rain forests of the eastern slopes of
the Andes, the place known as "The Eyebrow of the Jun-
gle". Ragged, jutting canyon walls are half-hidden by
the thick mists.

The MAIN TITLE is followed by this:

PERU
1936

A narrow trail across the green face of the canyon. A
group of men make their way along it. At the head of
the party is an American, INDIANA JONES. He wears a
short leather jacket, a flapped holster, and a brimmed
felt hat with a weird feather stuck in the band. Behind
him come two Spanish Peruvians, SATIPO and BARRANCA.
Bringing up the rear are five Yagua INDIANS. They act
as porters and are wrangling the two heavily-packed
llamas. The Indians become increasingly nervous. They
speak to each other in bursts of Quechua. The American,
who is known to his friends as Indy, glances back at them.

BARRANCA
(irritated)
They're talking about the Curse
again!

He turns and yells at the Indians in Quechua, his anger
giving an indication of his own fears. The party reaches
a break in the canyon wall and takes the trail through it.

When they emerge, their destination is revealed to them
in the distance. Beyond a thick stand of trees is the
vegetation-enshrouded TEMPLE OF THE CHACHAPOYAN WARRIORS,
2000 years old.

The entire party is struck by the sight. The Indians,
terrified now, chatter away. Suddenly the three at the
back turn and run, dropping their packs as they go. Bar
ranca yells at the fleeing Indians and pulls his pistol
out. He starts to raise his arm to aim but Indy restrains
it in a muscular grip.

INDY
No.

Barranca looks evilly at Indy's hand upon him. Indy re-
leases him and smiles in a friendly way.

INDY
We don't need them.

Satipo watches this confrontation with some concern.

BARRANCA
I do not carry supplies.

INDY
We'll leave them. Once we've got
it, we'll be able to reach the plane
by dusk.

He turns back to the trail. Satipo gets the two remaining
Indians moving behind Indy. Satipo and Barranca then have
a fast, silent communication: Barranca indicates his de-
sire to slit Indy's throat; Satipo gives him a look that
says "Be patient, you idiot".


2 THE APPROACH TO THE TEMPLE 2

The party fans out to fight their way through the en-
twined trees that guard the temple. Visibility is cut to
five feet in the heavy mist. Satipo extracts a short,
native dart from a tree and examines the point gingerly

SATIPO
(showing Indy)
The Hovitos are near. The poison
is still fresh...three days. They're
following us, I tell you.

INDY
If they knew we were here, they would
have killed us already.

The two Indiana jabber in Quechua, near hysteria. Bar-
ranca is sweating profusely, eyes darting. He yells at
the Indians in Quechua to "shut up".

In the undergrowth, there is slithering movement.

Indian #1 draws aside a branch and is faced with a hor-
rific stone sculpture of a Chachapoyan demon. The Indian
is so frightened no sound comes out when he screams. He
turns and runs silently away.

Indian #2 calls to his friend. Getting no response, he
steps in that direction. A huge macaw, flushed from the
undergrowth, screams and flies away. Indian #2 does ex-
actly the same thing, never to be seen again.

Indy, Satipo and Barranca, just clearing the trees, look
back in that direction. They all turn to face the Temple.

It is dark and awesome. Vegetation curls from every
crevice, over each elaborate frieze. The entrance--
round, open and black--has been designed to look like
open jaws.

INDY
So this is where Forrestal cashed in.

SATIPO
A friend of yours?

INDY
Competitor. He was good, very good.

BARRANCA
(nervous)
No one has ever come out of there alive.
Why should we put our faith in you?

Indy takes the weird feather from the band of his hat.
From around its point, he slips a tightly rolled piece
of parchment. Barranca and Satipo exchange a quick "So
that's where is was!" look. They all kneel as Indy
spreads out the parchment. On it is one-half of a crude
floorplan of the Temple.

INDY
No one ever had what we have...
partners.

