terça-feira, 29 de maio de 2012

A JORNADA DO DOUTOR

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A BELA sarah gadon

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DE DALTON TREVISAN AS PALAVRAS

“Perdido de casa, sem dinheiro para o táxi, fugitivo do último inferninho…”

“…no fundo azedo das entranhas, floresce o lírio vermelho da azia…”

“Na adoração das nascidas rainhas da noite aberto o saco de presentes e distribuídos seus tesouros. Os três magos num só, em busca da estrela do Oriente, a quem ofertou o reloginho de pulso? Todo o ouro para a gorda do Tiki Bar? A mirra para a que era o palácio dos prazeres? O incenso para a Ritinha dos quatro mosqueteiros?”

“Na boca os mil beijos da paixão, sabendo uns a amendoim torrado, outros a batatinha frita…”

“o  lírico e maldito rei da noite, maior tarado da cidade, último vampiro de Curitiba… À procura do sapato perdido na famosa viagem ao fim da noite… Enfia o roupão de seda azul com bolinha branca—lembrança da lua-de-mel… No mapa da babugem a rosa-dos-ventos indica os sete inferninhos da paixão… araponga louca do meio-dia…Tateia o pulso e, ó surpresa, ali está—um relógio à procura de uma bailarina?… Um noivo toucando-se para as núpcias com o sol…”

“…a fabulosa égua do carro do Faraó (…) e se for gaguinha? Ou fanhosa? (…)Amor tão furioso, carro de bombeiro com a sirena uivando, a pobre Laura não podia ignorá-lo—a simples bolinha de papel que ela pisava era escorpião abrasado de fogo.

(…) No álbum de retratos antigos o calvário de sua perdição—normalista seduzida pelo próprio tio (…) Entre beijos soluçando que a crucificava de pequenas delícias, ó gostosão de todos o mais fogoso. Menos doida de paixão estivesse, não falaria assim, obrigado a recordar-se de quantos tipos a desfrutaram.

(…) Caçula mimado, o rapaz quase nos 30 anos, não trabalhava e sua mesada mal dava para o cigarro, o jornal, o cinema…”

Era a mulher da minha vida. Por que é que eu não sabia? Como é que ninguém me contou? (…) Não tivesse ela casado com o garçom eu a esquecia. Hoje estava com outra. Agora fiquei preso a ela para sempre.”

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QUEM O LÊ

Não é uma questão de quantos o leem, mas de quem o lê. Há certos romancistas que nos fazem pensar naquela velha história sobre o Velvet Underground: quase ninguém os viu tocar ao vivo, mas todos os que viram formaram uma banda. Nos anos 30 e 40, Fitzgerald vivia na obscuridade crítica, mas assombrava as margens, aparecendo depois como um fantasma ‘samizdat’ nas obras daqueles que importavam, do ‘Doctor Sax’ de Kerouac ao ‘Apanhador no campo de centeio’ e a ‘O longo adeus’ de Raymond Chandler. O que mantém vivo um livro é os livros do futuro falarem dele…”

