J.G. BALLARD
Dos diários médico-legais do dr. Richard Greville, vice-consultor psiquiátrico da Polícia Metropolitana. 25 de agosto de 1988.
Contudo, como me fez ver o secretário-permanente no Ministério do Interior hoje de manhã, praticamente nada se sabe sobre os motivos e identidade dos assassinos. - Digo “assassinos”, dr. Greville, mas pode ter sido apenas um. Disseram-me que algum tipo de fanático das artes marciais pode ter agido sozinho. - Sentado abaixo do retrato de seu mais ilustre antecessor, gesticulou de uma forma sombria. - E quanto ao paradeiro das crianças órfãs, desapareceram por alguma janela no tempo e espaço. Não há pedido de resgate, nem mesmo uma simples ameaça de matá-las...
Parecia quase ofendido, e eu comentei:
- Ainda assim, acho que devemos supor que estão vivas.
- Devemos? Para ser honesto, doutor, eu preferia que você não supusesse nada. Por isso o chamei aqui.
Olhou-me sem esperança, já lamentando a decisão. Como sabíamos os dois, o fato de eu haver sido chamado pelo Ministério do Interior, após meu impopular relatório minoritário sobre os assassinatos de Huengerford, era menos um elogio a mim que um comentário sobre o fracasso da polícia, do CID* e dos serviços de inteligência, não chegando sequer a uma pista solitária para as fontes desse horrível crime. Tão perplexo quanto o secretário-permanente, eu só podia pensar em pedir sua permissão para visitar o local dos assassinatos na Pangbourne Village. A luxuosa propriedade continuava lacrada para a imprensa e o público, mas fora pisoteada por um exército de investigadores pés-de-chumbo.
Esperei-o rabiscar um laissez-passer, meus braços carregados com duas pastas do Ministério do Interior cheias de arquivos na certa inúteis. Então me lembrei dos confortáveis assentos da sala de exibição no porão de Whitehall, e pensando melhor perguntei se podia ver o vídeo da polícia gravado em Pangbourne poucas horas depois do crime.
- O vídeo da polícia? Tudo bem, mas é uma coisa bastante sangrenta. Embora, depois de Hungerford, me atreva a dizer que você tem estômago para esse tipo de coisa, doutor…
Irritado com seu tom, quase recusei. Os figurões no Ministério do Interior e na Scotland Yard me encaravam como um perigoso “dissidente”, demasiado inclinado a pensar por si mesmo e capaz de produzir uma embaraçosa descoberta após outra. Mais tarde, olhando em retrospecto ao rever estes diários para publicação, percebo que foi ali, naquela sala de exibição deserta, que tive o primeiro vislumbre das verdadeiras causas do Massacre de Pangbourne. Fui incapaz de reconhecer o que via, e se no curso de minha investigação pareço demasiado lento na identificação dos culpados, só posso alegar que o que agora parece evidente por si mesmo dificilmente parecia na época. O meu não reconhecimento do óbvio, comum a quase todos os demais envolvidos, é uma medida do verdadeiro mistério do Massacre de Pangbourne
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