quinta-feira, 1 de março de 2012

CONTO Aquele Diogo Tácito

Sérgio Rodrigues

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Eu nunca disse, ele disse, que o escritor Diogo Tácito inventou o ebook. Eu não sou maluco. O que eu disse foi que o escritor Diogo Tácito se aproveitou da invenção do ebook – invenção feita por outrem, que aqui não vem ao caso – para me vilipendiar de forma torpe em meus direitos de autor. Sim, o que eu disse, ele disse, e configura nada menos que a pura verdade é que cada um dos quatro romances de sucesso que Diogo Tácito publicou nos últimos anos foi roubado de mim, surrupiado de meus arquivos inéditos por um escritor bloqueado que o desespero transformou em hacker diletante ou quem sabe por um hacker profissional a serviço de um escritor em crise. No entanto, estes crimes do farsante Diogo Tácito eu estou lamentavelmente impossibilitado de provar, ele disse, em virtude do já referido ineditismo de meus manuscritos e também do fato de, como todo artista que merece este nome, eu sempre haver trabalhado em radical solidão. Se os quatro primeiros livros de Diogo Tático estavam fora do meu alcance, porém – raciocinei – o quinto não estaria, pois me encontraria prevenido, meu manuscrito registrado nos órgãos competentes, carimbado, firma reconhecida e o escambau, advogados de sobreaviso, divulgadores de plantão para apregoar ao mundo a súbita ruína de um esteliteraturionatário. E foi aí, ele disse, que a marcha da tecnologia me pegou no contrapé. O quinto romance de Diogo Tácito saiu apenas em ebook. Quando lhe pulei em cima, ele o alterou imediatamente, reescreveu-o de cabo a rabo, mudou tudo. De um minuto para o outro, seu livro já não tinha nada a ver com o meu, o que deu a todo mundo a certeza de que era eu o maluco, ele disse, eu o farsante, e não aquele bandido do Diogo Tácito, que, se não inventou o ebook, certamente concebeu uma de suas mais diabólicas aplicações.

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