- Tom Valderbilt

COSPLAY code geass

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TRECHO o amante

Marguerite Duras

Certo dia, já na minha velhice, um homem se aproximou de mim no saguão de um lugar público. Apresentou-se e disse: "Eu a conheço há muito, muito tempo. Todos dizem que era bela quando jovem, vim dizer-lhe que para mim é mais bela hoje do que em sua juventude, que eu gostava menos de seu rosto de moça do que desse de hoje, devastado".
Penso frequentemente nessa imagem que só eu ainda vejo e sobre a qual jamais falei a alguém. Está sempre lá no mesmo silêncio, maravilhosa. É entre todas a que me faz gostar de mim, na qual me reconheço, a que me encanta.
Muito cedo na minha vida ficou tarde demais. Quando eu tinha dezoito anos já era tarde demais. Entre dezoito e vinte e cinco meu rosto tomou uma direção imprevista. Aos dezoito anos envelheci. Não sei se é assim com todos, nunca perguntei. Creio que alguém já me falou dessa investida do tempo que nos acomete às vezes na primeira juventude, nos anos mais festejados da vida. Esse envelhecimento foi brutal.
Eu o vi apossar-se dos meus traços um a um, alterar a relação que havia entre eles, aumentando o tamanho dos olhos, fazendo mais triste o olhar, mais definida a boca, marcando a testa com rugas profundas. Não tive medo e observei o envelhecimento do meu rosto com o interesse que teria dedicado a uma leitura. Sabia também que não estava enganada, que um dia ele ficaria mais lento, tomando seu curso normal. As pessoas que me haviam conhecido à época de minha viagem à França, quando eu tinha dezessete anos, ficaram impressionadas quando me reviram dois anos mais tarde, com dezenove. Aquele rosto, novo, eu o conservei. Foi o meu rosto. Envelheceu também, é claro, mas relativamente menos do que devia. Tenho um rosto lacerado por rugas secas e profundas, sulcos na pele. Não é um rosto desfeito, como acontece com pessoas de traços delicados, o contorno é o mesmo mas a matéria foi destruída. Tenho um rosto destruído.
Deixe-me contar de novo, tenho quinze anos e meio. Uma balsa cruza o Mekong.
A imagem permanece durante toda a travessia do rio.
Tenho quinze anos e meio, não há estações naquele país, vivemos numa única estação, quente, monótona, estamos na longa zona tórrida da Terra, sem primavera, sem renovação.
Estou num pensionato do Estado, em Saigon. Como e durmo nesse pensionato mas estudo fora, no liceu francês. Minha mãe, professora primária, quer que sua filhinha complete o curso secundário. Para você, o que convém é o secundário. O que era suficiente para ela já não basta para a menina. O secundário e depois uma licenciatura em matemática. Ouço essa lengalenga desde meus primeiros anos de escola. Nunca pensei que poderia escapar a essa licenciatura, alegrava-me alimentar-lhe as esperanças. Sempre vi minha mãe construir a cada dia seu próprio futuro e o dos filhos. E quando teve de desistir dos planos grandiosos para os filhos começou a fazer outros, a imaginar futuros menos ambiciosos, mas, dessa forma, eles também cumpriam sua função, faziam parar o tempo à sua frente.
Lembro-me dos cursos de contabilidade para meu irmãozinho. Da Escola Universal, todas as séries, em todos os níveis. É preciso recuperar o tempo, dizia minha mãe. Isso durava três dias, jamais quatro, jamais. Abandonávamos a Escola Universal quando mudávamos de posto. Recomeçávamos tudo então. Minha mãe lecionou durante dez anos. Nada deu certo. Meu irmão mais moço tornou-se um modesto contador em Saigon. Não havendo Escola Violet na colônia, a esse fato devemos a ida de meu irmão mais velho para a França. Ficou alguns anos na França para cursar a Escola Violet. Não o fez. Não que minha mãe se enganasse facilmente. Mas não tinha escolha, precisava separar esse filho das duas outras crianças. Durante alguns anos ele deixou de ser parte da família. Foi durante sua ausência que minha mãe comprou a concessão. Terrível aventura, mas para nós, os filhos que restavam, menos terrível do que teria sido a presença do assassino dos filhos da noite, da noite do caçador.
Muitas vezes me disseram que foi o sol muito intenso durante toda a nossa infância. Mas não acreditei. Disseram-me também que foi a reflexão na qual a miséria mergulhava as crianças. Mas não, não foi isso. As crianças-velhas da fome endêmica, sim, mas nós não, não passávamos fome, éramos crianças brancas, tínhamos vergonha, vendíamos nossos móveis, mas não passávamos fome, tínhamos um empregado e comíamos, às vezes, é verdade, porcarias, galinholas, filhotes de caimão, mas essas porcarias eram preparadas por um empregado, servidas por ele e às vezes recusadas por nós, podíamos dar-nos ao luxo de não querer comer. Não, aconteceu alguma coisa quando fiz dezoito anos que moldou este rosto que tenho agora. Devia acontecer durante a noite. Eu tinha medo de mim, tinha medo de Deus. Quando chegava o dia, o medo era menor e a morte parecia menos grave. Mas não me abandonava. Eu queria matar meu irmão mais velho, queria matá-lo, derrotá-lo uma vez, uma única vez, e vê-lo morrer. Para afastar dos olhos de minha mãe o objeto do seu amor, aquele filho, para puni-la por amar com tanto ardor, tão mal, e sobretudo para salvar meu irmãozinho, eu pensava, meu irmãozinho, meu menino, da opressão da vida desse irmão mais velho que pesava sobre a sua, desse véu negro encobrindo o dia, da lei que ele representava, promulgada por ele, um ser humano, e que era uma lei animal, e que a cada instante de cada dia lançava a sombra do medo sobre a vida de meu irmão mais moço, um medo que atingiu afinal seu coração e provocou sua morte.
Escrevi muito sobre essas pessoas da minha família, mas enquanto o fazia eles ainda estavam vivos, a mãe e os irmãos, e escrevi em torno deles, em torno dessas coisas sem chegar até elas.
A história da minha vida não existe. Ela não existe. Jamais tem um centro. Nem caminho, nem trilha. Há vastos espaços onde se diria haver alguém, mas não é verdade, não havia ninguém. A história de uma pequena parte da minha juventude, já a escrevi mais ou menos, quero dizer, já contei alguma coisa sobre ela, falo aqui daquela mesma parte, a parte da travessia do rio. O que faço agora é diferente, e parecido. Antes, falei dos períodos claros, dos que estavam esclarecidos. Aqui falo dos períodos secretos dessa mesma juventude, das coisas que ocultei sobre certos fatos, certos sentimentos, certos acontecimentos. Comecei a escrever num ambiente que me obrigava ao pudor.
Escrever, para eles, era ainda moral. Hoje, muitas vezes escrever pode parecer não significar nada. Por vezes sei disto: a partir do momento em que não for, confundidas todas as coisas, ir ao sabor da vaidade e do vento, escrever é nada. A partir do momento em que não for, sempre, todas as coisas confundidas numa única por essência inqualificável, escrever é nada mais que publicidade. Mas na maioria das vezes não tenho opinião sobre isso, vejo que todos os campos estão abertos, que não haverá mais muros, que a palavra escrita não saberá mais onde se esconder, se fazer, ser lida, que sua inconveniência fundamental não será mais respeitada, mas nem penso mais nisso.
Vejo agora que muito jovem ainda, com dezoito anos, com quinze anos, eu tinha este rosto, premonitório daquele que adquiri em seguida com o álcool na meia-idade da minha vida. O álcool desempenhou a função que Deus não exerceu, também a função de me matar, de matar. Este rosto de álcool, eu o adquiri antes do álcool. O álcool apenas o confirmou. Tinha em mim esse lugar reservado, eu o percebi como todos os outros, mas, curiosamente, antes da hora. Assim como tinha em mim o lugar para o desejo. Aos quinze anos tinha o rosto do prazer e não conhecia o prazer. Os traços do prazer eram muito acentuados. Até minha mãe devia vê-los. Meus irmãos os viam. Tudo começou assim em minha vida, com esse rosto visionário, extenuado, as olheiras antecipando-se ao tempo, à experiência.

domingo, 27 de maio de 2012

CLIPE The Screen Team - Game of Thrones!

a mesma

"Não pense que a pessoa tem tanta força assim a ponto de levar qualquer espécie de vida e continuar a mesma. Até cortar os defeitos pode ser perigoso - nunca se sabe qual o defeito que sustenta nosso edifício inteiro... Do momento em que me resignei, perdi toda a vivacidade e todo interesse pelas coisas. Você já viu como um touro castrado se transforma em boi. Ouça: respeite mesmo o que é ruim em você - respeite sobretudo o que imagina que é ruim em você - não copie uma pessoa ideal, copie você mesma - é esse seu único meio de viver. Juro por Deus que, se houvesse um céu, uma pessoa que se sacrificou por covardia ia ser punida e iria para um inferno qualquer. Se é que uma vida morna não é ser punida por essa mesma mornidão."

Clarice Lispector

CAPA homem animal #26

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na pele

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A BELA nao nagasawa

Nao Nagasawa

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sábado, 26 de maio de 2012

TRAILER 愛と誠 Ai to Makoto

Parte história de amor, parte filme de gangsters, parte musical e mais um filme muito louco de Takashi Miike.

A ESTRADA

“De vez em quando, em jornais, revistas e enciclopédias biográficas, leio esboços da minha vida nos quais, em frases polidas, dizem que foi para estudar sociologia que me tornei um vagabundo. É algo muito gentil e perspicaz da parte dos biógrafos, mas impreciso. Tornei-me um vadio por causa da vontade de viver dentro de mim, do desejo de aventura que corria em meu sangue e não me deixava descansar. A sociologia foi algo meramente acidental; veio depois , da mesma maneira que nos molhamos depois de um mergulho na água. Peguei a Estrada porque não conseguia ficar longe dela; porque não tinha um tostão no bolso para pagar por uma passagem de trem; porque não queria fazer a mesma cosia a vida inteira; porque… ora, apenas porque era mais fácil do que não me aventurar.”