Indy fixes them with an expectant stare. Satipo produces
a similar, but folded, piece of parchment. He lays it--
the other half of the floorplan--next to Indy's. They
all regard it for a moment, then Indy stands and walks
toward the Temple. Barranca's eyes are shining as they
dart between the floorplan and Satipo.

INDY
(back turned)
Assuming that pillar there marks
the corner and...

Barranca is suddenly on his feet, quietly drawing his pis-
tol. He raises it toward Indy as Satipo realizes with
alarm what he's doing. Too late. Indy's head turns and
he sees Barranca.

Indy's next move is amazing, graceful and fast, yet
totally unhurried. His right hand slides up under the back
of his leather jacket and emerges grasping the handle of
a neatly curled bullwhip. With the same fluid move that
brings Indy's body around to face the Peruvian, the whip
uncoils to its full ten foot length and flashes out.

The fall of the whip (the unplaited strip at the end of
the lash) wraps itself around Barranca's hand and pistol.
He could not drop the gun now if he tried.

Indy gives the whip a short pull and Barranca's arm in
jerked down, where it involuntarily discharges the gun
into the dirt. Barranca is amazed, but feels some slack
in the whip and immediately raises the gun toward Indy
again, cocking it with his free hand.

Indy's face goes hard. And sad.

Indy sweeps his arm in a wide arc. Barranca spins around,
enclosed in the whip, his gun hand stuck tight against
his body. Indy gives one more short jerk on the whip
handle and Barranca's gun fires. Barranca falls dead.

Indy looks quickly at Satipo, who is shocked and fright-
ened. He raises his arms in supplication.

SATIPO
I knew nothing! He was crazy!
Please!

Indy looks him over, then nods. He frees the whip from
Barranca's body and picks up the man. His eyes sweep
the surrounding woods.

INDY
Let's go.


3 INT. TEMPLE - INCLINED PASSAGE - DAY 3

Indy and Satipo, carrying a torch, walk up the slightly
inclined, tubular passage from the main entrance. The
interior is wet and dark, hanging with plant life and
stalactites. Their echoing footsteps intermittently
overpower the sounds of loud dripping, whistling air
drafts and scampering claws.


4 HALL OF SHADOWS 4

Indy leads the way down a twisting hallway, Satipo's
torch barely lighting his way from behind. Indy dis-
appears in a shadow and when he reappears a moment later
a huge black tarantula is crawling up the back of his
jacket. Indy doesn't notice and disappears into another
shadow, emerging with two more tarantulas on his back.

Satipo sees them and makes a frightened grunting sound.
Indy looks at him, sees what he's pointing at and cas-
ually brushes all three spiders off with his rolled
whip, as he would a fly. Satipo pirouettes for an in-
spection and Indy flicks one off the Peruvian's back.

Indy begins picking up little pocket-sized artifacts from
the niches and ledges of the Temple. He continues to
do this as the men penetrate the Temple. His collecting
is quick and expert, evaluating the pieces in an instant,
discarding some, stuffing others into his clothes, and
never stopping his forward progress.


5 CHAMBER OF LIGHT 5

The men reach an arch in the hall. The small chamber
ahead, which interrupts the hall, is brightly lit by a
shaft of sunlight from high above. Indy stops, looks
it over.

SATIPO
What's wrong? Are you lost?

Indy picks up a stick and throws it through the shaft
of light. Giant spikes spring together from the sides
of the chamber with a ferocious CLANG! And impaled on
the spikes are the remains of a white man, half-fleshed,
half skeleton, in explorer-type grab. Indy reaches out
and takes hold of the man's carcass. As the spikes slowly
retract, Indy pulls it free and seats the remains gently
on the floor.

INDY
Forrestal.

SATIPO
(gulps)
We can go no further.

INDY
Now, Satipo, we don't want to be
discouraged by every little thing.

Indy steps sideways into the chamber. His back pressed
against the very points of the retracted spikes, he moves
along the edge of the light beam, and steps clear on the
other side. Satipo grimaces and begins sweating his way
through.


