É o que me lembro.
Eu me lembro de Sandro no terraço do prédio em uma noite cheia de fumaça e uma lua oculta sob nuvens que eu também não conseguia ver. Sandro usando um vestido curto e a boca suja do batom de todas aquelas garotas que ele beijara na festa. Sandro com a maquiagem borrada de tanto chorar e reclamando que as meias estavam apertando seu pau.
Sandro olhando para o revólver na minha mão, dizendo “Não foi por mal. É importante para mim que você acredite nisso. Não foi por mal”.
“Eu acredito, Sandro”, eu disse. “Eu acredito. Mas isso não muda nada.”
Ele sorriu. “Eu sei”, disse e virou-se de costas para mim. Provavelmente procurava pela lua. “Eu não quero morrer. Eu não quero morrer. Peça o que quiser, eu faço. Juro que faço.”
“Não o que eu quero.”
Ele virou-se e me encarou. “Qualquer coisa. juro.”
“Você pode trazê-la de volta?.”
Ele me olhou, confuso.
“Achei que não.”, eu disse e ergui a arma.
Atirei no rosto dele . A bala entrou pela boca e saiu na nuca, arrancando dentes, carne, ossos e pele. Sandro caiu de joelhos e ficou me olhando, engasgado por uma baba de sangue, chorando de dor e medo. Uma figura patética, imbecil. Andei até ele e o chutei. Ele caiu, as mãos tentando segurar a boca, trêmulas. Então, atirei de novo. Descarreguei o revólver e tornei a carregá-lo e atirar até que o rosto de Sandro era só uma massa esburacada e irreconhecível.
Depois, fui até a beira do prédio e fiquei esperando me buscarem.
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