- Jack London/ A Estrada

AKB48 真夏の Sounds good!

Bogart lendo gibi

Bogart read comics!

trecho DRÁCULA

Arthur desceu com ele, não antes de lançar um terno e saudoso olhar sobre o rosto de Lucy, agora recostada sobre seu macio travesseiro, que parecia mais aconchegante que o mais tenro e saudoso relvado. Ela mantinha-se absolutamente tranquila, e eu logo tratei de ver se tudo ao meu redor permanecia em seu devido lugar. Então notei que também neste novo quarto, o Professor fazia questão de prosseguir no profuso emprego das flores de alho. O caixilho da janela estava literalmente impregnado com seu odor e, em torno do pescoço de Lucy, sobre o lenço de seda que Van Helsing lhe amarrara na garganta, destacava-se um rústico apanhado das mesmas flores odoríferas. A respiração de Lucy agora ressoava um tanto estertoradamente, e sua face oferecia um aspecto realmente impressionante, pois, por entre seus lábios, duas arcadas de gengivas descoradas ficavam quase totalmente à mostra. Sob a bruxuleante claridade do ambiente, seus frágeis dentes pareciam ainda mais longos do que me pareceram pela manhã. E particularmente talvez devido a alguma caprichosa refração da luz, seus caninos atraíram ainda mais minha atenção, dado o seu tamanho algo desproporcional em relação aos outros dentes. Sentei-me a seu lado e logo percebi que ela se agitava de maneira estranha. Neste exato momento ouvi um ruído intermitente, que me pareceu um súbito adejar ou bater de asas pesadas de encontro à vidraça da janela. Levantei-me cautelosamente e, pé ante pé, fui me ocultar num dos lados da veneziana. Fazia então um luar esplendoroso e eu pude verificar então que aquele reiterado farfalhar de asas era produzido por um gigantesco morcego, que voava em círculos a frente da janela (…).

Bram Stoker/ Drácula

o monstro do pântano

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SOBRE A TOALHA

A toalha é um dos objetos mais úteis para um mochileiro interestelar. Em parte devido a seu valor prático: você pode usar a toalha como agasalho quando atravessar as frias luas de Beta de Jagla; pode deitar-se sobre ela nas reluzentes praias de areia marmórea de Santragino V, respirando os inebriantes vapores marítimos; você pode dormir debaixo dela sob as estrelas que brilham avermelhadas no mundo desértico de Kakrafoon;
Pode usá-la como vela para descer numa minijangada as águas lentas do rio Moth;
Pode umedecê-la e utilizá-la para lutar em combate corpo a corpo; enrolá-la em torno da cabeça para proteger-se de emanações tóxicas ou para evitar o olhar da Terrível Besta Voraz de Traal (um animal estonteantemente burro, que acha que, se você não pode vê-lo, ele também não pode ver você – estúpido feito uma anta, mas muito, muito voraz);
Você pode agitar a toalha em situações de emergência para pedir socorro;
E naturalmente pode usá-la para enxugar-se com ela se ainda estiver razoavelmente limpa.
Porém o mais importante é o imenso valor psicológico da toalha. Por algum motivo, quando um estrito (isto é, um não-mochileiro) descobre que um mochileiro tem uma toalha, ele automaticamente conclui que ele tem também escova de dentes, esponja, sabonete, lata de biscoitos, garrafinha de aguardente, bússola, mapa, barbante, repelente, capa de chuva, traje espacial, etc., etc.
Além disso, o estrito terá prazer em emprestar ao mochileiro qualquer um desses objetos, ou muitos outros, que o mochileiro por acaso tenha “acidentalmente perdido”. O que o estrito vai pensar é que, se um sujeito é capaz de rodar por toda a Galáxia, acampar, pedir carona, lutar contra terríveis obstáculos, dar a volta por cima e ainda assim saber onde está sua toalha, esse sujeito claramente merece respeito.

- Douglas Adams/ O guia do mochileiro das galáxias

A BELA michele willians

Michele Williams

FRAMES o massacre da serra elétrica

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POSTER orca a baleia assassina

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DIFFERENT SELF

“HAVE YOU EVER HAD THAT FEELING—THAT YOU’D LIKE TO GO TO A WHOLE DIFFERENT PLACE AND BECOME A WHOLE DIFFERENT SELF?”

— Haruki Murakami

FRAME Kekko Kamen Reborn

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nas botas

“A primeira coisa que aprendemos na guerra é mijar nas próprias botas.“

- Sven Hassel

laço vermelho e cabelos claros

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an illumination

All that he had now was an idea - and it was like a belief in magic - that one day something would happen, an illumination would come to him, and he would be taken by a set of events to the place he should go. What he had to do was to hold himself in readiness, to recognise the moment.

