José Marcelo
__ Eu não tiro a máscara, disse ela. É a única regra.
__ A única? Nenhuma outra?
__ Não. Nenhuma.
__ Tudo bem, eu disse. Entra.
Ela entrou. Tinha pernas bonitas. Andava de modo delicado. Acho que é assim que as bailarinas andam.
__ O dinheiro está aí, eu disse, apontando o envelope sobre o criado-mudo.
Ela sentou-se na cama e guardou o envelope dentro da bolsa. Depois disse:
__ O que você quer fazer?
__ Nada demais. O comum, acho. Uma chupada, um pouco de anal, gozar dentro.
__ Certo.
__ Vamos tomar banho.
Ela era mais linda nua que vestida (não dá para falar isso da maioria das mulheres). Não, ela era perfeita. E gostava muito do que fazia. Principalmente de sexo anal.
Ela ficou de quatro na minha frente e disse mete, mete com força, mete com vontade, sem dó, mete, vai, vai, assim, mete, assim, mete, não para nunca.
…
Foi como eu imaginara, mais ou menos como eu queria. Ela era realmente boa. Estávamos agora deitados na cama, nus e saciados.
__ Isso foi muito bom, Cristina.
Por um momento ela não disse nada.
__ Há quanto tempo você faz isso, Cristina? Cristina?
__ Esse não é o meu nome.
__ É sim. Cristina. É um nome bonito.
__ Tenho que ir embora.
__ Espera aí, moça. Você não vai a lugar nenhum. Não antes de conversarmos.
__ Quem é você? O que você quer?
__ Sou o cara que o seu pai contratou para te encontrar e te levar para casa.
__ Você não pode me obrigar.
__ Não, não posso. E não vou.
__ Então, qual é o ponto?
__ Preciso justificar meus honorários.
__ Fodendo comigo? Vai colocar isso nas despesas também?
__ Vou, mas sem discriminar.
__ Papai não gostaria.
__ Provavelmente não.
Ela se levantou e foi até o banheiro e fechou a porta. Não demorou muito. Quando voltou, ainda nua e de máscara, foi até a janela e abriu a cortina apenas de leve, o suficiente para olhar a rua.
__ Vai contar onde estou?
__ Vou.
__ Não vou estar mais aqui quando meu pai aparecer.
__ Posso te achar de novo.
__ Sabe que ele dormiu comigo? Meu pai?
__ Ele me contou que você o seduziu.
__ É verdade.
__ Isso acabou com ele.
__ O hipócrita adorou, depois veio com esse papo cretino.
__ Também acho.
__ O quê?
__ Que ele é um cretino.
__ E mesmo assim trabalha para ele?
__ Sou um velho que precisa de dinheiro para sustentar os vícios.
__ Vícios?
__ Cinema, livros, bebida, putas.
__ Pelo menos não é um pervertido.
__ Quantos anos você tem?
__ O suficiente.
__ O que significa que tem menos do que aparenta.
__ E daí?
__ Daí nada. Olha, vem comigo. Você não é obrigada a ficar com ele. Se quiser até te dou a carona de volta. Seu pai te vê, você cospe nele e volta para sua vidinha de… sei lá como você chama isso.
__ Não. Ele que se foda. E, sinceramente, que se foda você.
Eu sabia que ia ser assim. Mas não estava com paciência. Quase precisei dar umas tapas para convencê-la. Depois enfiei-a no carro e liguei para o pai dela.
__ Estou com ela… Não, não… Ela apenas concordou em vê-lo… Não seja estúpido. Sabe que não posso obrigá-la. Eu não vou fazer isso. Já fiz demais até… Muito bem… Estamos indo…. Eu disse que estamos indo, porra
Cristina:
__ Como eu disse, um cretino. Vocês dois: cretinos.
Joguei uma folha de papel no colo dela:
__ Esse é meu telefone. Para qualquer emergência.
__ Vai se foder.
Dei meu melhor sorriso e coloquei o carro para andar.
…
O pai dela estava esperando com dois tipos enormes, gorilas sem pêlos, que sequer olharam para Cristina, mas não tiravam os olhos de mim.
Pai:
__ Minha garotinha.
Cristina tirou a máscara. Linda demais. Um rosto jovem demais. Quase me senti culpado. Quase. Ela disse ao pai dela:
__ Não sou sua garotinha.
__ Vai ser, quando eu acabar com você.
Pai virou-se para mim:
__ Você acabou por aqui. Pode ir.
Pai jogou o dinheiro em cima da mesa de centro:
__ Isso é seu.
Eu:
__ Tem mais uma coisa.
Pai, desconfiado e olhando de lado para os gorilas:
__ O quê?
Eu:
__ Uma promessa.
__ Você não me fez nenhuma promessa.
__ Não pra você. Para ela.
__ Que porra é essa? Cai fora.
Eu olhei para Cristina, ignorando ostensivamente os outros na sala:
__ E então?
Cristina:
__ Eu posso lidar com ele.
Pai:
__ Botem esse filho da puta para fora.
Eu até tentei reagir, mas eles eram mais jovens e mais fortes e lutavam melhor, então chutaram minha bunda até a rua. Pelo menos jogaram o dinheiro em cima de mim. E voltaram para dentro com sorrisos satisfeitos e indiferença nos olhos.
…
Fui para casa e fiquei esperando ela ligar. Claro que ela não ligou.
Nenhum comentário:
Postar um comentário