José Marcelo
O grito. Ouvi o grito na hora que deveria ouvir: no meio da noite. Na madrugada quente e mal dormida, esparramado na cama bagunçada e quente, quente demais. Era uma noite suada, um inferno entrecortado por vislumbres de sonhos ocos e trêmulos. Sonhos de prazer e cacos de vidros mastigados e sorrisos com babas escuras. Sonhos breves e de-repente interrompidos. Por um grito.
Eu acordei e já estava sentado, antes do fim do grito. Confuso, não sabia dizer de onde viera. Acendi a luz. Coloquei os pés descalços no chão. E estremeci. Era outro som agora. Também aterrorizante. Pancadas duras e secas, longas e agonizantes.
Olhei ao redor. Meus olhos enxergavam melhor agora a cela estreita e as barras que iam dar em um corredor mais estreito ainda.
Tornei a deitar-me e cobri os ouvidos com as mãos. Quase consegui não chorar.
2 comentários:
Texto impressionante, terminei de ler com o pulso acelerado.
Obrigado. Quis deixar algumas coisas apenas sugeridas, mas fiquei com receio de ficar vago demais.
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