6 STAIRWAY 6

Indy and Satipo come down stone stairs to a tight land-
ing. Framing the entry are a carefully strung network of
dead vines, each somehow hooked into the wall, narrowing
the opening even more.

INDY
(taking torch)
Let me see that.

He lowers the torch to the floor of the landing. The
landing is carpeted with human skeletons, one on top of
another, all squashed flat as cardboard. Satipo gasps.
Indy looks up at the ceiling of the landing, then steps
onto skeletons, which make a cracking noise under his feet.

INDY
Try not to touch the vines.


7 FOYER OF THE SANTUARY 7

The men are in a high, straight hallway 50 feet long.
The door at the end is flooded with sunlight.

SATIPO
Senor, I think we are very close.

Indy stands still looking at the hall.

SATIPO
(impatient)
Let us hurry. There is nothing
to fear here.

INDY
That's what scares me.

They begin walking down the hall side by side. Satipo
has inched a little ahead. Suddenly his lead foot comes
down and through the floor! As Satipo begins to pitch
forward, Indy grabs him by the belt and pulls him back.
They both look down at the "floor".

Indy swings his whip across the floor. Fifteen feet of
it cuts open beneath the lash, falling away to reveal
black pit as wide as the hall. The illusory floor was
made of dust-covered cobwebs. Satipo picks up a stone
and drops it down the pit. No sound. The two men ex-
change glances. Indy looks up at the high roof of the
hall. He swings the whip up around a support beam, tests
its strength with a pull and swings over the pit on the
whip. From the other side he swings the whip back to
Satipo, who throws Indy the torch. Satipo swings across.
When they are both standing on solid floor there is a
moment of quiet in which they hear, from far, far below--
SPLASH! Indy wedges the whip handle into the wall and
leaves it strung to the beam for quick retreat.


8 THE SANTUARY 8

A large, domed room. Ten evenly-spaced skylights send
their shafts of sunlight down to a unique tiled floor:
white and black tiles laid out in a lovely, intricate
pattern. Indy and Satipo stand at the door and look
across the wide room at the altar. There, in the supreme
hallowed spot, is a tiny jeweled figurine, Indy's real
objective.

Two torches, many years old, are in holders by the door.
Indy takes one down and lights it. He gives the regular
torch to Satipo.

SATIPO
There's plenty of light, amigo.

Indy kneels and uses the unlit end of the torch to reach
out and tap a white tile. It is solid. He taps a black
tile. There is a whizzing sound and a tiny dark sticks
in the torch. Satipo points to the wall nearby: there is
a recessed hole there.

SATIPO
From that hole!

Indy nods, stands and looks around the sanctuary. The
entire room is honey-comed with the same kind of hole.
Satipo sees it too and is properly impressed.

INDY
You wait here.

SATIPO
If you insist, senor.

Torch in hand, Indy begins his careful walk across the
sanctuary. Stepping only on the white tiles, he almost
appears to be doing a martial arts kata. Before each
big move he waves the torch in front of him head to toe,
looking at the flame. Halfway out, he sees something
on the floor and kneels to look at it.

A dead bird lies on one of the white tiles. Its body is
riddled with little deadly darts. This has great signi-
ficance to Indy and he stands with even greater caution.
He waves the torch ahead of him and at waist height an
air current whips at the flame. Indy ducks under it and
leaves a burn mark on the white tile beneath it.

Satipo watches, wide-eyed and mystified.

Indy reaches the altar. The tiny idol looks both fierce
and beautiful. It rests on a pedestal of polished stone.
Indy looks the whole set-up over very carefully. From
his jacket he takes a small, canvas drawstring bad. He
begins filling it with dirt from around the case of the
altar. When he has created a weight that he thinks ap-
proximates the weight of the idol, he bounces it a couple
times in his palm concentrating. It's clear he wants to
replace the idol with the bag as smoothly as possible.
His hand seems ready to do that once, when he stops, takes
a breath and loosens his shoulder muscles. Now he sets
himself again. And makes the switch! The idol is now in
his hand, the bag on the pedestal. For a long moment it
sits there, then the polished stone beneath the bag drops
five inches. This sets off an AURAL CHAIN REACTION of
steadily increasing volume as some huge mysterious mechanism
rumbles into action deep in the temple.

