domingo, 20 de março de 2016

TÉDIO E NAVALHAS

José Marcelo
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Ela deitou-se de pernas abertas e disse:
__ Vem.
Não porque o amasse ou porque o desejasse ou quisesse o seu dinheiro.
Não, apenas para afastar o tédio.
Era o tédio que não suportava. E foder, mesmo que fosse uma rápida trepada sem muito prazer e nenhum orgasmo era melhor que o tédio.
Então, ela o chupou e deixou que ele a comesse de todo jeito que ele queria. Ela ficou de quatro e deu-lhe o rabo e ele gozou dentro dela e ela não sentiu nenhum prazer com aquilo.
Ela esperou ele sair de dentro dela. Ele deu-lhe um tapinha de leve, como se ela fosse uma garotinha, e deitou-se e dormiu quase imediatamente.
Ela levantou-se e atravessou o quarto, nua e ainda melancólica. Entrou no banheiro e fechou a porta. Olhou-se no espelho e achou-se velha e feia. Abriu o armário e pegou a navalha.
Pensou em ir ao quarto e cortar a garganta dele. Mas isso apenas sujaria os lençóis e não lhe traria nenhum prazer. Então, sentou-se no vazo e ficou olhando pela janela as nuvens que passavam lá fora. Brancas e fofas.
Antes que tivesse tempo de desistir, ela abriu as veias, cortes longos que iam dos cotovelos aos pulsos. Não houve dor. Apenas uma demorada e tediosa espera pela morte.
 

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