sexta-feira, 26 de agosto de 2011

MÁSCARA

José Marcelo

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__ Eu não tiro a máscara, disse ela. É a única regra.

__ A única? Nenhuma outra?

__ Não. Nenhuma.

__ Tudo bem, eu disse. Entra.

Ela entrou. Tinha pernas bonitas. Andava de modo delicado. Acho que é assim que as bailarinas andam.

__ O dinheiro está aí, eu disse, apontando o envelope sobre o criado-mudo.

Ela sentou-se na cama e guardou o envelope dentro da bolsa. Depois disse:

__ O que você quer fazer?

__ Nada demais. O comum, acho. Uma chupada, um pouco de anal, gozar dentro.

__ Certo.

__ Vamos tomar banho.

Ela era mais linda nua que vestida (não dá para falar isso da maioria das mulheres). Não, ela era perfeita. E gostava muito do que fazia. Principalmente de sexo anal.

Ela ficou de quatro na minha frente e disse mete, mete com força, mete com vontade, sem dó, mete, vai, vai, assim, mete, assim, mete, não para nunca.

Foi como eu imaginara, mais ou menos como eu queria. Ela era realmente boa. Estávamos agora deitados na cama, nus e saciados.

__ Isso foi muito bom, Cristina.

Por um momento ela não disse nada.

__ Há quanto tempo você faz isso, Cristina? Cristina?

__ Esse não é o meu nome.

__ É sim. Cristina. É um nome bonito.

__ Tenho que ir embora.

__ Espera aí, moça. Você não vai a lugar nenhum. Não antes de conversarmos.

__ Quem é você? O que você quer?

__ Sou o cara que o seu pai contratou para te encontrar e te levar para casa.

__ Você não pode me obrigar.

__ Não, não posso. E não vou.

__ Então, qual é o ponto?

__ Preciso justificar meus honorários.

__ Fodendo comigo? Vai colocar isso nas despesas também?

__ Vou, mas sem discriminar.

__ Papai não gostaria.

__ Provavelmente não.

Ela se levantou e foi até o banheiro e fechou a porta. Não demorou muito. Quando voltou, ainda nua e de máscara, foi até a janela e abriu a cortina apenas de leve, o suficiente para olhar a rua.

__ Vai contar onde estou?

__ Vou.

__ Não vou estar mais aqui quando meu pai aparecer.

__ Posso te achar de novo.

__ Sabe que ele dormiu comigo? Meu pai?

__ Ele me contou que você o seduziu.

__ É verdade.

__ Isso acabou com ele.

__ O hipócrita adorou, depois veio com esse papo cretino.

__ Também acho.

__ O quê?

__ Que ele é um cretino.

__ E mesmo assim trabalha para ele?

__ Sou um velho que precisa de dinheiro para sustentar os vícios.

__ Vícios?

__ Cinema, livros, bebida, putas.

__ Pelo menos não é um pervertido.

__ Quantos anos você tem?

__ O suficiente.

__ O que significa que tem menos do que aparenta.

__ E daí?

__ Daí nada. Olha, vem comigo. Você não é obrigada a ficar com ele. Se quiser até te dou a carona de volta. Seu pai te vê, você cospe nele e volta para sua vidinha de… sei lá como você chama isso.

__ Não. Ele que se foda. E, sinceramente, que se foda você.

Eu sabia que ia ser assim. Mas não estava com paciência. Quase precisei dar umas tapas para convencê-la. Depois enfiei-a no carro e liguei para o pai dela.

__ Estou com ela… Não, não… Ela apenas concordou em vê-lo… Não seja estúpido. Sabe que não posso obrigá-la. Eu não vou fazer isso. Já fiz demais até… Muito bem… Estamos indo…. Eu disse que estamos indo, porra

Cristina:

__ Como eu disse, um cretino. Vocês dois: cretinos.

Joguei uma folha de papel no colo dela:

__ Esse é meu telefone. Para qualquer emergência.

__ Vai se foder.

Dei meu melhor sorriso e coloquei o carro para andar.

O pai dela estava esperando com dois tipos enormes, gorilas sem pêlos, que sequer olharam para Cristina, mas não tiravam os olhos de mim.

Pai:

__ Minha garotinha.

Cristina tirou a máscara. Linda demais. Um rosto jovem demais. Quase me senti culpado. Quase. Ela disse ao pai dela:

__ Não sou sua garotinha.

__ Vai ser, quando eu acabar com você.

Pai virou-se para mim:

__ Você acabou por aqui. Pode ir.

Pai jogou o dinheiro em cima da mesa de centro:

__ Isso é seu.

Eu:

__ Tem mais uma coisa.

Pai, desconfiado e olhando de lado para os gorilas:

__ O quê?

Eu:

__ Uma promessa.

__ Você não me fez nenhuma promessa.

__ Não pra você. Para ela.

__ Que porra é essa? Cai fora.

Eu olhei para Cristina, ignorando ostensivamente os outros na sala:

__ E então?

Cristina:

__ Eu posso lidar com ele.

Pai:

__ Botem esse filho da puta para fora.

Eu até tentei reagir, mas eles eram mais jovens e mais fortes e lutavam melhor, então chutaram minha bunda até a rua. Pelo menos jogaram o dinheiro em cima de mim. E voltaram para dentro com sorrisos satisfeitos e indiferença nos olhos.

Fui para casa e fiquei esperando ela ligar. Claro que ela não ligou.

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