Indy spins and starts his kata back across the sanctuary
at four times the speed.

Satipo's eyes widen in terror. He turns and runs.


9 THE RETREAT - INTERCUTTING INDY AND SATIPO 9

The sanctuary has begun to rumble and shake in response
to the mysterious mechanism. Just as Indy goes out the
door, a rock shakes loose from the wall and rolls onto the
tiles floor. Immediately, a noisy torrent of poison darts
filles the room.

IN THE FOYER, Satipo swings across the pit. He makes it
just as the whip comes undone from the beam, leaving Indy
without an escape. Satipo, extremely nervous, regards
the whip a moment then turns back to face Indy, who has
run up to the far side of the pit.

SATIPO
No time to argue. Throw me the
idol, I throw you the whip.

Indy hesitates, eyeing the rumbling walls.

SATIPO
You have no choice! Hurry!

Indy concurs with that assessment. He tosses the idol
across the pit to Satipo. Satipo stuffs it in the front
pocket of his jacket, gives Indy a look, then drops the
whip on the floor and runs.

SATIPO
Adios, amigo!

Indy grimaces. He had a feeling this might happen. He
looks around.

AT THE VINED LANDING, Satipo flies through like a chubby
ballet dancer and takes the steps five at a time.

IN THE FOYER, Indy runs in full stride to the edge of the
pit and broad jumps into space. He doesn't make it. His
body hits the far side of the pit and he begins to slide
out of view. Only wild clawing with his fingers at the
edge of the pit stops his descent. With just the tips
of his fingers over the edge, he begins pulling himself up.

AT THE CHAMBER OF LIGHT, Satipo has slowed down. He begins
to edge carefully around the light shaft.

AT THE VINED LANDING, Indy sails through sideways and rolls
to a stop at the bottom of the steps. His whip is grasped
in his hand. As he raises himself, he hears, from above
the giant spikes of the Chamber of Light CLANG! and an
abrupt, sickening rendition of SATIPO'S LAST SCREAM. Indy
runs up the steps. The rumbling sound grows louder.

AT THE CHAMBER OF LIGHT, Indy slides to a stop. The
spikes have retracted, taking Satipo's body to one side.
Indy edges into the chamber with his back to the shaft
of light. Soon he is face to face with the dead Satipo;
spikes protrude from several vital spots in the Peruvian's
body. Indy removes the idol from Satipo's pocket and
moves quickly out the other side.

INDY
Adios.


10 THE INCLINED PASSAGE 10

Indy shoots out of a cut-off hallway and turns toward the
exit. The rumbling is very loud and now we see why:
right behind Indy a huge boulder comes roaring around a
corner of the passage, perfectly form-fitted to the passage-
way. It obliterates everything before it, sending the sta-
lactites shooting ahead like missles. Indy dashes for
the light of the exit. His hat flies off his head. Almost
immediately it is crushed by the boulder. Indy dives out
the end of the passage as the boulder slams to a perfect
fit at the entrance, sealing the Temple.


11 EXT. FRONT OF THE TEMPLE - DAY 11

Indy lies on the ground, gasping for air. A shadow falls
across him and he looks up.

WHAT HE SEES. looming above him are three figures. Two
are HOVITOS WARRIORS in full battle paint and loin cloths.
They carry long blow guns. But the man in the center draws
Indy's attention. He is a tall, impressive white man,
dressed in full safari outfit including pith helmet. His
name is EMILE BELLOQ. His face is thin, powerful; his eyes
hypnotic; his smile charming, yet lethal. His heavily
French-accented speech is deep, mellifluous, wonderful.
Back beyond Belloq and his two escorts, thirty more Hovitos
Warriors hover at the edge of the trees.

BELLOQ
Dr. Jones, you choose the wrong
friends. This time it will cost you.