- V.S. Naipul, Half a Life

TRAILER Elementary

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TRECHO meu nome é legião

António Lobo Antunes

“Os suspeitos em número de 8 (oito) e idades compreendidas entre os 12 (doze) e os 19 (dezanove) anos abandonaram o Bairro 1º de Maio situado na região noroeste da capital e infelizmente conhecido pela sua degradação física e inerentes problemas sociais às 22h00 (vinte e duas horas e zero minuto) na direcção da Amadora onde julga-se que por volta das 22h30 (vinte e duas horas e trinta minutos) hipótese sujeita a confirmação após interrogatório quer dos
suspeitos quer de eventuais testemunhas até ao momento não localizadas furtaram pelo método denominado da chave-mestra
(sujeito a confirmação também e que adiantamos como provável derivado ao conhecimento do modus operandi do grupo)
2 (duas) viaturas particulares de média potência estacionadas nas imediações da igreja a curta distância uma da outra e no lado da rua em que os candeeiros fundidos
(vandalismo ou situação natural?)
permitiam actuar com maior discrição após o que se dirigiram para a saída de Lisboa no sentido da auto-estrada do norte utilizando a via rápida que por não se acharem as ditas viaturas munidas do dispositivo magnético necessário à sua utilização registou as matrículas conforme fotocópia anexa aliás não muito nítida e previne-se respeitosamente o comando para a urgência de melhoramentos no equipamento caduco: fotocópia número 1 (um) embora perceptível é verdade com uma lupa decente.
Temos motivos para adiantar com base em actuações pretéritas essas sim já aferidas que os suspeitos se distribuíram nos veículos de acordo com a ordem habitual ou seja o chamado Capitão de 16 (dezasseis) anos mestiço, o chamado Miúdo de 12 (doze) anos mestiço, o chamado Ruço de 19 (dezanove) anos branco e o chamado Galã de 14 (catorze) anos mestiço na dianteira e os restantes quatro, o chamado Guerrilheiro de 17 (dezassete) anos mestiço, o chamado Cão de 15 (quinze) anos mestiço, o chamado Gordo de 18 (dezoito) anos preto e o chamado Hiena de 13 (treze anos mestiço assim apelidado em consequência de uma malformação no rosto (lábio leporino) e de uma fealdade manifesta que
ousamos sem receio embora avessos a julgamentos subjectivos classificar de repelente
(vacilámos entre repelente e hedionda)
a que se juntava uma clara dificuldade na articulação vocabular muitas vezes substituída por descoordenação motora e guinchos logo atrás, salientando-se a importância do chamado Ruço ser o único caucasiano
(raça branca em linguagem técnica)
e todos os companheiros semi-africanos e num dos casos negro e portanto mais propensos à crueldade e violência gratuitas o que conduz o signatário a tomar a liberdade de questionar-se preocupado à margem do presente relatório sobre a justeza da política de imigração nacional. Cerca das 23h00 (vinte e três horas e zero minutos) as duas viaturas alcançaram a primeira estação de serviço do trajecto Lisboa-Porto a cerca de 30 (trinta) quilómetros das portagens tendo parado com os motores a trabalharem
(existia apenas uma furgoneta numa das bombas)
diante do estabelecimento envidraçado no qual se efectua a liquidação do montante de gasolina adquirida e onde se pode malbaratar dinheiro em revistas jornais tabaco
(espero bem que não álcool)
pastilhas elásticas e ninharias. No citado estabelecimento encontrava-se o empregado a conversar sentado à caixa registadora com o condutor da furgoneta e outro empregado mais idoso a varrer o soalho adjacente a uma porta de escritório ou compartimento de arrumos
(deseja-se que não destinado à venda clandestina de bebidas espirituosas)
com a placa Interdita A Entrada mal aparafusada à madeira. Os suspeitos apetrecharam-se de gorros de lã e óculos escuros e ingressaram sem pressa no local
(de acordo com o depoimento do empregado da caixa um
deles e ignora a especificação do indivíduo assobiava) transportando espingardas de canos serrados e pistolas do
Exército e concedo-me uma breve digressão no meu entender não inteiramente despicienda para sublinhar no caso de me autorizarem uma nota íntima que as estações de serviço à noite iluminadas na beira do caminho me fazem sentir menos desditoso e só quando regresso de Ermesinde aos domingos de madrugada da visita mensal à minha filha, o mundo com as suas árvores confusas e as suas povoações logo perdidas cujo nome desconheço me surge demasiado grande para conseguir entendê-lo e as bombas de gasolina próximas, nítidas, ia escrever cúmplices mas retive-me a tempo me
garantem que apesar de tudo possuo um lugar ainda que ínfimo no concerto do universo, alguém talvez me espere tomara descobrir em que sítio com a chávena de um sorriso numa toalha amiga e eu comovido senhores, eu grato, peço perdão de inserir num documento oficial e em papel do Estado este desabafo importuno e este desejo absurdo de companhia: rodar a fechadura e escutar na despensa, na sala, não ouso sugerir que no quarto uma voz que pronuncia o
meu nome
- És tu?
em vez do silêncio do costume e da indiferença das coisas de modo que as estações de serviço à noite, escrevia eu, se avizinham da noção de felicidade que há tanto tempo procuro. Adiante. Prosseguindo o presente relatório de que sem desculpa
(estou cônscio do erro e penitencio-me dele)
me desviei os suspeitos transportando espingardas de canos serrados e pistolas do Exército ingressaram sem pressa
(um deles, e a dúvida de qual deles, assobiava)
no local sem que o empregado da caixa ou o condutor da furgoneta lhes dessem atenção ocupados a comentarem a notícia
de um periódico desportivo e foi o empregado que varria o soalho adjacente ao escritório ou compartimento de arrumos
(o qual não continha, acrescento com alegria, bebidas espirituosas embora não ponha de parte, que vigaristas não faltam, a hipótese de as haverem ocultado antes da minha visita)
quem se apercebeu do assalto erguendo a vassoura e prevenindo o sócio
- Olha estes miúdos pretos César
sem oportunidade para mais considerações dado que uma das espingardas de canos serrados disparou 5 (cinco) projécteis consecutivos não se lhe notando sangue na roupa, o sangue na parede atrás dele depois de cair em estremeções sucessivos isto é poisando as nádegas no chão a olhar os suspeitos ou não olhando ninguém conforme o meu padrasto levantava a cabeça cega das palavras cruzadas a remoer sinónimos e a baixava de novo preenchendo os quadradinhos em maiúsculas triunfais, a mão direita
(do empregado não do meu padrasto)
alongou-se, o médio, que durou mais que os outros dedos encolheu um tudo nada
(estou a vê-lo daqui)
e pondero se o vento tocava os arbustos lá fora ou os deixava em paz: durante séculos em criança pensei que as árvores sofriam, os teixos por exemplo uma mágoa quieta, eu às pancadinhas nos
troncos
- O que se passa com vocês?
e nenhuma resposta, dores secretas como em geral os ramos, fingem continuar, disfarçam-nas e no entanto quando pensam que os não vemos fabricam um lagarto numa ranhura da casca que é a sua forma de segregarem lágrimas, o condutor da furgoneta julgou recuar um passo e proteger-se com uma pilha de revistas sem recuar passo algum, uma coronha de pistola apanhou-lhe o ombro e a metade esquerda dos ossos que uma sobrancelha a tremer amparava,
desajustou-se da direita o meu padrasto esse aguentava a cólica renal com o auxílio não da sobrancelha, da palma empurrando-a para o interior da cintura
- Não me atormentes agora
e tenho a certeza que os arbustos da estação de serviço a sacudirem flores miúdas sem nome, tantas folhas a vibrarem desejando que as socorrêssemos
- Eu eu
um dos suspeitos deu a volta ao balcão e entornou a gaveta da caixa num saco, um automóvel desceu para as bombas de
gasolina porque buxos novos surgiram do escuro, uma claridade geométrica fixou-se no tecto, aumentou e o que eu não pagava para observar os buxos, o condutor da furgoneta indiferente a eles mancou um passo na direcção dos faróis com a sobrancelha a puxá-lo e a metade que não pertencia à sobrancelha um peso mole a resistir, o cano da pistola um fuminho, ninguém se apercebeu do ruído
(ter-me-ia apercebido do ruído se estivesse com eles?)
o condutor da furgoneta de joelhos contra a vontade da sobrancelha indignada com a desobediência
- O que é isto?
e isto é um peito que tomba, não uma pessoa, um sapato a dilatar-se, a argola das chaves que se desprendeu da algibeira e a argola que esquisito um ruído imenso, lento, o empregado da caixa sem entender o sapato enorme e as chaves, um nariz que escorregou para a boca
(engole-o não o engole?)
os
(não engole)
suspeitos em número de 8 (oito) e idades compreendidas entre os 12 (doze) e os 19 (dezanove) anos abandonaram a estação de serviço às 23h10 (vinte e três horas e dez minutos), continuaram para Santarém e os arbustos serenos, a certeza que num ponto do escuro, talvez na minha cabeça
(creio que na minha cabeça)
uma janela a bater, o meu padrasto para a minha mãe do interior das palavras cruzadas
- A janela
(de tempos a tempos quando menos espero um incómodo
de gonzos, a voz dele
- A janela
eu a espreitar em torno, nem uma corrente de ar para amostra e no entanto a certeza de um estranho respirando-me no pescoço comigo a perguntar
- Qual janela?)
as viaturas furtadas cortaram à direita 12 (doze) quilómetros acima e o dispositivo magnético esquecido da sua obrigação
(- Qual janela?)
não assinalou as matrículas, pinheiros bravos, carvalhos
(não sou forte em Botânica e estava aqui a pensar se arrisco castanheiros ou não, não arrisco, como descrever um castanheiro em condições?)
vivendas de emigrantes algumas por completar
(quase todas por completar, basta de imprecisões rapaz, gosto de me tratar por rapaz aos sessenta e três anos, dá-me a ilusão que a morte, deixemos o assunto, siga a banda)
um cozinheiro de cerâmica de tamanho natural com a ementa em riste a anunciar uma churrascaria ou seja uma esplanada
de cadeiras empilhadas e guarda-sóis recolhidos, a sedazinha turva de um gato a escorrer almofadado de um tapume, um rádio numa varanda aberta que os suspeitos não escutaram, depois do chafariz uma travessa, duas travessas, a nossa casa que podia ser acolá e não era, a minha mãe para o meu padrasto
- Fazias melhor se largasses o jornal e vedasses a janela
insistem que me pareço com a minha mãe e argumento que não, comparando com o retrato
(não me lembro em pormenor das feições)
talvez as orelhas e o contorno do queixo, a expressão nem sonhar, de acordo com a minha mãe de resto eu o meu pai por uma pena
- Já não me bastou um tenho que aturar outro
quando o meu pai um pacífico coitado, depois da reforma cantava no orfeão da paróquia e via a chuva cair, tardes e tardes no sofá murmurando não imagino o quê
(a minha mãe imaginava
- Lá estás tu)
a ver a chuva cair, uma travessa, duas travessas, no fim da segunda travessa um largo e no largo uma loja de telemóveis, o meu pai trabalhou na Polícia também não como agente de investigação claro, faltavam-lhe miolos, nos Serviços Gerais, copiava minutas, carimbava, contava as moscas no estore, o chefe do fundo
- A pensar na morte da bezerra Gusmão?
quatro dos suspeitos, 23h48 (vinte e três horas e quarenta e oito minutos) saíram dos bancos da retaguarda das viaturas furtadas e quebraram a montra sem se preocuparem com o alarme que principiou aos uivos, não uma campainha, uma espécie de sereia a sacudir o sistema solar a mãos ambas, onde moro as ambulâncias descolam-me o lustre com os seus berros de esfaqueadas e os pingentes arrepiam-se trocando de posição enquanto os vizinhos
- Que susto
os suspeitos encheram as bagageiras de caixotes cabos instrumentos acessórios e decorridos onze minutos precisamente, às 23h59 (vinte e três horas e cinquenta e nove minutos) seguiram em sentido inverso de regresso a Lisboa, a segunda travessa, a primeira travessa, o chafariz com uma torneira de latão que mesmo fechada
continuava a pingar, a música do rádio que não escutavam enquanto a sereia transmitia as suas ânsias num deserto de sombras, os pinheiros bravos, os carvalhos, a via rápida que desta vez
(há coisas que funcionam valha-nos isso num país em decadência)
fotografou as matrículas conforme consta do respectivo documento apenso
(no caso de não ter caído ao chão)
que se o meu pai continuasse vivo e escriturário
(não tenho vergonha do meu pai não se acredite nisso)
lhe passaria pela mesa para o visto de entrada
(não se demorava a lê-lo pois não senhor?)
terminando no colega que os despejava num cesto em que não se mexia, mais maçadas para quê o que não falta são crimes
(- Desculpe se a contrario mãe mas o que herdei do meu pai?)
hesitaram na estação de serviço na volta entramos não entramos, principiaram a travar, guinaram para um cachorro vadio sem conseguir atingi-lo, desistiram da estação de serviço e do bicho que aliás desapareceu numa madeixa de moitas, preferiram um casal num carro, o homem ao volante todo pinoca e a mulher a pentear-se inclinada para a frente no espelho da pala, colocaram o carro do casal entre as viaturas furtadas
(não tenho vergonha do meu pai?)
e foram abrandando tocando-lhe de leve, a mulher deixou de pentear-se e diminuiu no banco, o pinoca tentou obliquar para a outra faixa e uma batida no ângulo do pára-choques impediu-o de maneira que o carro e o casal imobilizados aos poucos, 00h14 (zero horas e catorze minutos) de acordo com o depoimento da mulher sujeito ao erro do medo, na minha opinião eu que refiz o percurso 00h30 (zero horas e trinta minutos) no mínimo e um espaço à direita
para os postes de chamada de quando os radiadores avariam, experimentei-o e uma mudez comprida
(afinal nem uma só coisa trabalha num país em decadência)
eu para ali feito parvo de aparelho no ar e o meu ajudante pelo vidro descido
- Largue isso
cheio de opiniões o presunçoso, faça assim não faça assim, mais alto que eu, com dois terços da minha idade e o cabelinho abundante, decidido a tomar-me o lugar e há-de tomar-me o lugar é uma questão de meses porque neste Purgatório injusto são os que sabem agradar aos patrões não os que trabalham quem ganha
(tenho sentido isso na carne, não me promovem há anos, a mesma função, o mesmo ordenado e agradece)
e ao tomar-me o lugar não me atreverei a palpites pelo vidro descido
- Largue isso
fico à espera obediente, composto, tem razão senhora, eis o meu pai chapadinho, dêem-me um carimbo e eu feliz, humedeço-o na almofada e o escudo da República brilhante de tinta no ângulo superior direito das páginas, o carro do casal adornado na berma com as viaturas furtadas encostando-se a ele, não árvores desta feita e por conseguinte não hipótese de castanheiros que não me atreveria a descrever, pinheiros e carvalhos vá lá, castanheiros
não, tenho consciência dos meus limites, não árvores, um carril de protecção a impedir um valado com um ribeiro em baixo, visto que lodo a saltar entre caniços e na primavera seixos transformados em rãs que ganham pernas, se arqueiam, diz-se que comem mosquitos, os suspeitos fora das viaturas sem gorros nem óculos, um branco,
um preto e seis mestiços
(creio ter mencionado isto tudo)
de idades compreendidas
(curiosa expressão, quem compreende as idades?)
entre os 12 (doze) e os 19 (dezanove) anos, o mais velho o branco a que chamam Ruço e não mandava um cisco, o pinoca a travar as portas, a mulher esquecida do cabelo
- Jesus
não se estava na primavera e portanto não rãs, seixos que não ligavam aos mosquitos e ervinhas com ambições de juncos não realizadas por enquanto, os suspeitos utilizaram as chaves-mestras nas portas, um camião passou por eles com um atrelado de vitelos de que se distinguiam reflexos de pêlo, mandíbulas, baba, um dos pneus solto ia dançando no eixo e o sujeito na cabine com uma ferradura no tejadilho a dar sorte, nunca acreditei em amuletos, ferraduras figas trevos de quatro folhas de esmalte, ou se nasce de cu para a lua ou não se nasce, não nasci e acabou-se não vou chorar por isso embora haja ocasiões em que uma lágrima não me caísse mal, impeço-a de chegar ao olho empurrando-a com o polegar e que remédio tem ela senão voltar para dentro e desistir, adeus lágrima, a porta do pinoca e a porta da mulher escancaradas, o pinoca"

