sexta-feira, 20 de agosto de 2010

MARCAS NO PESCOÇO

Álvaro A. L. Domingues

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Assustou-se ao ver uma mancha roxa no pescoço da irmã, mas não perguntou nada.

Ele só tinha oito anos, mas sabia tudo sobre aquilo: sua irmã tinha sido atacada por um vampiro. 

Isso explicava o comportamento estanho dela, desde que fizera dezesseis anos: dormia até tarde, irritava-se com a luz solar e saia muito à noite. Sua mãe não ligava, e dizia, quando ele manifestava suas suspeitas, que era apenas adolescência. Que ele entenderia quando chegasse sua vez.

Talvez a mãe soubesse do estado da filha e estivesse escondendo. Ficou preocupado com o “quando chegasse sua vez”. Viraria um vampiro também? Talvez sua mãe também fosse uma. Mas ela sempre levantava cedo para levá-lo à escola. Mas e aquele livro que sua irmã lera que tinha vampiros que brilhavam sob o sol?

O jeito era descobrir. Alho, estaca e crucifixo? Sua irmã detestava alho! Mas espere! Ele também! E desde sempre. E ele ainda não era um vampiro! Portanto o alho não servia pra nada.

A estaca, só como último recurso. Mesmo que a irmã fosse um vampiro, nunca iria lhe espetar uma estaca no coração (  na realidade, a estaca era um pedaço de cabo de vassoura, apontado a facão, como um lápis). Restava o crucifixo. A avó lhe dera um grande, por conta da primeira comunhão.

Ficaria esperando quando ela voltasse de uma de suas saídas noturnas, a surpreenderia e mostraria o objeto religioso. Levaria a estaca também, por via das dúvidas, caso ela o agredisse.

Foi que fez. Ficou escondido na sala, atrás da cortina, esperando que ela abrisse a porta. Ela chegou, mas não estava sozinha. Um rapaz todo de preto a acompanhava. Os dois, ainda na penumbra, sentaram-se no sofá. E logo começaram os abraços e beijos. Foi quando ele procurou novamente o pescoço da moça. O garoto não se conteve. Com um urro pulou de trás da cortina, bradando crucifixo e a estaca.

O rapaz levou um susto e berrou:

– Quem é esse maluco?

– É o meu irmão! – respondeu a garota.

Ele olhou para o menino, cheio de pavor, e continuou gritando:

– Eu que não fico nem mais um minuto aqui!

E saiu correndo pela porta de entrada.

A irmã se voltou pra ele fula! Ela queria estrangulá-lo, gritando:

– Seu moleque do capeta! Você espantou meu namorado!

– Seu namorado? Pois ele é um vampiro! – retrucou o menino.

A gritaria acordou sua mãe, que apartou a briga com um sabão bem dado nos dois. Quando tudo ficou mais calmo, o garoto contou à mãe o motivo da briga. A marca roxa. A senhora gargalhou, deixando o menino perplexo e explicou:

– Isso é um marca de um beijo um pouco mais afoito do rapaz. Sua irmã permitiu alguns avanços demais (depois eu acerto com você, mocinha!) do namorado. Não é o beijo de um vampiro!

O garoto, envergonhado, voltou para a cama. Não perturbaria mais a irmã, mas ainda deu um ultimo olhar desconfiado pra ela, antes de subir pro quarto.

No dia seguinte, a mãe e a moça foram procurar o namorado, para esclarecer “algumas coisinhas”. Chegaram ao endereço que ele fornecera e encontraram uma casa abandonada. Um arrepio percorreu o corpo das duas...

Leia mais contos deste autor no: Sombras e Sonhos.

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