Tentei afastá-la da minha frente. Tinha de sair dali. Sabia o que ia acontecer se não saísse e sabia que não podia deixar aquilo acontecer. Poderia matá-la. Aquilo poderia trazer o mal-estar de volta. E, mesmo que nada daquilo acontecesse, eu ficaria visado. Ela comentaria. Ela berraria para que todos ouvissem. E as pessoas começariam a pensar, a pensar e a se perguntar a respeito daquele outro episódio que ocorreu fazia quinze anos.
Ela me deu um tapa tão forte que meus ouvidos ficaram zumbindo, primeiro de um lado e depois do outro. E continuou me batendo. Meu chapéu voou longe. Quando me abaixei para pegá-lo, ela me acertou o queixo com o joelho.
Perdi o equilíbrio e caí sentado no chão. Ouvi uma risada cruel e depois outra, um tanto receosa. Ela disse:
''Ai, xerife, eu não quis... eu... me deu tanta raiva que... eu...''
''Claro'', sorri. Procurava recuperar a visão e a voz.
''Claro, moça, eu sei como é. Eu também reagia assim. Me ajude aqui, por favor?''
''Você vai me machucar?''
''Eu? Eu não, moça.''
''Não'', disse ela num tom de quase decepção. ''Sei que você não faria isso. Qualquer um percebe que você é um cara tranquilo demais.'' Ela veio lentamente na minha direção e me deu as mãos.
Levantei-me. Prendi os pulsos dela com uma das mãos e a esmurrei com a outra. Ela quase desmaiou; eu não a queria completamente inconsciente. Eu queria que ela percebesse o que estava acontecendo com ela.
''Não, querida'', sorri. ''Eu não vou machucar você. Nem passaria pela minha cabeça machucar você. Eu só vou acabar com a sua raça.''
Disse exatamente o que pretendia fazer e quase cumpri. Puxei o pulôver dela, cobrindo-lhe o rosto, e dei um nó com uma das pontas. Joguei-a na cama, arranquei-lhe o pijama e amarrei os pés com ele.
Tirei meu cinto, levantei-o acima da cabeça...
Perdi a noção do tempo até parar, até voltar à razão. Só sei que meu braço doía muito, a bunda dela estava muito machucada e eu, apavorado, experimentei o pavor no seu limite.
Soltei as mãos e os pés dela, descobri lhe a cabeça. Molhei uma toalha com água fria e passei no corpo dela. Servi-lhe café na boca. E durante todo esse tempo eu falava, implorando-lhe perdão, dizendo-lhe o quanto eu lamentava.
Ajoelhei-me ao lado da cama, implorei e pedi desculpas. Finalmente suas pálpebras tremeram e se abriram.
''Não'', murmurou ela.
''Nunca mais, juro por Deus, moça, nunca mais...'', disse eu.
''Não diga nada.'' Ela encostou seus lábios nos meus.
''Não se desculpe.''
Ela beijou-me novamente. Ela começou a tirar minha gravata e a minha camisa desajeitadamente; foi tirando a minha roupa depois de eu quase ter-lhe arrancado a pele.
Trecho de O Assassino em Mim, escrito por Jim Thompson.
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