Danislau
Eu trabalhei como ator pornô por anos e anos na fronteira do México com os Estados Unidos. Espetáculos de sexo ao vivo. Era aplaudido de pé ao final de cada sessão. Muita gente desistiu de pular a cerca – a cerca da fronteira – porque não queria perder minha performance nas noites de quarta. Fui mandado embora justamente quando caí de amores por minha parceira (mais correto dizer adversária?), o que teria comprometido seriamente meu desempenho, conforme argumentou a gerente da casa de espetáculos. Alícia (grande atriz, aquela menina) acabou por confirmar a versão, ao ser questionada. “Sim, a performance dele caiu bastante, em termos de realismo”. Realismo? Realismo era o que pra ela? Ficar indo e voltando meu quadril com aquela cara de chicletinho, uma mão na nuca, outra dando tapa na bunda adversária, como se dissesse “chego a vara mesmo”?
Ter sido mandado embora foi o bastante para que eu percebesse o quanto aquele não era o meu ramo. O bastante pra perceber também o quanto aquele era o ramo de Alícia. Por nada nesse mundo ela poderia abandonar o teatro.
Não resisti, acabei assistindo à performance da quarta seguinte, já com meu substituto em cena. Saí do recinto com a cabeça baixa, em meio ao público aplaudindo de pé. Ainda na rua, pude ouvir os bravos banhando o ambiente com o perfume da tequila. Alícia. Existia mesmo alguém por trás daquele dentro?
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