sexta-feira, 25 de maio de 2012

don’t

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E VIVA DOUGLAS ADAMS!

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E VIVA O DIA DA TOALHA!

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Também conhecido como O DIA DO ORGULHO NERD!

TRECHO o guia do mochileiro das galáxias

Douglas Adams

Também não se falou mais no fato de que, contra todas as probabilidades, uma cachalote havia de repente se materializado muitos quilômetros acima da superfície de um planeta estranho.
E como não é este o ambiente natural das baleias em geral, a pobre e inocente criatura teve pouco tempo para se dar conta de sua identidade “enquanto” cachalote, pois logo em seguida teve de se dar conta de sua identidade “enquanto” cachalote morto.
Segue-se um registro completo de toda a vida mental dessa criatura, do momento em que ela passou a existir até o momento em que ela deixou de existir.
- Ah…! o que está acontecendo?, pensou o cachalote.
- Ah, desculpe, mas quem sou eu?
-Ei!
- Por que estou aqui? Qual minha razão de ser?

- O que significa perguntar quem sou eu?

Calma, calma, vamos ver…ah! Que sensação interessante, o que é? É como… bocejar, uma cócega na minha.. minha…bem, é melhor começar a dar nome as coisa para eu poder fazer algum progresso nisto que, para fins daquilo que vou chamar de discussão, vou chamar de mundo. Então vamos dizer que esta seja a minha barriga

Bom. Ah, está ficando muito forte. E que barulhão é esse  passando por aquilo que resolvi chamar de minha cabeça? Talvez um bom nome seja… vento! Será mesmo um bom nome? Que seja… talvez eu ache um nome melhor depois, quando eu descobrir para que ele serve. Deve ser uma coisa muito importante, porque tem muito disso no mundo. Epa! Que diabo é isso? É… vamos chamar essa coisa de rabo. Isso, rabo. Epa, eu posso mexê-lo bastante! Oba! Oba! Que barato! Não parece servir para muita coisa, mas um dia eu descubro pra que ele serve. Bem, será que eu já tenho uma visão coerente das coisas?

Não.

Não faz mal. Isso é tão interessante, tanta coisa pra descobrir, tanta coisa boa por vir, estou tonto de expectativa…

Ou será o vento?

Puxa, realmente tem vento demais aqui, não é?

E puxa! Que é essa coisa se aproximando de mim tão depressa? Tão depressa. Tão grande e chata e redonda, tão… tão.. Merece um nome bem forte, um nome tão… tão… chão! É isso! Eis um bom nome: chão!

Será que eu vou fazer amizade com ele?

E o resto – após um baque súbito e úmido – é silêncio.

Curiosamente, a única que passou pela mente do vaso de petúnias ao cair foi: Ah, não, outra vez!  Muitas pessoas meditaram sobre esse fato e concluíram que, se soubéssemos exatamente por que o vaso de petúnias pensou isso, saberíamos muito mais a respeito da natureza do Universo que sabemos atualmente.

Também não se falou mais no fato de que, contra todas as probabilidades, uma cachalote havia de repente se materializado muitos quilômetros acima da superfície de um planeta estranho.
E como não é este o ambiente natural das baleias em geral, a pobre e inocente criatura teve pouco tempo para se dar conta de sua identidade “enquanto” cachalote, pois logo em seguida teve de se dar conta de sua identidade “enquanto” cachalote morto.
Segue-se um registro completo de toda a vida mental dessa criatura, do momento em que ela passou a existir até o momento em que ela deixou de existir.
- Ah…! o que está acontecendo?, pensou o cachalote.
- Ah, desculpe, mas quem sou eu?
-Ei!
- Por que estou aqui? Qual minha razão de ser?

- O que significa perguntar quem sou eu?

Calma, calma, vamos ver…ah! Que sensação interessante, o que é? É como… bocejar, uma cócega na minha.. minha…bem, é melhor começar a dar nome as coisa para eu poder fazer algum progresso nisto que, para fins daquilo que vou chamar de discussão, vou chamar de mundo. Então vamos dizer que esta seja a minha barriga

Bom. Ah, está ficando muito forte. E que barulhão é esse  passando por aquilo que resolvi chamar de minha cabeça? Talvez um bom nome seja… vento! Será mesmo um bom nome? Que seja… talvez eu ache um nome melhor depois, quando eu descobrir para que ele serve. Deve ser uma coisa muito importante, porque tem muito disso no mundo. Epa! Que diabo é isso? É… vamos chamar essa coisa de rabo. Isso, rabo. Epa, eu posso mexê-lo bastante! Oba! Oba! Que barato! Não parece servir para muita coisa, mas um dia eu descubro pra que ele serve. Bem, será que eu já tenho uma visão coerente das coisas?

