Eduardo Mendoza
Enquanto pisoteava as baratas que corriam pela cama, não tive como não lembrar da cela do manicômio, tão higiênica, e confesso que a nostalgia me tentou. Mas não existe bem maior, dizem, que a liberdade, e não era o caso de menosprezá-la, agora que desfrutava dela. Com esse consolo, enfiei-me na cama e tentei dormir repetindo para mim mesmo a hora em que queria acordar, pois sei que o subconsciente, além de desvirtuar nossa infância, confundir nossos afetos, lembrar-nos do que ansiamos esquecer, revelar-nos nossa abjeta condição e destroçar-nos, em suma, a vida, quando lhe dá na telha e a título de compensação, faz as vezes de despertador.
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