Los Angeles, 24/2/1964
De repente:
O caminhão de leite fez uma curva fechada à direita e raspou o meio-fio. O motorista perdeu a direção. Pisou no freio em pânico. Causou uma derrapagem de traseira. Um carro blindado da Wells Fargo bateu no caminhão de leite de frente/lado.
Ouve só isso:
7h16. Sul de L.A., esquina da 84 com a Budlong. Área residencial para negros. Casebres desprezíveis com terrenos cobertos de sujeira na frente.
O choque fez os dois veículos pararem. O motorista do caminhão de leite bateu no painel. A porta do lado do motorista se escancarou. O motorista tombou e bateu na calçada. Era um negro com cerca de 40 anos.
O carro blindado ficou com alguns amassados no capô. Três guardas saíram para verificar os estragos. Eram brancos com uniformes cáqui apertados. Usavam cintos Sam Browne com coldres fechados com botões de pressão.
Ajoelharam-se ao lado do motorista do caminhão de leite. O cara estremeceu e ofegou. A pancada no painel tinha aberto um talho na testa. Sangue pingava nos seus olhos.
Ouve só isso:
7h17. Céu nublado de inverno. Rua calma. Sem tráfego de pedestres. Sem burburinho provocado pela batida de carro, ainda.
O caminhão de leite arfou. O radiador estourou. Uma nuvem de vapor sibilou e se espalhou até longe. Os guardas tossiram e enxugaram os olhos. Três homens saíram de um Ford 62 parado mais atrás.
Usavam máscaras e luvas. Calçavam sapatos com solas de borracha. Usavam cintos carregando bombas de gás em bolsas pequenas. Usavam blusas de manga comprida abotoadas. A cor
da pele estava oculta.
O vapor os cobria. Andaram e sacaram armas com silenciadores. Os guardas tossiram. Isso forneceu cobertura sonora. O motorista do caminhão de leite sacou uma arma com silenciador e atirou na cara do guarda mais próximo.
O som foi uma pancada surda. A testa do guarda explodiu. Os outros dois guardas tentaram sacar as pistolas. Os mascarados atiraram neles pelas costas. Estremeceram e tombaram para a frente. Os mascarados atiraram na cabeça dos dois, à queima-roupa. Os estampidos e o estalar dos crânios
soaram abafados.
São 7h19. Ainda está silencioso. Ainda não há tráfego de pedestres ou burburinho causado pelo acidente de carro.
Barulho agora — dois tiros mais ecos altos. Fogo saindo dos canos, formas estranhas, estampidos vindo das fendas para armas do carro blindado.
Os tiros ricochetearam no pavimento. Os mascarados e o motorista do caminhão de leite se levantaram. Rolaram na direção do carro blindado. Isso atrapalhava o ângulo de tiro. Mais quatro disparos soaram. Quatro mais dois — uma carga de revólver.
O Mascarado 1 era alto e magro. O Mascarado 2 tinha estatura mediana. O Mascarado 3 era pesadão. São 7h20. Ainda não há tráfego de pedestres. Um grande dirigível no céu puxava flâmulas de uma loja de departamento.
O Mascarado 1 se levantou e correu para baixo da fenda para arma do blindado. Pegou uma bomba de gás na bolsa e arrancou a tampa. A fumaça se espalhou. Ele enfiou a bomba na fenda. O guarda lá dentro berrou e teve ânsias de vômito, fazendo um muito barulho. A porta de trás se escancarou. O guarda pulou e caiu de joelhos no pavimento. Sangrava pelo nariz e pela boca. O Mascarado 2 atirou duas vezes na cabeça dele.
O motorista do caminhão de leite pôs uma máscara de gás. Os mascarados puseram máscaras de gás por cima das máscaras. O gás saía pela porta traseira. O Mascarado 1 pegou mais uma bomba de gás e jogou lá dentro.
A fumaça explodiu e se acomodou, formando uma névoa ácida — vermelha, cor-de-rosa, transparente. Começou um burburinho na rua. Há alguns curiosos nas janelas, algumas portas abertas, algumas pessoas de cor nas varandas.
São 7h22. A fumaça se dispersou. Não há um segundo guarda dentro.
E eles entram. (...)
Aqui.
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