segunda-feira, 11 de janeiro de 2016

SHEILA

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Os punheteiros de merda têm uma palavra para isso, na verdade duas palavras: estupro coletivo. Os filhos da puta. Sheila chega em casa com a roupa rasgada, suja de sangue entre as pernas e o rosto inchado de pancadas. Sheila abre a porta dos fundos. Não quer que os pais, sentados na sala de estar vendo tv idiota, a vejam. Não quer escândalo. Não. Sheila quer outra coisa. Ela vai sorrateiramente até o quarto dos pais e pega o revólver e as balas que ficam em uma caixa de sapato sobre o guarda-roupa (lugar idiota para se guardar uma arma, mas pensando bem, qualquer lugar é idiota para se fazê-lo). Sheila sai como chegou. Silenciosamente. Eu nunca mais a vi. Eu tinha oito anos na época e estava brincando sob a mesa da cozinha (era minha fortaleza e eu estava matando meus inimigos com minha metralhadora de plástico modelo segunda guerra). Eu vi Sheila entrar e sair. Devia ter avisado meus pais. Hoje sei disso. Grande merda saber disso hoje.
O QUE ACONTECEU COM SHEILA
Os merdas ainda estavam no mesmo lugar onde haviam estuprado minha irmã – na praia, com ondas sacudindo e fazendo barulho e tudo o mais – talvez chapados demais para perceberem o que haviam feito. Eram três. Três babacas que estariam mortos em instantes. Não sei seus nomes. Não sei quem eram. Sei apenas que eram três carecas metidos a skinheads. E só sei que o primeiro deles que viu Sheila voltando com a arma já erguida disse:
― Voltou para mais uma rodada?
E depois não disse mais nada. A bala entrou em seu olho, estourou sua nuca e ele já caiu morto.
― Mas que merda.
O segundo nem tentou fugir. Ficou paralisado feito uma besta e levou dois tiros bem no peito. (Cara, como minha irmã atirava bem!)
― Não não não não não.
O terceiro até que tentou escapar, mas tudo que conseguiu foi levar tiro de covarde, ou seja, pelas costas. Então minha irmã enfiou a arma no cu do filho da puta e atirou de novo.
Depois, ficou olhando para a cena como quem olha um quadro bem pintado e, satisfeita, riu, riu muito, riu bastante, riu mais alto que as ondas.
Depois, como um fantasma, ela desapareceu.
Há quem diga que ela se afogou. Bobagem. Sheila era fodona demais para se matar. Prefiro acreditar que ela continua matando punheteiros estupradores filhos da puta por aí. É muito mais legal assim.
Fim.

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