quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

DIÁRIO DE GUERRA DE SÃO PAULO

Fernando Bonassi

FUGA2

Um trecho

14/02

Os comerciais felizes foram inventados pelas agências de propaganda do governo há coisa de talvez 20 anos. Eram famílias reunidas com adultos e crianças comendo e rindo como se tivessem prazer em estar 1as com as outras. Eu mesmo fui criado com eles, embora não acreditássemos que pudessem dar resultado, já que só os comerciais eram felizes, mas a vida muito infeliz, ou estragada. Os adultos desesperados e desempregados já vinham sendo exterminados pelas primeiras facções de crianças; víamos tv mas também víamos o que acontecia nas ruas. Então o governo introduziu as drogas químicas no ensino pra que, apesar da burrice e da insegurança, parecêssemos sempre felizes ou, pelo menos, inteligentes. A idéia não pegou, já que mesmo 1 pouco felizes pela droga, ainda éramos burros e tínhamos medo e insegurança... Resultado: nota "0" para a iniciativa, mas aí muitos (professores e alunos) já tinham se deteriorado naquilo e espalharam a sua louca vingança... E as ruas dessa cidade foram sendo abandonadas e essa própria cidade foi cercada e isolada pelas cidades vizinhas... Até virar essa... Esse... Isso que temos... 1a "ex-cidade"...

15/02

As últimas famílias, como a minha, vivem nos topos dos edifícios remanescentes, com os últimos porteiros e seguranças contratados ao preço de 7 refeições por semana e da autorização pra dormirem nas garagens aquecidas e blindadas. Assim uns vigiam os outros e todos se vigiam mutuamente contra os invasores. Os invasores são de todos os tipos e de todos os jeitos: desde cobradores violentos, vendedores de Enciclopédia de Segurança, pregadores fundamentalistas e militaristas até as crianças mais frias e calculistas, que se fazem de ingênuas pra poderem exterminar e saquear aqueles que lhes têm dó. Os circuitos de vigilância milagrosamente continuam funcionando com suas velhas baterias solares, registrando esses atos de violência contra a portaria.

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