Não.

Não faz mal. Isso é tão interessante, tanta coisa pra descobrir, tanta coisa boa por vir, estou tonto de expectativa…

Ou será o vento?

Puxa, realmente tem vento demais aqui, não é?

E puxa! Que é essa coisa se aproximando de mim tão depressa? Tão depressa. Tão grande e chata e redonda, tão… tão.. Merece um nome bem forte, um nome tão… tão… chão! É isso! Eis um bom nome: chão!

Será que eu vou fazer amizade com ele?

E o resto – após um baque súbito e úmido – é silêncio.

Curiosamente, a única que passou pela mente do vaso de petúnias ao cair foi: Ah, não, outra vez!  Muitas pessoas meditaram sobre esse fato e concluíram que, se soubéssemos exatamente por que o vaso de petúnias pensou isso, saberíamos muito mais a respeito da natureza do Universo que sabemos atualmente.

o oriente é belo

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TRAILER Martha Marcy May Marlene

Uma entrevista com Stephen King por Neil Gaiman

King-SOAneil

O Sunday Times me pediu para escrever algo pequeno e pessoal sobre eu e o King. Eu escrevi isso:

“Eu acho que a coisa mais importante que aprendi com Stephen King, quando adolescente, foi lendo o livro de ensaios sobre horror e sobre escrever, A Dança Macabra. Ali ele ressalta que se você escrever apenas uma página por dia, só 300 palavras, no final do ano você tem um romance. Foi imensamente motivador – de repente, algo enorme e impossível se tornou estranhamente fácil. Já adulto, foi como eu escrevi livros que eu não tinha tempo para escrever, como o meu infantil Coraline .”

Ao encontrar Stephen King desta vez, a cosia que mais me surpreendeu foi o quão confortável ele é com o que faz. Toda aquela conversa de se aposentar da escrita, de parar, as sugestões de que talvez seja hora de parar antes que se torne repetitivo, parecia haver acabado. Ele gosta de escrever, gosta mais do que qualquer outra coisa que poderia estar fazendo, e não parece nem um pouco inclinado a parar. Exceto, talvez, com uma arma apontada.

A primeira vez que encontrei Stephen King foi em Boston, em 1992. Eu sentei na sua suíte de hotel, conheci sua esposa Tabitha, que é Tabby nas conversações, e seus então filhos adolescentes Joe e Owen, e falamos sobre escrever, e autores, sobre fãs e fama.

“Se eu começasse minha vida de novo,” ele disse. “Eu faria tudo igual. Mesmo as partes ruins. Mas eu não teria feito a promoção da American Express “Você Me Conhece?” Depois disso, todo mundo nos Estados Unidos sabia como eu era.”

… continua no stephenking.com.br

CAPA london falling

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CONTO Uma Vela para Dario

Dalton Trevisan

Dario vinha apressado, guarda-chuva no braço esquerdo e, assim que dobrou a esquina, diminuiu o passo até parar, encostando-se à parede de uma casa. Por ela escorregando, sentou-se na calçada, ainda úmida de chuva, e descansou na pedra o cachimbo.
Dois ou três passantes rodearam-no e indagaram se não se sentia bem. Dario abriu a boca, moveu os lábios, não se ouviu resposta. O senhor gordo, de branco, sugeriu que devia sofrer de ataque.
Ele reclinou-se mais um pouco, estendido agora na calçada, e o cachimbo tinha apagado. O rapaz de bigode pediu aos outros que se afastassem e o deixassem respirar. Abriu-lhe o paletó, o colarinho, a gravata e a cinta. Quando lhe retiraram os sapatos, Dario roncou feio e bolhas de espuma surgiram no canto da boca.
Cada pessoa que chegava erguia-se na ponta dos pés, embora não o pudesse ver. Os moradores da rua conversavam de uma porta à outra, as crianças foram despertadas e de pijama acudiram à janela. O senhor gordo repetia que Dario sentara-se na calçada, soprando ainda a fumaça do cachimbo e encostando o guarda-chuva na parede. Mas não se via guarda-chuva ou cachimbo ao seu lado.
A velhinha de cabeça grisalha gritou que ele estava morrendo. Um grupo o arrastou para o táxi da esquina. Já no carro a metade do corpo, protestou o motorista: quem pagaria a corrida? Concordaram chamar a ambulância. Dario conduzido de volta e recostado á parede - não tinha os sapatos nem o alfinete de pérola na gravata.
Alguém informou da farmácia na outra rua. Não carregaram Dario além da esquina; a farmácia no fim do quarteirão e, além do mais, muito pesado. Foi largado na porta de uma peixaria. Enxame de moscas lhe cobriu o rosto, sem que fizesse um gesto para espantá-las.
Ocupado o café próximo pelas pessoas que vieram apreciar o incidente e, agora, comendo e bebendo, gozavam as delicias da noite. Dario ficou torto como o deixaram, no degrau da peixaria, sem o relógio de pulso.
Um terceiro sugeriu que lhe examinassem os papéis, retirados - com vários objetos - de seus bolsos e alinhados sobre a camisa branca. Ficaram sabendo do nome, idade; sinal de nascença. O endereço na carteira era de outra cidade.
Registrou-se correria de mais de duzentos curiosos que, a essa hora, ocupavam toda a rua e as calçadas: era a polícia. O carro negro investiu a multidão. Várias pessoas tropeçaram no corpo de Dario, que foi pisoteado dezessete vezes.
O guarda aproximou-se do cadáver e não pôde identificá-lo — os bolsos vazios. Restava a aliança de ouro na mão esquerda, que ele próprio quando vivo - só podia destacar umedecida com sabonete. Ficou decidido que o caso era com o rabecão.
A última boca repetiu — Ele morreu, ele morreu. A gente começou a se dispersar. Dario levara duas horas para morrer, ninguém acreditou que estivesse no fim. Agora, aos que podiam vê-lo, tinha todo o ar de um defunto.
Um senhor piedoso despiu o paletó de Dario para lhe sustentar a cabeça. Cruzou as suas mãos no peito. Não pôde fechar os olhos nem a boca, onde a espuma tinha desaparecido. Apenas um homem morto e a multidão se espalhou, as mesas do café ficaram vazias. Na janela alguns moradores com almofadas para descansar os cotovelos.
Um menino de cor e descalço veio com uma vela, que acendeu ao lado do cadáver. Parecia morto há muitos anos, quase o retrato de um morto desbotado pela chuva.
Fecharam-se uma a uma as janelas e, três horas depois, lá estava Dario à espera do rabecão. A cabeça agora na pedra, sem o paletó, e o dedo sem a aliança. A vela tinha queimado até a metade e apagou-se às primeiras gotas da chuva, que voltava a cair.

