José Marcelo
Ela encolhida no canto da sala e gritando e chorando e tentando segurar o líquido branco viscoso que teimava em escorrer do globo ocular esquerdo.
O nome dela era Cristina e ela gostava de cortar-se com um estilete – pernas e braços marcados por inúmeras linhas rubras – sentada em uma cadeira de madeira arcaica perto da janela… todas as noites até o sol despontar como um olho fumegante e intruso.
Estranhamente, aquele ato de dor lhe trazia uma paz que, gostava de pensar, nunca conhecera sequer no útero.
Um dia pensou em ir além: furou o olho. E a paz se foi.
Tornou-se caolha – e pensou por que não? Então furou o outro olho.
Tornou-se cega. Maravilhosa. Simples. Tranquila era a escuridão.
No dia em que se matou, no escuro, estava feliz.
Vai entender…
2 comentários:
Chocante e ao mesmo tempo Facinante.
Anask Mic
http://entrecronicasepoemas.blogspot.com/
valeu pelo comentário.
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