Ian McEwan
“Faz parte da nova ordem esse estreitamento da liberdade mental, do seu direito de divagar. Não faz muito tempo, seus pensamentos vagavam de um modo mais imprevisível, cobriam uma longa lista de assuntos. Desconfia que está virando um simplório, o sugestionável e afoito consumidor da ração de notícias, as migalhas que as autoridades deixam cair. É um cidadão dócil, que vê o Leviatã ficar mais forte, enquanto ele mesmo se agacha sob a sua sombra… Esse avião russo voou direto para dentro da sua insônia, e Henry sentiu-se perfeitamente feliz em deixar que a notícia e todo o processo de ínfimas alterações nervosas do noticiário, ao longo do dia, colorissem à vontade o seu estado emocional…”
“É uma condição da época, essa compulsão para ver como anda o mundo e unir-s à maioria, a uma comunidade de angústia. O hábito ficou mais forte nos últimos dois anos; estabeleceu-se uma nova escala de valores de notícias, por conta de cenas monstruosas e espetaculares (…) Todos têm medo disso, mas também uma aspiração mais sombria, na mente coletiva, uma ânsia de autopunição e uma curiosidade sacrílega. Assim como os hospitais têm os seus planos em tempos de crise, as redes de tevê ficam a postos para transmitir as notícias, e o público aguada. Maior, mais gritante, da próxima vez. Por favor, não deixe que aconteça. Mas, mesmo assim, deixe que eu veja tudo, na hora que estiver acontecendo, e de todos os ângulos, deixe que eu esteja entre os primeiros a saber…”
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