segunda-feira, 9 de julho de 2012

trecho ESTRELA DISTANTE

Roberto Bolaño

Em 1968, enquanto os estudantes erguiam barricadas e os futuros romancistas da França quebravam com tijolos as janelas de suas escolas ou faziam amor pela primeira vez, ele decidiu fundar a seita ou o movimento dos Escritores Bárbaros. Assim, enquanto alguns intelectuais saíam de suas casas para ocupar as ruas, o ex-legionário se fechou em seu cubículo de zelador da rue Des Eaux e começou a dar forma à sua nova literatura. A aprendizagem se fazia em dois passos aparentemente simples. O confinamento e a leitura (…) O segundo passo era mais complicado. Segundo Delorme, era preciso se fundir com as obras-primas. Isso se obtinha de uma forma bastante curiosa: defecando sobre as páginas de Stendhal, assoando o nariz com as páginas de Victor Hugo, masturbando-se e espalhando esperma sobre as páginas de Gautier ou Banville, vomitando nas páginas de Daudet, urinando sobre as páginas de Lamartine, cortando-se com lâminas de barbear e fazendo respingar o sangue nas páginas de Balzac ou Maupassant, submetendo os livros, enfim, a um processo de degradação que Delorme chamaca de humanização. O resultado, depois de uma semana de ritual ´bárbaro´, era um apartamento ou quarto cheio de livros destroçados, sujeira e mau-cheiro onde o aprendiz de escritor se punha a boquear relaxadamente, nu ou de shorts, sujo e convulso como um recém-nascido ou, mais precisamente, como o primeiro peixe a ter decidido dar o salto e viver fora da água…

Monte de leituras.

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