segunda-feira, 7 de dezembro de 2015

CONTO branco viscoso

José Marcelo
poif
Ela encolhida no canto da sala e gritando e chorando e tentando segurar o líquido branco viscoso que teimava em escorrer do globo ocular esquerdo.
O nome dela era Cristina e ela gostava de cortar-se com um estilete – pernas e braços marcados por inúmeras linhas rubras – sentada em uma cadeira de madeira arcaica perto da janela… todas as noites até o sol despontar como um olho fumegante e intruso.
Estranhamente, aquele ato de dor lhe trazia uma paz que, gostava de pensar, nunca conhecera sequer no útero.
Um dia pensou em ir além: furou o olho. E a paz se foi.
Tornou-se caolha – e pensou por que não? Então furou o outro olho.
Tornou-se cega. Maravilhosa. Simples. Tranquila era a escuridão.
No dia em que se matou, no escuro, estava feliz.
Vai entender…

2 comentários:

O Poeta disse...

Chocante e ao mesmo tempo Facinante.
Anask Mic
http://entrecronicasepoemas.blogspot.com/

O Ancião disse...

valeu pelo comentário.