segunda-feira, 6 de junho de 2011

ESCURO NU

José Marcelo

Mulher_na_cama[1]

- Eu tenho que acreditar.

Em você, quero dizer.

- Não faça isso. É estupidez.

- Por quê?

- Você não sabe? Sou um mentiroso. Não é por mal.

É apenas algo patológico. O médico que disse.

- Quer dizer

- Que eu tenho licença clinica para mentir.

- Isso não existe.

- Existe e posso provar.

- Então prove.

- Tenho um papel aqui, em algum lugar. Só não me lembro onde.

Em algum lugar.

- Você está mentindo.

- De que adianta ter uma licença para qualquer coisa, se não usá-la.

- Não tem graça. Nenhuma graça.

- Acenda a luz.

- Não.

- Por que não?

- Não. Não quero. Não quero.

- O que foi?

- Não sei. Estou

- Arrependida?

- Não, não é isso.

- O que é então?

- Não sei. É uma sensação

Como se fosse tudo acabar ao acender a luz. Como se o nosso tempo aqui tivesse acabado.

- Mas acabou. Acabou ontem.

- Ontem?

- Não percebeu? Nas cortinas. Olhe.

Já está amanhecendo.

- Por que a noite não pode durar?

Eu te amo. Você sabe disso, não é? Que eu te amo.

- Amava.

Nosso tempo acabou.

Um comentário:

Kennedy disse...

Conto muito estranho mas legal.