plínio marcos
“Eu nunca fui nada. Nem tem jeito de ser nada. Mas, porra, eu não quero morrer. Não quero. O Zulu não falava que queria morrer. Mas eu sei que ele não queria. Eu estava sabendo. Eu via. Não é que eu via, manja? Estava escuro paca. A gente não se via. Eu, no começo, só enxergava o revólver que estava na mão do filho da puta. Essa merda aqui. Esse trinta e oitão mesmo. Mas quando ele passou pra minha mão, eu nem via mais a draga. Via os olhos do crioulo. Via o medo dele… Eu vi. Ele estava encagaçado. Eu sei. Eu sei de tudo. Eu sou o Querô! Porra, eu sou o Querô! … Era eu ou ele. E antes ele do que eu…Os meus olhos eram duas brasas. E ele via. Via bem o gosto que eu tinha na boca… Via bem. Via o cheiro que eu tinha no nariz. O fedor escroto. O fedor fodido do perfume das putas da Xavier… O crioulo via. Via. E eu via. Via a merda toda. Aquela bosta fedida era minha vida. A minha própria vida. E eu apertei. Apertei pra valer… Porque era a minha vida que valia ali. A minha bronca fodida de tudo. Desde que eu nasci. Desde esse apelido porco que carrego.”
Nenhum comentário:
Postar um comentário