Belloq extends his hand. Indy looks at it, then pro-
duces the idol and hands it to Belloq. Belloq extends
his other hand, smiling. Indy hands over his gun. Belloq
sticks it in his jacket.

BELLOQ
And you thought I'd given up.

INDY
(eyeing the Hovitos)
Too bad they don't know you like
I do, Belloq.

BELLOQ
(smiles)
Yes, too bad. You could warn
them...if only you spoke Hovitos.

With that, Belloq turns dramatically and holds the idol
high for all the Hovitos to see and says something in
Hovitos. There is a murmur of recognition and all the
Indians, including Belloq's escorts, prostrate themselves
upon the ground, heads down.

Indy is immediately up and running toward the edge of the
clearing.

BELLOQ
(in Hovitos)
Kill him!

AT THE EDGE OF THE CLEARING, Indy disappears into the
foliage. An instant later, the leaves are peppered with
a rain of poison darts and spears.


12 EXT. THE JUNGLE - INDY'S RUN - VARIOUS SHOTS - DAY 12

Indy runs like hell through steadily falling terrain.
And always close behind, a swift gang of angry Hovitos.
Occasionally they get close enough to send a dart or
spear whizzing past Indy's head.


13 EXT. THE URUBAMBA RIVER - DUSK 13

An amphibian plane sits in the water beneath a green cliff.
Sitting on the wing is JOCK, the British pilot. Indy
breaks out of some distant brush and runs along the path
at the top of the cliff.

INDY
(yelling)
Get it going! Get it going!

Jock hops in and fires up the plane's engines. Indy
reaches a spot on the cliff above the place, glances
back, them jumps into the river. He comes up, swims
to the plane and grabs a strut.

INDY
GO!

Jock starts the plane moving across the water as Indy
walks across the wing and falls into the passenger com-
partment.


14 OMIT OMIT 14


15 OMIT OMIT 15


16 INT. JOCK'S PLANE - DUSK 16

Indy relaxes and lies across the seat, a big smile on
his face. One hand drops to the floor of the cabin and
Indy jumps, hitting his head. On the floor of the cabin
is a huge boa constrictor. Indy tries to get his whole
body onto the seat. Jock sees what's happening.

JOCK
Don't mind his. That's Reggie.
Wouldn't hurt a soul.

INDY
I can't stand snakes.

JOCK
The world's full of them, you know.

INDY
I hate them.

JOCK
Come on now, Sport, show a little
of the old backbone.


17 EXT. JOCK'S PLANE - TWILIGHT 17

It soars off over the dark jungle.



domingo, 26 de junho de 2011

KONSTANSIJA

mpl_konstansija_behind_the_wall_008

CONSTANTINE POR BISLEY

tumblr_ln1tmztB441qh5euso1_1280

DEUS RAUL

A FERA

tumblr_llg7k3fokp1qzooxpo1_1280

Akira Kurosawa

VERTIGO

Roteiro de Alec Coppel e Samuel Taylor.
Baseado na Novela d'Entre les Morts de Pierre Boileau e Thomas Narcejac.

Vertigo_Pic_Hitchcock

Um trecho:

EXT. SAN FRANCISCO ROOF TOPS - (DUSK) - CLOSE SHOT

We see a close view of a roof parapet and the curved rail of
a fire escape. In the bag, are large skyscrapers with all
their windows fully lit in the late winter afternoon. This
background is used for the CREDIT TITLES of the picture.
After the last card has FADED OUT, we HOLD on to the empty
parapet, when suddenly a man's hand reaches and grips the
top of the rail. It is followed by another hand and, after a
beat, we see the face of a man in his early 30's. He is an
Italian type, with rough features. He turns quickly and looks
below him and then turning back, springs up over the empty
parapet and is lost from view. We STAY on the EMPTY SCENE
for a second or two as we HEAR the scraping of boots on the
iron ladder. Someone else is coming up. Presently, two more
hands and the head of a uniformed policeman with cap and
badge starts to climb over the parapet. The CAMERA PULLS
BACK so that by the time he has completed his climb, he is
in full figure. He dashes out of the picture drawing his
gun. Immediately following him over the parapet, a detective
in plain clothes climbs over. This is JOHN FERGUSON, known
as SCOTTIE. He too pulls a gun and dashes out of the picture.

