“Olhei para a cidade lá embaixo. Sua extravagância me pareceu um desperdício, como o petróleo jorrando de dentro da terra ou alguma coisa preciosa que Bennie estivesse juntando para si e usando até o fim para ninguém mais poder pegar. Pensei: se eu tivesse uma vista como esta para olhar todos os dias, teria energia e inspiração para conquistar o mundo. O problema é que, quando você mais precisa de uma vista, ninguém lhe dá.
Respirei fundo e virei-me para Bennie.
- Saúde e felicidade para você, irmão – falei, e sorri para ele pela primeira e única vez: deixei meus lábios se abrirem e se esticarem para trás, algo que raramente faço porque perdi boa parte dos dentes de ambos os lados da boca. Os que tenho são grandes e brancos, então as falhas pretas são uma grande surpresa. Vi o choque no rosto de Bennie quando ele reparou. E de repente me senti forte, como se algum equilíbrio no quarto tivesse sido modificado e todo o poder de Bennie – a mesa, a vista, a cadeira que fazia levitar – de repente me pertencesse. Assim é o poder; todos o sentem ao mesmo tempo”.
A Visita Cruel do Tempo, Jennifer Egan
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