josé marcelo
- pervetido pedófilo tarado débil mental lunático de merda – disse ela.
- então… você não gostou?
- não, não gostei. claro que não. é só sobre isso que você sabe escrever? tenho medo do que se passa dentro dessa sua cabeça.
- são só histórias.
- são perversões. você é um pervertido. você vai apagar, claro.
- o quê? não, não vou.
- claro que vai. não vou namorar um pervertido.
- como se você não gostasse de perversões.
- nem se atreva a comparar. quer saber? eu vou nessa.
- pare com isso. você está sendo estúpida.
- tchau.
ela saiu batendo a porta, puta de raiva, ela que ficara toda orgulhosa de namorar um escritor quando ele lhe contara que finalmente começara a escrever um livro, aquele que estivera planejando desde sei lá quando, finalmente. mas não esperava aquilo. era pervertido demais. uma mistura de sexo e violência e não muito mais que isso. e ela nem lera tudo. bastara algumas páginas. bastara chegar na cena da jovem sendo estrupada e gostando disso. gostando! fora o fim.
ela entra no carro e o vê olhando-a da janela, parecendo francamente magoado.
- pervertido de merda.
ele ficou sozinho e ficou pensando até tarde. sentado no chão olhando nada. e agora? mudar o tom? escrever histórias mais leves? suaves? coloridas… sem tanto cinza. e… não, isso não. não ia mudar o tom, mudar o que escrevia por causa dela. não mesmo. porra, ele escrevia sobre a vida. era isso. a vida. cheia de violência, sexo e humor negro. cheia de acasos estranhos, coincidências impossiveis. essa porra toda. cheia de alegria e desgostos. puta que pariu. ela que se foda. não fora a primeira a lhe dar um fora. provavelmente não seria a última. simples assim. quem sabe não encontraria uma que gostasse dos seus escritos… é. quem sabe.
ele sentou-se diante do notebook e digitou o fora. é, basicamente isso. um fora. quando terminou de ler, percebeu que era o primeiro a escrever que não tinha tanto opu nenhum sexo ou violência ou, como ela bem cuspira em seu rosto… perversões. ele manda a história para o e-mail dela.
no outro dia, ele liga para ela:
- taí, uma história bem menos violenta, bem menos suja, bem menos. mas igualmente fodida. o que você achou meu bem?
- não devia nem ter atendido. e quer saber, essa foi sua pior história.
ela bateu o telefone. puto de raiva, ele voltou ao notebook e escreveu:
fui até a casa da vadia e comi ela ela e depois que ela gozou, eu disse: – aproveita, porque foi a última vez que te fiz gozar. – você. mas tem outros, respondeu ela.
ele começou a rir e riu durante muito tempo. tempo demais até. qauando acabou, percebeu que não dava a mínima para ela. uma leitora frustada. tudo bem. todo escritor tem sua cota. fazer o quê.
então tomou um banho demorado e bateu uma boa.
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