EXT. SAN FRANCISCO ROOF TOPS - (DUSK) - LONG SHOT

A vast panorama of the San Francisco skyline. Nearer to us
are three tiny figures running and jumping over the roof
tops. The man on the run, whom we first saw climb over the
parapet, is dressed in a white shirt and light tan linen
slacks, and wearing sneakers. The uniformed man is shooting
at him. Scottie is dressed in medium grey clothes. The CAMERA
SLOWLY PANS the group across the roof tops.

EXT. SAN FRANCISCO ROOF TOPS - (DUSK) - MED. SHOT

We now see a short gap between rooftops, with a drop below.
The pursued man makes the leap successfully followed by the
uniformed policeman. Scottie makes the same leap, but almost
trips in taking off and is thrown off balance. He tries to
recover, lands awkwardly on the opposite roof, and falls
forward, prone, with a heavy impact that hurts and drives
tile breath from his body. He tries to rise but raises his
head with a look of pain -- one leg is doubled up under the
other. The tiles give way, and he slides backwards, and his
legs go over the edge of the roof, then his body. In his
daze he grasps at the loose tiles, and as he goes over the
edge he clutches on to the gutter, which gives way, and he
swings off into space, looking down.

EXT. SAN FRANCISCO ROOF TOPS - (DUSK) - CLOSE SHOT

Scottie looking down.

EXT. SAN FRANCISCO ROOF TOPS - (DUSK) - LONG SHOT

From Scottie's viewpoint, the gap beneath the building and
the ground below. It seems to treble its depth.

EXT. SAN FRANCISCO ROOF TOPS - (DUSK) - CLOSEUP

Scottie looking down with horror. His eyes close as a wave
of nausea overcomes him.

EXT. SAN FRANCISCO ROOF TOPS - (DUSK) - MEDIUM SHOT

In the distance the fleeing criminal. The policeman, seeing
what has happened to Scottie, returns to the slope of the
roof and strains to reach down to Scottie.

POLICEMAN
Give me your hand!

EXT. SAN FRANCISCO ROOF TOPS - (DUSK) - CLOSE UP

SCOTTIE'S HEAD. His hands grip the edge of the guttering.
The tips of the fingers of policeman straining to reach
Scottie, are at the top of screen. Scottie begins to open
his grip but stares down, he quickly resumes his grip looking
up hopelessly towards the helping hand. He looks down again.
FROM SCOTTIE'S VIEWPOINT - the ground below still a long way
away.

EXT. SAN FRANCISCO ROOF TOPS - (DUSK) - MEDIUM SHOT

The policeman's hand in foreground, his face beyond.

POLICEMAN
What's the matter with you? Give me
your hand!

Policeman endeavors to stretch out his hand further.

EXT. SAN FRANCISCO ROOF TOPS - (DUSK)

The tiles beneath the policeman's heel begin to give. The
Policeman starts to slide. He claws desperately at the surface
of the roof.

EXT. SAN FRANCISCO ROOF TOPS - (DUSK) - CLOSEUP

Scottie, his eyes closed. He opens them as he hears a wild
cry.

EXT. SAN FRANCISCO ROOF TOPS - (DUSK) - LONG SHOT

The policeman falling through space.

EXT. SAN FRANCISCO ROOF TOPS - (DUSK) - CLOSEUP

Scottie stares down in horror.

EXT. SAN FRANCISCO ROOF TOPS - (DUSK) - LONG SHOT

The body of the policeman sprawled on the ground below.
People are running into the alleyway; they stare at the body,
look up to where Scottie is hanging. We see the light on
their upturned faces. And now we hear a police whistle blown
shrilly, again and again. Up to this moment the background
music has had an excitement to match the scene, and now it
cuts off, abruptly, leaving on the echo of the police whistle
as the DISSOLVE begins. Then, in the DISSOLVE, we hear the
gentle insistence of Scarlatti played by a chamber orchestra.

