norman manea
“Nas semanas que precederam o meu retorno, revisitei os caminhos tortuosos das idades. Lembrei-me do sabor das comidas e das piadas, do vinho, dos cânticos, das montanhas e do mar, dos amores e das leituras. E, naturalmente, das amizades que haviam iluminado tantos impasses. Sim, mesmo alguém como eu, nascido sob o signo do intruso, não tinha o direito de esquecer os deleites de Gomorra. O encanto daquele lugar e de seus moradores não era ilusão, O encanto daquele lugar e de seus moradores não era ilusão, isso eu podia atestar. Paul Celan também viveu, em sua época bucarestina do pós-guerra, o tempo do ´trocadilho´, como o chamou depois, com divertida nostalgia. E também Tolstói, naqueles sete meses que passou em Bucareste em 1854 e em Chisinau e em Buzau e em tantas outras de suas paragens. A mistura de magia e tristeza não escapou ao seu olhar juvenil, ávido por livros e por aventuras vulgares, carnais, obcecado por aperfeiçoar o caráter e a escrita,mas obcecado também pela camponesa descalça, deitada no campo, ou por uma noite no bordel.
Sim, a intensidade do instante, a vida toda num instante…”
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