terça-feira, 2 de fevereiro de 2016

trecho: roteiro de "Terra em Transe", filme de Glauber Rocha


PAULO
Depende.
JORDAN
Eu me sinto cansado. Sofri uma desilusão muito grande... Quando voltar ao Rio me procure... Podemos conversar com calma.
Lamartine se exalta, o Cardeal a seu lado.
LAMARTINE
Precisamos fundar novas cidades, abrir grandes estradas, construir escolas! Os detratores não sabem que Juscelino fez o mais importante Governo do Brasil: construiu Brasília, desfraldou a bandeira do nacionalismo, Três Marias, Furnas _ a força do desenvolvimento, a aurora do nacionalismo nasceu deste homem cujos erros tinham a mesma grandeza de seus acertos... Precisamos de trezentas cidades no Amazonas, precisamos restaurar o espírito dos bandeirantes, o espírito do Pe. Antônio Vieira!
As vacas começam a berrar. Os vaqueiros cercam as vacas, montando nos seus cavalos. Começa um aboio Jordan e o Piloto levam Lamartine para o helicóptero. Bisquê idem. Silvino observa ao fundo. Sanfonas, movimento _ divertem-se.
Paulo sente calor, alheio àquilo, bebe cerveja. Ouve o barulho do helicóptero.
O helicóptero sobe, Silvino olha, Bisquê vem ao fundo, corre em direção a Silvino.
BISQUÊ
Grande homem, o Dr. Lamartine!
O Embaixador fixa Silvino, assustado. Silvino o abraça. O barulho do helicóptero.
SILVINO
O senhor vai servir aonde agora?
BISQUÊ
Gostaria de servir no México...
SILVINO
Qual sua posição política?
BISQUÊ
Um liberal conservador ou melhor um conservador liberal...
Silvino dá uma bruta gargalhada e bate na barriga do Embaixador. O helicóptero neste momento passa sobre elas, levanta o vento e espalha o ruído. Bisquê foi por terra, sob o vento, tenta se compor, Silvino sorri, Paulo entra em campo com o copo de cerveja, Silvino grita.
SILVINO
Embaixador, pra se subir no Governo Federal é preciso ser de esquerda. Comunista não, veja bem... De esquerda!
CAM sobe com música. TRAV aéreo. Os vaqueiros cercam a boiada que se movimenta. O americano, no jipe, descreve um círculo, buzinando gritando como um cowboy.
CAM afasta-se, estoura uma música carnavalesca. CORTE.
Seqüência 6
TRAV. DESCONTÍNUO. Mulheres fantasiadas dançando histéricas. Estamos num baile de Carnaval, num Clube pequeno. Animação.
Uma mulher loura dá um longo beijo em Paulo. Paulo fantasiado simplesmente, de marinheiro, afasta-se, um pouco bêbado e se dirige ao bar. Confusão generalizada. Consegue disputar um uísque.
Subitamente atacam Paulo de lança-perfume e gritos e beijos. São Marina e Álvaro. Paulo, feliz com a descoberta, os beija.
TRAVS DESCONTÍNUOS. Corre o carnaval. Paulo, Marina e Álvaro se divertem, felizes.
Detalhes de um préstito, clima de sonho. Sucedem-se os préstitos, trombetas.
A Escola de Samba desfila, insólita e agressiva. Oscilam bandeiras.
Estoura o Baile do Municipal. São seqüências rápidas e fortes, dando a passagem de tempo do Carnaval.
TRAV LATERAL, veloz, passa levando Paulo, Marina e Álvaro, alegres, confundem-se com outros foliões, cresce.
Seqüência 7
Um bar marítimo. TRAV LENTO, um grupo de foliões, madrugada de quarta-feira de Cinzas. Os foliões ainda cantam uma marcha-rancho, poética, As Pastorinhas.
Numa mesa estão Álvaro, Marina e Paulo. Conversam, informais, tontos e sonolentos. Esta cena tem um tom de sonho. A marcha-rancho ao fundo é substituída por outra.

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