A BELA

18822609.jpg-r_760_x-f_jpg-q_x-20071002_104857

Lauren Cohan

CONTO DE INVERNO

Dylan Thomas

dylan_thomas_8

É um conto de inverno
Que o cego crepúsculo de neve transporta sobre os lagos
E os flutuantes campos da fazenda na taça dos vales,
Deslizando tranquilo entre os flocos agarrados com a mão,
Sobre o pálido bafio do rebanho junto à vela furtiva,

E as estrelas que caem frias,
E o cheiro do feno em meio à neve, e a distante coruja
Que adverte entre os apriscos e o gélido refúgio
Agarrado à fumaça branco-ovelha da chaminé da estância
Nos vales cruzados pelo rio onde a história é contada.

Outrora, quando o mundo envelheceu
Numa estrela de fé pura como o pão que boiava sem destino,
Como o alimento e as chamas da neve, um homem desenrolou
Os pergaminhos de fogo que ardiam em sua cabeça e em seu coração
Rasgados e esquecidos numa casa sobre uma dobra da campina.

E ardendo então
Em sua ilha flamejante cingida pela neve alada
E as esterqueiras brancas como a lã e os poleiros das galinhas
Que dormiam enregeladas até que a chama da aurora
Penteasse os pátios encapotados e os homens da manhã

Tropeçassem nas enxadas,
E o rebanho espreguiçasse, e o gato arisco perseguisse o rato,
E os pássaros eriçados saltassem para caçar, e as suaves
Ordenhadoras arrastassem seus tamancos sobre o céu desmoronado,
E toda a fazenda despertasse em seus brancos afazeres,

Ele se ajoelhou, chorou, rezou,
Junto ao assador e à caneca escura sob a faiscante luz da lenha
E à xícara e ao pão partido entre as sombras bailarinas,
Na casa abafada, no decorrer da noite,
À beira do amor, apreensivo e atraiçoado.

Ajoelhou-se sobre as pedras frias,
Chorou desde a crista da dor, rezou ao céu nublado
Para que a fome fosse embora uivando sobre alvos ossos nus
Além das estátuas dos estábulos e das pocilgas com tetos celestes
E do cristal da lagoa dos patos e dos ofuscantes currais solitários

Até o lugar das orações
E das chamas, onde pudesse vagar sob a nuvem
De seu amor cego pela neve e precipitar-se para as brancas tocas.
Sua miséria desnuda o golpeava e, arqueado, ele uivava
Embora som algum flutuasse no ar enrugado em sua mão

A não ser o vento que excitava
A fome dos pássaros nos campos do pão, da água, lançados
Nos altos trigais e a colheita a derreter-se em suas línguas.
E sua anónima miséria o enlaçava e ele ardia extraviado
Quando, frio como a neve, tinha de correr entre os vales cruzados

Pelos rios que desaguam na noite,
E afogar-se nos torvelinhos de sua miséria, e estender-se enrolado,
Agarrado ao centro desde sempre desejado do branco
Berço desumano e do leito nupcial eternamente procurado
Pelo crente perdido e o proscrito expurgado da luz.

Liberta-o, gritava,
Perdendo-o de todo no amor, e arroja a sua miséria
Nua e solitária na engolfante noiva
Para que ela nunca germine nos campos da branca semente
Ou floresça escarranchada na carne agonizante.

Escuta. Cantam os trovadores
Nas aldeias mortas. O rouxinol,
Poeira nos bosques sepultos, voa com os órgãos de suas asas
E soletra o seu canto de inverno aos ventos dos mortos.
A voz da poeira líquida que vem das fontes extintas

Está falando. O córrego seco
Salta com balidos e latidos aquáticos. O orvalho repica
Nas folhas trituradas e nos reflexos que há muito já não brilham
Da paróquia de neve. As bocas entalhadas na rocha são
cordas tangidas pelo vento.
O tempo canta por entre as obscuras campânulas mortas. Escuta.

