Heitor Henrique
Do cheiro de adeus
Júlia
que deseja voar
que é um poema católico apostólico romano
Júlia
que flutua entre as flores
troca de roupa e de perfume
que é um pássaro
um trecho do poema do Gullar
Júlia
que acorda e sorri
que abre as janelas do quarto
que sabe das cláusulas pétreas
Júlia
que se banha no mar
que não gosta de cerveja
que tem amores primaveris antes da chuva.
Júlia
que tem cabelos longos
e riso fácil
e se perde entre as ruas da cidade
e que fala do amor e da poesia com devoção.
Que se vê nas tardes de sábado de bicicleta
e aos domingos na missa
Júlia
dos olhos castanhos
do sotaque arrastado, nordeste
Eu pensei que fosse um pássaro
Eu achei que fosse uma música do caetano.
Júlia
das sapatilhas brancas
das unhas pintadas
dos desejos velados.
Júlia do som da chuva
do cheiro de terra molhada
das rosas, margaridas e girassóis
Júlia da elegância recorrente
da formosura juvenil
do erotismo sutil
Júlia, dos olhos castanhos.
Das mãos cheias d´agua em formato de concha
da maquiagem saindo do rosto ingênuo
Júlia da careta, do bar, da praia, do poema
Mas jamais Júlia minha.
Júlia do adeus, do até logo, do foi bom te ver
Júlia, que voa como um pássaro
desfila como uma francesa
enquanto eu tomo uma cerveja gelada.
Júlia, que vai embora como a protagonista da série de TV
quando briga com o diretor de produção.
Que escreve cartas de amor e guarda na bolsa.
Júlia
que é encanto e beija-flor
que passou por esse bar uma vez
tomou um vinho, ouviu um poema
e partiu.
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