sábado, 6 de agosto de 2011

PSICOPA AMERICANO

Bret Easton Ellis

american_psycho

Trechos:

Tenho uma faca de lâmina de serra no bolso de meu paletó Valentino e fico tentado a estripar McDermott com ela aqui mesmo no vestíbulo, talvez abrir-lhe uma fenda no rosto, cortar-lhe a espinha; mas Price nos faz sinal para entrarmos e a tentação de matar McDermott é substituída por aquela estranha antecipação de divertir-se muito, beber um pouco de champanhe, flertar com uma boazuda, dar umas boas cheiradas, talvez até dançar algumas das antigas ou aquela nova canção da Janet Jackson de que gosto. Fica tudo mais calmo.

Enquanto aguardo no canapé da sala de estar, a vitrola console automática Wurlitzer tocando "Cherish" com o Lovin' Spoonful, chego à conclusão de que Patricia está a salvo esta noite, que não irei inesperadamente puxar uma faca e usá-la nela só pelo gosto de fazer a coisa, que não irei sentir nenhum prazer em vê-la sangrar pelos talhos que lhe fizer, ao cortar sua garganta ou esfatiar o pescoço até abri-lo, ou arrancar-lhe os olhos. Ela tem sorte, embora não haja nenhum raciocínio por trás desta sorte. Pode ser que esteja a salvo porque sua riqueza, a riqueza de sua família, a protegem esta noite, ou pode ser apenas uma escolha minha. Talvez a garrafa de Scharffenberger tenha amortecido meus impulsos ou talvez seja simplesmente que não quero estragar este terno Alexander Julian, ao fazer com que aquela piranha espirre sangue sobre ele todo. Não importa o que aconteça, permanece o fato inútil: Patricia ficará viva, e esta vitória não exige nenhuma habilidade, nenhum salto de imaginação, nenhum artifício da parte de ninguém. É simplesmente assim que o mundo, meu mundo, se move.

A tinturaria chinesa para onde normalmente mando minhas roupas ensanguentadas me devolveu ontem um paletó Soprani, duas camisas brancas Brooks Brothers e uma gravata de Agnes B. ainda cobertos de salpicos de sangue de alguém.

Nenhum comentário: