José marcelo
A fada de boca macia sorriu e disse
__ Vamos dar uma volta.
Havia mais que uma simples promessa no jeito dela falar.
Ele a acompanhou até lá fora e ambos ficaram olhando as nuvens muito brancas sob a lua oculta. Então, ele segurou o braço da fada e beijou-a. A boca dela era tão boa como ele imaginava.
__ Você sabe o que acontece agora.
Ele disse que sabia, que não se importava, mas queria mais um minuto. Queria beijá-la de novo. Ela assentiu.
Depois ela o levou até o alto da colina ali perto e deitaram-se um ao lado do outro, como irmãos. Ele fechou os olhos. Não queria vê-la quando se transformasse. Preferia lembrar do rosto belo, quase divino, que simplesmente o hipnotizara.
Esperou pela morte... e esperou.
Então sentiu o hálito quente dela em seu ouvido.
__ Hoje não. Não __ disse ela.
Ele abriu os olhos e ela não estava mais lá.
Por que ela não o matara, ele só descobriria anos depois, já velho e exausto, quando em um dia quente ele a vira acenar-lhe do outro lado de uma rua movimentada, no centro da cidade.
E, instantes depois, ela estava ao seu lado, dizendo
__ É hoje.
__ Por que demorou?
__ Porque gosto de você.
__ Mas era seu direito, cobrar a dívida naquele dia...
__ Sim, era.
__ Mas você não o fez.
__ Não. Mas estou fazendo agora. Pelos termos de nosso pacto.
__ Tudo bem. Como vai ser?
__ Rápido.
__ Tenho um último pedido.
__ Não que eu precise que consentir.
__ Não. Sei que não.
__ Você é como um amor que se tem na juventude e então anos depois nós nos encontramos de novo e você não mudou nada e eu estou... velho.
__ Eu sei o que você quer.
__
__ Um beijo __ disse ela e beijou-o apaixonadamente, ali mesmo, no meio da rua, entre as pessoas que passavam apressadas.
Um beijo longo e tão bom como ele se lembrava.
__
Ele não percebeu quando ela o matou. Apenas estava vivo e depois já não estava.