Foi um som ou certa mão
Que abriu de par em par a tenebrosa porta na terra de outrora
E lá fora, sobre o pão do solo,
Uma ave se ergueu radiante como uma noiva em chamas,
Uma ave amanheceu, e seu peito se emplumou de neve e escarlate.

Olha. E os bailarinos se movem
Sobre os mortos, a neve se vestiu de verde, liberta ao luar
Com uma revoada de pombos. Exultantes, os cavalos de cascos solenes,
Centauros mortos, regressam e percorrem os alvos pastos alagados
Nas fazendas dos pássaros. O carvalho morto sai em busca do amor.

Os membros esculpidos na rocha
Saltam como ao som das trombetas. A caligrafia das velhas folhas
Está dançando. Os traços da idade sobre a pedra se entrelaçam num rebanho.
A voz de harpa da poeira das águas se desgarra de uma dobra das campinas.
Em busca do amor, alça seu voo a ave de outrora. Olha.

E as asas selvagens se elevaram
Sobre a sua cabeça enrugada, e a doce voz das plumas
Esvoaçou pela casa como se o pássaro entoasse louvores
E todos os elementos da lenta queda se rejubilassem
Porque um homem solitário se ajoelhara na taça dos vales,
Sob o manto, em sossego,
Junto ao assador e à caneca escura sob a faiscante luz da lenha,
E o céu dos pássaros com a voz emplumada o erguia ao sortilégio
E ele corria como o vento atrás do voo em chamas
Para além dos celeiros sem luz e dos currais da fazenda em calma.

Nos pólos do ano
Quando os melros morriam como sacerdotes nas sebes embuçadas
E as distantes colinas tangenciavam o tecido dos condados,
Sob as árvores de uma só folha corria um espantalho de neve,
Precipitando-se por entre os torvelinhos das moitas esgalhadas como cervos,

Andrajos e orações caíam sobre
As colinas ajoelhadas e ecoavam nos lagos adormecidos,
Perdidos a noite inteira e a vagar por muito tempo no despertar
Da ave através dos tempos, das terras e dos flocos de neve.
Escuta e olha por onde ela navega no mar agitado pêlos gansos,

O céu, o pássaro, a noiva,
A nuvem, a miséria, as estrelas fincadas no azul, o júbilo
Para além dos campos semeados e o tempo escarranchado na carne agonizante,
E os céus, o céu, a tumba, a ardente pia batismal.
Na terra que já fora, a porta de sua morte se abriu de par em par

E o pássaro desceu
Numa colina branca como o pão sobre a concha da fazenda
E os lagos e os campos flutuantes e os vales cruzados pelo rio
Onde ele rezava para alcançar o derradeiro prejuízo
E a casa das preces e do fogo, já terminado o conto.

A dança se extingue
Na brancura que já não reverdece, e, morto o trovador,
Aflora o canto nas aldeias de desejos calçados pela neve
Que outrora entalharam as silhuetas dos pássaros no pão profundo
E fizeram deslizar as formas dos peixes voadores sobre os lagos de cristal
Degolou-se o ritual
Do rouxinol e do centauro morto. As fontes voltam a secar.
Os traços da idade dormem na pedra até que a aurora se anuncie.
Jaz o júbilo. O tempo sepulta o clima da primavera
Que retinha e saltava com o fóssil e o orvalho renascido.

Porque a ave se deitara
Num coro de asas, como se estivesse morta ou adormecida,
E as asas se movessem em surdina e ele se sentisse louvado e casado,
E por entre as coxas da noiva envolvente,
A mulher com seus seios e o pássaro de crista celestial,

Foi ele enfim derrubado Ardendo no leito nupcial do amor,
No torvelinho do centro desejado, nas dobras
Do paraíso, no botão rodopiante do universo.
E ela se ergueu com ele florescendo em sua neve derretida.