quarta-feira, 9 de julho de 2014

NUVENS CORES



 Que se foda  ― disse o homem que tremia. 
Era cor de sangue na borda do mundo. Amanhecia na praia. O mar era fétido e escuro. A areia da praia era grossa e afiada, cheia de cacos e restos. O homem estava ali sozinho, uma figura branca usando um capacete enorme. Um astronauta que cambaleava enquanto tentava se desfazer de suas vestes. Largou primeiro o capacete. Seu rosto era velho e cansado. Tirou as botas e o resto até que completamente nu ajoelhou-se e vomitou algo vermelho e sem odor. Olhou para trás e viu a fumaça que erguia-se de sua nave, uma nuvem colorida, quase dantesca em sua forma imaterial. Deixou-se cair, pesadamente, e caindo sobre a areia, morreu.
Uma morte rápida, uma golfada de ar que subiu no ar onde pássaros ancestrais de um planeta alienígena voavam e observavam curiosos a fumaça que continuava a bailar e bailar até não existir mais.

Foi o fim. Uma viagem longa da terra a outro lugar que terminou abruptamente, trêmula e sem sentido, talvez ocasionada por um erro mecânico ou uma falha humana ou o acaso. O simples acaso da morte.

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