Releituras.

quinta-feira, 24 de maio de 2012

【PV】GIVE ME FIVE ! / AKB48[公式]

POPEYE versus X-MEN

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SE

“Se as pessoas foram feitas para serem amadas e as coisas para serem usadas, então porque amamos as coisas e usamos as pessoas?”

Bob Marley

Sunset Boulevard

sunset

Norma Desmond: “You see, this is my life. It always will be! There’s nothing else,  just us, and the cameras, and those wonderful people out there in the dark. All right, Mr. De Mille, I’m ready for my close-up.”

A BELA mikie hara

Mikie Hara

CONTO o professor e a bruxa

Braulio Tavares

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Um capítulo crucial sobre a história da mente humana está cristalizado para sempre no trágico episódio que teve início no IX Colóquio de Ultra-Ciência em Estocolmo, quando o Prof. Georges Landsfeld fez uma palestra com um corrosivo ataque às ciências ocultas, em especial à bruxaria, que ele descartou sarcasticamente como “uma subcultura de fantasias eróticas para mulheres feias”.  Aberta a palavra ao público, ergueu-se uma dama da platéia que verberou energicamente o palestrante, qualificando-o de “machista”, “carente de bibliografia” e “impostor” (questionando a legitimidade do doutorado obtido por Landsfeld em Oxford). Pessoas presentes a reconheceram como uma tal Mme. Gauthier, de Paris, cultivadora das ciências ocultas e da magia ritual.  Seguiu-se um acalorado debate entre os dois, que logo degenerou em ofensas pessoais por parte do professor, sendo a conferência encerrada sob certo tumulto. Mme. Gauthier retirou-se (segundo testemunhas) dizendo que “aquilo não iria ficar assim”.

Meses depois, começaram a circular nos fóruns da web notícias de que Landsfeld estava sofrendo de uma rara doença neurológica, de evolução muito rápida. Tratamentos de urgência conseguiram retardar o avanço do mal.  Após semanas de insuportável tensão, a família e os colegas de Landsfeld o aconselharam timidamente a desculpar-se junto a Mme. Gauthier. Ele recusou-se, afirmando: “Esta doença nada tem a ver com as ameaças dela”. Procurada em segredo por colegas do professor, Mme. Gauthier minimizou o episódio, dizendo com sarcasmo: “Se ele diz que a culpa não é minha, quem sou eu para discutir com um PhD”.

O estado de saúde de Landsfeld agravou-se. Seus editores assinaram um vultoso contrato de publicação para quatro manuscritos inéditos de Mme. Gauthier, na tentativa de apaziguá-la. Ela continuou a negar qualquer envolvimento com o caso. Num jantar discretamente arranjado em Londres, com a esposa e o filho do professor, ela afirmou: “Feitiços desse porte só funcionam se a vítima pretendida acreditar em sua eficácia.  Não é o caso do Prof. Landsfeld, visivelmente.  Tudo indica que ele está sofrendo de um mal a que qualquer um de nós está sujeito. Mas, se for feitiço e ele admitir que acredita, a pessoa que lhe causou este mal talvez possa, com a ajuda dele, reverter os efeitos”. Limpando os lábios com um guardanapo imaculadamente branco, ela sorriu: “Mas eu conheço os intelectuais como seu marido, Mrs. Landsfeld. Eles preferem morrer a confessar que estavam errados”. Landsfeld morreu quinze dias depois, dizendo: “Que ignorância, que absurdo, bruxaria não existe! Tenho dois tios e uma prima que morreram dessa mesma doença!...”

O CAVALEIRO DAS TREVAS

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quarta-feira, 23 de maio de 2012

the walking dead MICHONNE

Michonne

Outro dia. A mesma merda.

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TRECHOS 234

Dalton Trevisan

Ao ver o pacote de bala azedinha na mão da mulher:
- Assim não há dinheiro que chegue.
E um pontapé na traseira do piá de três aninhos.


33

A santidade do pai é alcançada pela danação do filho.


46

Domingo, de volta do futebol, ele serve-se de uma cachacinha, liga o rádio
- Sabe, paizinho ?
É o menino de seis anos, todo prosa.
- O que, meu filho ?
- Essa a música que a mãe dança com o tio Lilo.


57

Os dois irmãos eram os piores inimigos. Bem me lembro no enterro da velhinha. Eles seguravam a alça do caixão – e não se olhavam. Pálidos, mas de fúria. Nem a cruz das almas comoveu os dois. Se odiavam tanto que a finadinha bulia sem parar entre as flores.


110

Na cama, diz o marido:
- Você é gorda, sim. Mas é limpa.
- ...
- Você é feia, certo? Mas é de graça.


179

- Chorei a última lágrima. Chorei o terceiro olho da cara.


210

Haicai – a ejaculação precoce de uma corruíra nanica.

234

Essa outra me conheceu ? Acho que tem esse lance. Eu ia passando na estrada, ela vinha vindo. Pedi horas pra ela. Comecei a trocar uma idéia e tal. Feliz Natal, eu disse. Aí ela viu a faca: “Tá limpo. Num quero que me mata. Num quero é morrer.” Eu usei ela. Fiquei com ela e tal. Dentro dos conformes. Com uma de menor ? Nadinha a ver. Eu peguei e saí fora. Raiva de ninguém, não. Nesse mundo não tem amigo. Você tem de zoar mesmo. Estou pra tudo. Um fumo aí. Mais um bagulho. E umas. E outras. Aí fico meio doidão. Lá vem uma dona e tal. Trocar uma idéia. Feliz Natal. Tá limpo ?

Os Marlenes.

HULK versus LOKI

punygod

humildade

despadrao-humilde

Ultralafa.

TRAILER o grande gatsby

auréola

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open eyes

“‘I dream with open eyes,” he answered, looking round at the door, ‘and others see my dreams. That is all.’”

David Lindsay, A Voyage to Arcturus

THE BLACK BEETLE

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Francesco Francavilla.